Valdir Steglich é médico e presidente do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), em Joinville. Formado pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), fez mestrado em saúde e meio ambiente na Univille e especialização em microcirurgia de mão em Miami. Desde 2006 tem uma missão bem diferente da profissão que escolheu: a de presidir da Escola de Teatro Bolshoi no Brasil.

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O líder tem de saber escutar para poder cobrar. Também precisa inovar para progredir e ter consciência de que vai errar ao longo da trajetória. Dirigir e conviver com o Bolshoi deu ao médico Valdir Steglich um ensinamento essencial: ter mais paciência. As pessoas têm de saber aonde o dirigente quer chegar, argumenta ele. Na adolescência, Steglich queria ser jogador de futebol, mas enveredou pela medicina. Nesta entrevista, fala de acertos e erros, destaca a importância do planejamento na vida executiva e valoriza o associativismo como forma de ação conjunta para melhorar a sociedade.

Quais as características que um líder precisa ter, na sua visão?

O líder é aquela pessoa com capacidade de gerir pessoas e conseguir fazer com que outras pessoas atinjam os objetivos traçados. O líder deve delegar o poder para as pessoas cumprirem as metas dos projetos definidos previamente. Isso significa que ele deve ter pessoas de estrita confiança nos cargos. O líder ainda precisa ter vivências, experiência; saber escutar para saber cobrar. Tem de saber que vai errar – e que isso não é o fim do mundo. O líder deve estar apto a receber sugestões dos liderados.

O que aprendeu ao empreender?

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Empreender é um constante aprendizado, e isso me deu a chance de transformar sonhos em realidade. Para isso, planejar adequadamente é muito importante. O empreendedor deve manter o foco, ter ideias inovadoras e aprender a enxergar as oportunidades que aparecem. Igualmente tem de acreditar no que faz. Ao errar, precisa analisar o erro e tomar um rumo diferente para acertar. O empreendedor tem de compreender que precisa inovar para progredir.

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O que diferencia a gestão de uma escola de balé de outro tipo de negócio?

Há diferenças sensíveis. Aqui no Bolshoi temos de lidar com artistas. O artista tem pensamento diferente do habitual. Ele está sempre “fora da caixa”.

Fechar as contas do Bolshoi tem sido tarefa árdua?

Ao longo destes anos todos, temos percorrido muitos gabinetes, pedido auxílio de governantes, empresários, pessoas físicas para ter a receita necessária para fechar as contas. 40% da receita do Bolshoi vêm da Lei Rouanet e 39% de recursos passados pelo governo do Estado. Completaremos 20 anos de atuação em março de 2020, quando vamos assinar novo contrato, de mais cinco anos com a matriz do Bolshoi, da Rússia, para continuarmos o trabalho aqui em Joinville.

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Como é gerir o Bolshoi?

No Bolshoi nos deparamos com questões administrativas e artísticas. Claro que os diretores, os gestores conversam rotineiramente para planejar o que se quer do futuro. Agimos para tirar o máximo do potencial de cada um. O líder não pode ter medo de que os outros saibam mais do que ele.

O que o jovem precisa para se transformar em empresário de sucesso?

Ele tem de se preparar, estudar e aprender a ouvir. Aprender com os erros alheios, ser organizado, ter determinação e conhecimento naquilo que faz ou quer fazer e da área que escolheu para atuar. No Bolshoi temos jovens bailarinos empreendedores.

O que o empresário não deve fazer? O que dá errado?

O empresário não pode deixar de planejar e não pode desconhecer a área na qual trabalha. Deixar de acompanhar as mudanças e as evoluções é problema. Cada vez mais as máquinas estão tomando o lugar de trabalhadores. Por isso, eles têm de se aperfeiçoar e estar prontos para viver novas emoções.

Que oportunidades não se pode desperdiçar?

As oportunidades estão no networking, nas leituras, na participação de congressos, nas viagens, em lugares dos mais diversos. Importante aproveitar as oportunidades para transformar o negócio.

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Olhar para fora…

Sim, saber enxergar além. Ser inovador e ir ao encontro de pessoas competentes. Ninguém faz nada sozinho, mas as pessoas têm de compreender claramente aonde o líder quer chegar.

É possível planejar o sucesso?

O sucesso vem do trabalho. E é consequência de preparação para ele. O nadador norte-americano e ex-campeão mundial Michael Phelps diz: “Quando chega o momento da ação, o momento da preparação acabou”.

Como chegar ao pico?

Claro que o profissional tem de gostar do que faz. E caso tenha se preparado corretamente, chegará ao pico.

Qual seu maior acerto?

O maior acerto foi ter acreditado no meu pai. Ele me dizia: “Vou te dar como herança só o estudo”. Outro acerto foi ter encontrado minha cara-metade, minha mulher, Eoda. E, ainda, ver o sucesso dos meus filhos. Família é alicerce.

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Medicina sempre foi seu sonho?

Eu queria ser jogador de futebol. Meu pai me disse: "Vai estudar. Depois, se quiser ser jogador de futebol, ok. E vai fazer o que quiser". Então, optei por medicina, que trata de pessoas e sentimentos de pessoas.

Como percebe a experiência à frente do Bolshoi?

O Bolshoi é um mundo fascinante. É arte. E a arte é beleza, sentimento. As pessoas e o Bolshoi me deram mais paciência.

Qual seu maior erro?

O maior erro foi ter me tornado lojista. Ainda mais na fase em que eu não estava preparado para a atividade. Em 1998 fui à feira de varejo NRF, em Nova York, nos Estados Unidos. Era o momento em que começava a se falar em e-commerce. Vi o que estava para acontecer no varejo, no futuro, mas não entrei. Tive medo. Disso me arrependo. Me acomodei.

O fracasso ensina?

O fracasso ensina várias coisas. Mostra, por exemplo, a falta de preparo para o momento. Ensina a não se cometer o mesmo erro depois. O fracasso também pode ser uma porta de abertura para o êxito posterior. A experiência como comerciante em shopping me fez ver a necessidade de buscar o aprendizado para fazer a expansão do IOT.

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Quem é seu guru?

Em primeiro lugar, Jesus Cristo. Ensinou a amar as pessoas. Depois, meus pais, meus professores. No campo teórico da administração, é Philip Kotler.

A política influencia nos negócios?

A política caminha junto de todos os segmentos. Claro, há influência do poder público. Os governos devem se preocupar em prover educação, saúde para as pessoas evoluírem. O Estado tem de dar o básico. E não ser paternalista.

O associativismo é importante para o empresário?

O associativismo é importante porque vai unir diferentes opiniões de empresários com visões e pensamentos distintos. Como sabemos, uma andorinha só não faz verão. Quanto mais forte for o associativismo, melhores serão os resultados comuns. É como uma orquestra. Tem o maestro para reger, mas cada músico cumpre seu papel para o conjunto funcionar com harmonia.

O que mudou em seu pensamento e na prática ao longo destes últimos 20 anos?

Há 20 anos eu era mais operacional do que mental. Me reinventei. Fui estudar de novo: fiz mestrado, fiz MBA em gestão empresarial e em gestão em saúde. Leciono na Faculdade de Medicina da Univille. Rejuvenesci. Eu era muito exigente. Agora sou mais tranquilo.

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Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.

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