O vinho, sendo uma das bebidas mais antigas do mundo e que continua fazendo parte do nosso cotidiano, é natural que, durante este longo período, tenham surgido muitas teorias que nem sempre correspondem à verdade. O vinho sempre foi uma bebida envolta numa aura de romantismo e mistério; sua complexidade faz surgir muitas teorias a seu respeito. Algumas delas são resultado do imaginário individual e coletivo, e não baseadas em estudos ou observação empírica.

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O fácil e amplo acesso às informações não nos livra de equívocos. Mesmo entre apreciadores experientes, existem dúvidas. Hoje, iremos discorrer sobre alguns desses mitos e conhecer a versão correta dos fatos, evitando que estes mitos se perpetuem. Isto, sem dúvida, irá ajudar a escolher e comprar melhor seus vinhos, com consequente satisfação em degustá-los.

Vamos às crenças mais clássicas:

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  • Vinho quanto mais velho melhor: Quase a totalidade dos vinhos produzidos no mundo possui estrutura e características que os mantêm sãos durante o período máximo de 3 a 7 anos, quando bem armazenados. Após este tempo, o risco de estar oxidado é quase 100%. Isto porque o vilão, no caso dos vinhos, não é o tempo, mas o oxigênio, que, em contato com algumas substâncias do vinho, inicia uma série de reações químicas que levam à sua oxidação. Menos de 5% dos vinhos produzidos possuem potencial de guarda, isto é, que melhoram com o tempo de garrafa. Somente alguns podem crescer, isto é, ganhar complexidade por 20, 30, 40 ou mais anos, desde que armazenados corretamente, é claro. Os vinhos que melhoram com o tempo são poucos, raros e caros. Para saber qual o melhor período para ser consumido, consulte a ficha técnica ou um profissional da área.
  • Garrafas pesadas e de fundo profundo sempre carregam bons vinhos: É fácil se deixar impressionar com uma bela estrutura de vidro, e, quando carrega vinho, então, fica mais fácil ainda. Geralmente, vinhos com longo potencial de guarda possuem este estilo de garrafa porque permanecerão por longo período em adegas envelhecendo e precisam ser mais resistentes ao manejo e movimentação dessa garrafa, o que pode significar muitos anos. Dentro da hierarquia no portfólio das vinícolas, geralmente os exemplares mais nobres desse produtor são envasados em garrafas mais pomposas. Mas este fato, por si só, não é garantia da qualidade do vinho.
  • Vinhos mais caros são sempre os melhores: Na maioria dos casos, os vinhos com custo mais elevado possuem nível de qualidade superior. Porém, vimos com certa frequência garrafas com preços acessíveis que aparecem nas listas de melhores do ano. Não podemos esquecer que o valor do vinho é influenciado por fatores como produtor, origem, safra, modo de elaboração e também marketing. Vinícolas renomadas, com uma longa história de produção de vinhos de alta qualidade, costumam cobrar mais caro pelos seus vinhos. O segredo é procurar países que ofereçam bom custo-benefício em seus rótulos, escolhendo produtores respeitados no mercado, sempre observando quais castas apresentam melhor resultado naquelas regiões. Nunca esquecendo das preferências pessoais e o momento em que será degustado, com que gastronomia. Por isso, definir a compra pelo maior preço nem sempre é garantia de satisfação.

  • Espumantes e champagnes são sinônimos: A clássica frase “Todo Champagne é um espumante, mas nem todo espumante é Champagne” explica esta dúvida de muitas pessoas. Para muitos, o vinho que possui perlage (bolhas) é champanhe! Mas não é assim. A região do Champagne, localizada a nordeste da França, a leste de Paris, é famosa pela produção do vinho espumante Champagne. Portanto, é uma denominação de origem, uma região demarcada, com uvas autorizadas e regularizadas para produção deste vinho. De onde afirmamos que: só pode ser chamado de Champagne o vinho espumante produzido ali e somente ali. Mas por que os champagnes são tão caros e associados ao luxo e glamour? Primeiro, porque a região possui um terroir único e excepcional, onde as características do solo, insolação, vento, temperatura, amplitude térmica e muitos outros fatores positivos conspiram a favor. Mas também por possuir muitas e rígidas regras para produção, o que limita a produção em vários aspectos, mas garante a qualidade do vinho; além de ser o metro quadrado de vinhedos mais caro do mundo. Será que o fato de ter sido, durante muitos séculos, a bebida somente da realeza, quando ainda em 498 d.C. os reis eram coroados em Reims, capital da região de Champagne, e bebiam nas cerimônias de coroação os vinhos feitos localmente? Já à época chamados de “vinho real”. Mas foi o rei sol, Luiz XIV, que deu o toque real ao pedir champagne para o Palácio de Versalhes e torná-lo sua bebida favorita, que literalmente reinava nos belíssimos salões espelhados em meio ao glamour das infindáveis anababescas festas reais.

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Continuamos esta matéria na próxima edição, com muitas curiosidades!

Saúde!

Néa Silveira
@neasommeliere