Como este assunto é polêmico e muitas crenças se baseiam em conhecimento superficial sobre o assunto, tornando-se terreno fértil para confusão, nada melhor que o conhecimento para nos resguardar dos mitos e nos qualificar, assegurando que nossa experiência vínica seja a melhor possível. Dando continuidade aos mitos para evitar que erros não se perpetuem, vamos conhecer as versões corretas dos fatos, contribuindo para comprarmos bem, harmonizarmos de acordo com os diferentes tipos de vinhos e alimentos, assegurando satisfação e prazer em reuniões de amigos, familiares, grupo de trabalho, ou mesmo aquela tão bem-vinda e merecida taça de vinho ao final de um dia de trabalho.

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Continuação da matéria anterior de 11 de abril…

5 – Vinhos bons têm rolha de cortiça

A resposta é absolutamente não. Apesar de muitas pessoas ainda terem preconceito com os fechamentos screw cap (tampa de rosca), ele é comparável nos mesmos termos de qualidade que a rolha de cortiça, que muitos ainda acreditam ser a melhor forma de fechar vinhos. O screw cap é muito comum em vinhos do novo mundo, produzido em alumínio e revestido com polietileno, para evitar o contato do metal com o vinho. Apesar de não ser hermeticamente lacrado, o screw cap veda mais a entrada de ar na garrafa que as rolhas de cortiça, o que contribui para a preservação dos aromas e dos sabores dos vinhos. Além de serem menos caras que as rolhas de cortiça, são extremamente práticas, pois facilitam a abertura da garrafa, dispensando os saca-rolhas. Além de não deixar o vinho bouchonné, contaminação que deixa o vinho com cheiro muito desagradável de mofo, inviabilizando seu consumo. Usada pela primeira vez na França em 1951, porém ganhou destaque nos anos 2000, quando produtores da Nova Zelândia e Austrália aderiram a este fechamento para quase a totalidade de seus vinhos.

6 – Vinho Verde é Verde

Vinho produzido nas margens do Rio Minho, nordeste de Portugal, que produz o vinho que tecnicamente é classificado como branco, porém mais conhecido como vinho verde. Esta designação foi adotada pelo mercado português porque muitos dos seus vinhos, embora sejam brancos, apresentam cores que variam do cítrico aos tons de palha, muitos deles com reflexos esverdeados em algumas variedades de uvas. Extremamente importante para a cultura portuguesa, em 1908 esta área ficou conhecida como Região Demarcada dos Vinhos Verdes; embora a maioria dos vinhos produzidos na região do Minho sejam brancos, também produzem Rosé, Tintos e também espumantes. Portanto, esta nomenclatura está ligada ao local onde ele é produzido e não à sua cor. Outra característica desta região, que já foi chamada de “os jardins de Portugal” pela sua natureza ímpar, embora situada na região mediterrânea, possui a influência marítima do Atlântico que deixa o clima ameno e sua vegetação exuberante e verdejante, que somados aos solos de origem granítica, aportam leveza, frescor e elegância, frutados e florais, além da deliciosa acidez, que é a principal característica dos vinhos ali produzidos.

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7 – Só vinho tinto tem tanino

Não, isto não é verdade! Os brancos e rosés também contêm taninos, embora a quantidade e a percepção variem nos estilos de vinhos. Os vinhos tintos são conhecidos por terem maior quantidade de taninos devido ao processo de fermentação que ocorre em contato com as cascas, sementes e alguns também com o engaço da uva, onde se encontra a maior quantidade de taninos, que resulta na extração de grande quantidade desses compostos. Como os vinhos brancos são fermentados somente com o mosto (suco da uva) sem as cascas, apresentam a sensação de adstringência menor que os vinhos tintos. Porém, existem taninos também no mosto das uvas, mesmo que em menor quantidade. Os vinhos brancos que passarem pelo processo de fermentação e/ou envelhecimento em barricas de carvalho agregam taninos, ganham mais corpo, adstringência e complexidade de aromas e sabores. Também não podemos esquecer que determinadas castas possuem diferentes níveis de taninos, o que certamente vai influenciar nas características do vinho produzido. Também o tempo de maceração (contato das cascas com o mosto) e o tipo de madeira utilizada na fermentação ou envelhecimento do vinho também terão influência no resultado.

Já os vinhos rosés, que passam pouco tempo em contato com as cascas na etapa de maceração, irão apresentar uma quantidade de taninos que se encontram entre o branco e o tinto. O que vai determinar o tempo em contato com as cascas é o enólogo, que define qual perfil de vinho deseja, deixando mais ou menos tempo na etapa de maceração.

Estes foram alguns dos mitos dos vinhos. Temos muitos outros, porém precisaríamos escrever um livro para falar de todas as crenças em torno desta bebida única, encantadora, que amplia nosso paladar e nos permite entrar em um mundo único, rico em cores, aromas e sabores.

Saúde!

Néa Silveira
@neasommeliere