O entrevistado da semana é o polêmico empresário Luciano Hang. Em 50 minutos de conversa por telefone, ele não fugiu de nenhuma questão e fala com o destemor de quem chegou ao sucesso sendo o seu próprio marqueteiro. Próximo ao presidente Jair Bolsonaro, emite opiniões com desembaraço e contundência. Características que o tornaram uma das maiores celebridades no meio empresarial brasileiro. Argumenta: “quem não confia nos outros não cresce”.

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Nascido em 1962, em Brusque, atuou na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. É formado tecnólogo em processamento de dados. Aos nove anos, quando se deu conta de que a falta de uma cantina na escola não era um problema, mas uma oportunidade, com autorização da diretoria, passou a comprar balas e biscoitos no comércio para revender aos alunos. Em 1986, aos 24 anos, abriu uma pequena loja para vender tecidos.

Da junção dos nomes Hang e Vanderlei (o sócio), surgiria a marca Havan, reconhecida, hoje, como a maior rede de lojas de departamentos do Brasil. Em 1999, já com duas filiais em Curitiba e uma megaloja em Brusque, ingressava no segmento de lojas de departamentos. A partir de 2012, a Havan daria inicio à expansão em novos Estados brasileiros, começando pelo interior de São Paulo. Está presente em 12 Estados.

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Que características deve ter o líder?

O líder tem de ter coragem. Ser transparente, praticar a humildade e ter extrema disciplina. Claro que o líder também deve fazer com que a sua equipe acredite nele.

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Estar à frente é importante?

Você, como líder, tem de ser o primeiro, à frente de todos. Isso é evidente porque ninguém segue quem não dá o exemplo. É preciso conversar, convencer e dar exemplos práticos que arrastem a equipe para o objetivo traçado.

O que o senhor aprendeu ao empreender?

Aprendi que a gente erra muito. O erro nos torna melhores. Não tenho receio de decidir, de fazer.

O senhor adora uma polêmica.

Nunca tive medo de errar. Sim, adoro a polêmica. Falo, leio e vejo o que eu quero. Lembro da passagem bíblica em João 13.7. “Jesus disse: o que eu faço não sabes tu agora; mas tu o saberás depois”. O líder toma decisão solitária e, com o tempo, os outros vão compreendendo seu jeito, seu perfil.

O que é necessário para um jovem se tornar um empresário de sucesso?

O jovem tem de ter uma boa ideia. Passar a ideia para o papel; passar a ideia para mais pessoas para não passar a ideia de que é mentiroso. Uma boa ideia sem execução não vale nada. Muita gente tem medo de tomar decisão ou tem receio de colocar ideias em prática.

Qual foi a sua grande ideia?

A minha grande ideia foi eu ter acreditado em mim mesmo. Muitos não têm autoestima; não têm autoconfiança. Importante é não se deixar influenciar por quem é pessimista. Eu trabalhava em banco. Meu pai era contra quando eu decidi abrir meu primeiro negócio.

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O que um empresário não deve fazer? O que dará errado?

O empresário não pode tentar agradar a todos. O empresário tem de aprender a dizer não. Isso faz parte da conquista do sucesso. Quem quer agradar a todo mundo, fatalmente vai dar errado.

Onde estão as oportunidades que não se deve deixar de aproveitar?

Nenhuma boa ideia deve ser esquecida. E atenção: não siga a manada. O empresário tem de procurar o novo, o diferente, ir lá onde muito poucos vão.

É possível planejar o sucesso?

Tenho dúvidas. O sucesso não acontece por acaso. Os grandes empresários jamais imaginaram que chegariam aonde chegaram. À medida em que se vai subindo degraus, mais aumenta a confiança. A consequência é que se vai subindo mais e novos degraus.

Quais são os próximos degraus que deseja galgar?

Se você me perguntar quantas lojas eu vou ter, a resposta é simples: não sei porque para mim o céu é o limite.

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Qual foi o seu maior acerto?

O maior acerto é acreditar nas pessoas. Sempre deleguei funções na Havan. Aí você pode ser o maestro. É preciso acreditar na equipe; se não você não cresce. Se tiver problema, substitui.

O individualismo é um equívoco…

Conheço gente que não cresce porque não confia em ninguém. A união da equipe dá muito melhor resultado do que se o líder agir sozinho. Eu não sou especialista em nada. Sou generalista cercado de ótimos profissionais em cada área.

Qual foi o seu maior erro?

Eu erro muito. Mas acerto bem mais do que erro. O importante é o saldo, é o resultado. Não me arrependo dos erros. Fico me lamentando por aquilo que eu não fiz. Vou ao meu extremo.

O que lamenta não ter feito?

Quando a crise econômica paralisou a economia, em 2015, tive de conter a expansão da Havan. Agora estamos acelerando novamente. Não fico pensando no passado. Vivo sempre olhando para o futuro; sempre no fio da navalha.

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Hang destaca que a união da equipe dá melhor resultado do que se o líder agir sozinho
Hang destaca que a união da equipe dá melhor resultado do que se o líder agir sozinho (Foto: Anselmo Cunha / Especial)

Quem é o seu guru?

São todas as pessoas que conseguiram construir alguma coisa positiva. Leio biografias, principalmente de pessoas que buscam passar dos limites. Para isso elas têm de se superar continuamente.

Como a política influi na vida empresarial?

O Estado, como agente político, deve interferir menos na vida das pessoas e nas organizações. Deve deixar a pessoa empreender. O Estado deve ser o indutor e não tutelar os cidadãos. Quem dá liberdade ao cidadão é o emprego.

O que mudou em seu pensamento, na sua prática nos últimos 20 anos?

Estou com a cabeça mais aberta. O grande acerto foi eu ter viajado para outros países muito cedo. O sucesso de um país vem de sua cultura, de sua ideologia. E de suas metas. Se você não tiver meta lógica no que faz vai trabalhar a vida toda e não alcançará o sucesso.

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Algum livro inspirador?

Os originais – como os inconformistas mudam o mundo. O autor é Adam Grant. Aprendi que os que dão certo não têm medo do ridículo. Ter ‘cara de pau’ ajuda. Sou assim. Ousado. Quando se estuda muito, e se é simples cumpridor das coisas, apenas se executa as leis. Quem é destemido, fora de série, vai perguntar: por que as leis são assim? E ele vai escrever leis diferentes.

O modelo educacional ajuda a empreender?

Há 50 anos as crianças leem os mesmos livros. Os livros errados. Em Israel, o cara que faliu tem mais conhecimento e é auxiliado a se reerguer. No Brasil, o Estado impede ele de ressurgir. O Estado brasileiro é o pior inimigo do empreendedor.

O senhor é um inovador?

Vivo para transformar as coisas. Em 1993 coloquei a imagem da Casa Branca na fachada das lojas Havan. Quando o presidente Collor assumiu e abriu o mercado para produtos importados, eu fui à Coreia do Sul, à China. E trouxe os negócios a R$ 1,99 para o Brasil. Fui um dos primeiros. Sim, é preciso ser revolucionário. Essa é a palavra.

Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.

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