Esta semana tive o privilégio de ser convidada por Alonso José Torres – Presidente da Expogestão 2025 para um almoço com a renomada Enóloga e Empresária Suzana Balbo, evento que ela esteve presente como Palestrante Internacional.
Esta mulher incrível, sempre foi fonte de de inspiração pessoal e profissional para mim.
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Susana iniciou sua carreira na vitivinicultura e, de forma singular, ficou conhecida como a “Reina del Torrontés”. Com mais de 40 anos de experiência, foi — e continua sendo — uma figura-chave no posicionamento dos vinhos argentinos no mundo.
Porém, toda a trajetória e o sucesso mais que merecido que alcançou são resultado de fracassos, falências e dificuldades. Uma sucessão de contratempos que se iniciou quando, ao terminar o curso de Enologia em 1970 com medalha de ouro, tornou-se a primeira enóloga da Argentina. Ainda assim, não era aceita na profissão — não por falta de talento ou conhecimento, que tinha de sobra —, mas pelo fato de ser mulher, em um ambiente machista e conservador. Não conseguia trabalho nas vinícolas de Mendoza.
Mudou-se para Salta, região à época desconhecida no mundo do vinho e berço da uva Torrontés, que, além de desconhecida, era considerada uma casta menos nobre. Lá, foi contratada para administrar a vinícola Succession Michel, em Cafayate. Tendo seu primeiro desafio profissional lançado, dedicou-se a elaborar um Torrontés de qualidade e elegância — que foi um sucesso. Tanto que, ainda hoje, é conhecida como a Rainha do Torrontés, devido à qualidade dos vinhos elaborados com essa uva, vistos como referência no setor vitivinícola.
Após nove anos em Salta, retornou a Mendoza, sua cidade natal, porque seu marido, funcionário de uma vinícola, não recebia salários há mais de um ano. Lá, com sua família, imaginou estar amparada na casa dos pais. Porém, seus pais não compreendiam a depressão — doença que seu marido sofria. Era a década de 1980, e a doença, que hoje é mais compreendida, naquela época era cercada de estigmas. Assim, Susana teve que deixar de trabalhar para os pais e se afastar também de sua família de origem. Nesse período, trabalhou para vinícolas conceituadas, como Martins e Catena Zapata, além de prestar consultorias em vinícolas na Argentina e em outros países.
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Em 1990, o casal abriu sua própria vinícola. Venderam todos os seus bens, compraram uma antiga vinícola e a colocaram em funcionamento com equipamentos modernos usados na Europa — ainda não conhecidos no Novo Mundo —, mas que Susana havia conhecido em visitas prospectando a exportação de vinhos. No entanto, o destino já havia escrito que ainda não seria dessa vez. Uma compra enorme de 25 mil caixas de vinho, feita por golpistas, não foi paga à vinícola. O seguro também não cobriu, pois fazia parte do mesmo golpe. Esse fato obrigou o casal a vender a vinícola para pagar as dívidas de produção desses vinhos.
Engana-se quem pensa que sua luta termina aí. Nessa mesma época, seu marido faleceu. Com essa morte prematura, a mãe de dois filhos — de 2 e 4 anos — lutava diariamente para colocar comida na mesa, em um período de hiperinflação na Argentina, que se repetia de tempos em tempos. Nesse redemoinho, não teve tempo nem para lidar com a dor da perda, pois precisava pensar na educação e no futuro de seus filhos. Então, passou a trabalhar para outras vinícolas, prestando consultoria — fato que começou a mudar sua vida novamente. Esse trabalho trouxe contato frequente com outros países, o que a estimulou a investir no mercado de exportação de vinhos. Em 1999, ela inaugurou sua empresa no coração de Luján de Cuyo, em Mendoza, que hoje é chamada Susana Balbo Wines. Ela lembra que, desde sua inauguração, há mais de 23 anos, teve apenas uma fatura não paga. Susana conseguiu conquistar seu espaço aos poucos, por anos, para construir um negócio incrivelmente bem-sucedido, focado sempre na qualidade.
Ela afirma que segurança foi a principal razão pela qual decidiu dar outra chance a uma vinícola própria. Em seus desejos, desde que tivesse clientes confiáveis em países estáveis, poderia construir um futuro melhor para seus filhos e netos. Também queria recuperar a liberdade de investir recursos para fazer um vinho de qualidade e de correr riscos, pois é assim que “se consegue algo especial” em um vinho, diz ela.
Em 2006, tornou-se a primeira mulher presidente da Wines of Argentina, cumprindo três mandatos até 2016 — período em que colocou os vinhos da Argentina no cenário mundial. Susana também atuou como deputada nacional de 2015 a 2018, cargo do qual pediu para sair por estar decepcionada com a classe política. Declarou: “Políticos são uma corporação que só pensa em si e não no cidadão.” Em outubro de 2024, foi premiada com o “Decanter Hall of Fame 2024” — o prêmio internacional mais significativo da indústria do vinho —, selecionado pela revista inglesa especializada Decanter. Em 2018, foi presidente do W20, um dos grupos de engajamento do G20, composto por mulheres de várias áreas de atuação.
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Apesar dos desafios, a vinícola Susana Balbo não para de crescer e expandir. Entre vinhedos próprios e novos projetos, somam-se quase 100 hectares distribuídos entre Gualtallary, Agrelo e San Pablo — todas regiões vinícolas argentinas.
Hoje, os filhos de Susana se juntaram ao negócio da família: José tornou-se enólogo e fundador da Vaglio Wines — projeto focado em vinhos que expressam o terroir diversificado de Mendoza —, e Ana é gerente de marketing e fundadora do restaurante na propriedade Susana Balbo Wines, o Ousadia de Crear, recomendado pelo guia Michelin. E Susana? Pela sua ousadia, criatividade, capacidade e inquietude, logo nos brindará com mais alguma criação espetacular!
Saúde!
Néa Silveira
@neasommeliere











