Se você já observou um sommelier vertendo vinho lentamente para uma peça de vidro escultural, com movimentos quase coreografados, presenciou o ritual da decantação. Mas, afinal, qual a real função do decanter? E será que todo vinho precisa passar por esse processo? Aqui, vamos conhecer a arte de decantar um vinho.
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O decanter tem duas funções principais: separar o vinho do sedimento (comum em tintos mais envelhecidos) e permitir sua oxigenação — ou seja, o contato com o ar. Esse segundo aspecto é especialmente importante em vinhos mais jovens que passaram por barricas, deixando o vinho mais encorpado e necessitando de oxigênio para liberar aromas, volatizar o excesso da madeira e tornar o vinho mais equilibrado e agradável.
A oxigenação também é importante em vinhos envelhecidos, que podem estar “fechados” ao sair da garrafa — com aromas retraídos, taninos agressivos e certa rigidez no paladar. Esta oxigenação (ou aeração) ajuda a “abrir” o vinho, revelando seus aromas e sabores, suavizando sua textura e elevando a experiência da degustação.
Em vinhos antigos, no entanto, o objetivo é também eliminar o sedimento acumulado ao longo dos anos, sem expor demais o vinho ao ar — já que ele pode perder sua delicadeza em minutos. Nesses casos, a decantação deve ser feita com muita suavidade e, idealmente, pouco antes do consumo.
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Quando o decanter é indispensável:
• Em vinhos tintos muito jovens, potentes, com taninos marcados (como um Tannat uruguaio ou um Cabernet Sauvignon chileno).
• Em vinhos tintos envelhecidos, para separar sedimentos.
E quando não usar o decanter:
• Em vinhos espumantes — não é indicado, pois eles perderão grande parte de suas borbulhas, que são sua característica mais importante.
• Em vinhos muito delicados, especialmente brancos e rosés.
• Em rótulos naturais, não filtrados, pois oxidam mais rapidamente.
• Em vinhos envelhecidos que estão próximos do fim de sua vida útil — onde a oxigenação pode “matar” o vinho em minutos.
Existe vida além do decanter?
Sim! Para vinhos mais simples ou no dia a dia, é possível oxigenar com métodos mais práticos. Verter o vinho em uma taça com bojo largo e girá-lo com leveza já ajuda muito. Hoje, existem acessórios práticos — os oxigenadores — que são acoplados ao gargalo da garrafa, simplificando a oxigenação de vinhos que não apresentam resíduos.
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A estética a serviço da experiência
Além da função prática, o decanter também é uma peça de design. Existem modelos minimalistas e outros dignos de esculturas. As curvas, a transparência e a fluidez do vidro acompanham o ritual do vinho e ampliam o prazer visual da degustação. Peças assinadas por designers renomados — como os decanters da Riedel ou da Zalto — mostram como forma e função podem coexistir com beleza, indo além da estética e agregando mais valor à sua experiência sensorial.
Mais do que uma ferramenta, o decanter é um convite à pausa. Ele nos lembra que o vinho, assim como o tempo, precisa de ar para revelar o melhor de si.
Saúde!
Néa Silveira
@neasommeliere









