Há poucos dias, estive em uma degustação de importadores e distribuidores de vinhos portugueses — mais especificamente, de Vinhos Verdes. A cada evento como este, minha admiração por esses vinhos cresce.

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Ainda existe, no Brasil, o estigma de que os Vinhos Verdes são sempre simples e de entrada. Mais uma vez, este evento confirmou que essa região faz, sim, vinhos agradáveis, frescos e fáceis de beber, mas também produz grandes rótulos de vinhos complexos, estruturados, de qualidade superior e surpreendentes — que conquistam cada vez mais o gosto dos brasileiros, fazendo do Brasil, depois de Portugal, o país que mais consome vinhos lusitanos.

Com os Vinhos Verdes ocupando mais espaço nas prateleiras, nas cartas de vinhos e nas mesas, entre as opções preferidas do país, ainda assim seu nome continua gerando dúvidas. Então, vamos esclarecer essas questões e, na próxima taça deste exemplar, saberemos exatamente o que estamos degustando.

Primeiro: o nome Vinho Verde não tem nenhuma relação com a cor da bebida, que pode ser branca, rosé, tinta ou até espumante. Inclusive, no referido evento, degustei um vinho espumante de Alvarinho, no estande da Porto a Porto, que estava maravilhoso.

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O nome provavelmente vem da paisagem natural de colinas e montanhas, com muita vegetação de um verde intenso, que se mantém assim até mesmo no inverno.

Segundo: Vinho Verde é uma Denominação de Origem Controlada (DOC) — ou seja, uma região demarcada no Noroeste de Portugal, que atende a um conjunto de regras e padrões de qualidade estabelecidos para sua produção.

Oficializada em 1908, é a maior região demarcada do país e uma das maiores de toda a Europa, representando 15% da área vitícola portuguesa. Está dividida em nove sub-regiões, cada uma com suas características específicas e castas recomendadas. Todos os vinhos certificados como Vinho Verde levam um selo de garantia da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV).

A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e tintos do tipo tranquilo (sem borbulhas) e de vinhos espumantes (com borbulhas). Os tranquilos devem ter volume alcoólico entre 8,5% e 14%, e os espumantes, entre 10% e 15%.

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Todos os vinhos são elaborados exclusivamente com castas autóctones — ou seja, variedades de uvas que se originaram e se desenvolveram naturalmente em uma determinada região ao longo do tempo, sendo nativas daquele território.

As castas autóctones de uma região são de grande importância por vários motivos. Vamos elencar os principais:

  1. Preservam a diversidade genética e cultural do vinho;
  2. Expressam autenticidade e identidade regional;
  3. Tornam-se um diferencial no mercado global;
  4. São parte do patrimônio histórico da viticultura.

As uvas brancas são as protagonistas na região dos Vinhos Verdes, conhecida mundialmente por produzir vinhos leves, frescos e vibrantes, que expressam muito bem o clima atlântico e os solos graníticos da região.

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O clima fresco e úmido favorece uvas de alta acidez, aromas intensos e frescor vibrante — expressando a essência de um terroir onde a brisa do mar, a acidez marcante e as notas cítricas e florais se encontram em perfeita harmonia, criando as características marcantes dos Vinhos Verdes: alegres, versáteis e leves.

Porém, a região tem assistido ao crescimento dos vinhos de terroir e monovarietais, produzindo rótulos estruturados e complexos, com aromas intensos, sabores profundos, mineralidade expressiva, potencial de guarda e reconhecimento internacional — especialmente da casta Alvarinho.

As principais castas brancas são: Alvarinho, Loureiro, Arinto, Trajadura, Avesso e Azal.
As principais castas tintas são: Vinhão (ou Sousão), Borraçal, Espadeiro e Amaral.

Harmonização

Os Vinhos Verdes são extremamente versáteis à mesa. Seu frescor, acidez viva e leveza fazem deles parceiros perfeitos para uma ampla gama de pratos da gastronomia marítima e leve, como:

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  • saladas frescas com frutas ou queijos brancos;
  • frutos do mar grelhados;
  • peixes delicados, como robalo, linguado e dourado;
  • ceviche e carpaccios de peixe.

Já os brancos de Alvarinho — da região prestigiada de Monção e Melgaço —, mais estruturados, encorpados e minerais, harmonizam com pratos como:

  • bacalhau à Gomes de Sá ou à Brás;
  • polvo à lagareiro;
  • queijos de cabra curados;
  • risotos de frutos do mar;
  • pratos da cozinha asiática levemente picantes.

Os Vinhos Verdes tintos, de cor intensa, taninos firmes e acidez viva, harmonizam com carnes grelhadas, cabrito, leitão assado, queijos curados e embutidos defumados.

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Mais do que uma Denominação de Origem, os Vinhos Verdes representam a alma do Noroeste português. Conquistaram o mundo, firmando-se como expressão moderna de um terroir ancestral — transformando tradição em prazer de celebrar a vida na taça.

Cada gole traz a brisa do mar, a leveza da paisagem e o caráter autêntico do Minho.

Saúde!
Néa Silveira
@neasommeliere