Há muito tempo, a relação entre vinho e saúde é tema de estudos médicos e científicos. E o que sabemos a respeito é que, quando ingerido com moderação, aliás, como quase tudo na vida, o vinho pode, sim, ser aliado de uma vida saudável e feliz.

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Porém, nos últimos poucos anos, alguns profissionais da área da saúde, e outros que nem são, fazem uma campanha extremamente radical, quando afirmam que qualquer quantidade de álcool é nociva para a saúde. Porém, no caso do vinho, isto não é verdadeiro, e mais uma vez a palavra-chave é moderação.

O vinho tem uma história milenar e vem desempenhando um papel importante no desenvolvimento da humanidade. Por muitos séculos, além de trazer prazer ao seu consumidor, também teve duas funções adicionais: servir como alimento e remédio, sendo usado em diversos tratamentos; curou doenças, cicatrizou feridas e salvou vidas em civilizações antigas como a Mesopotâmia, Egito e Síria. Além disso, as pessoas que bebiam vinho tinham uma expectativa de vida maior que quem bebia somente água.

Até o século XIX, o vinho ainda era a base da dieta alimentar de uma parcela relevante da população, usado como alimento funcional, como parte integrante da dieta do dia a dia. Isto porque o processo de fermentação na produção faz o valor nutricional da uva aumentar, transformando o vinho em uma importante fonte de açúcares e outros compostos, como o resveratrol, que atua como antioxidante, protegendo a saúde principalmente das camadas menos favorecidas da sociedade. Ainda hoje, em muitos países da Europa, o vinho é classificado como alimento e não bebida alcoólica. Se, para nós brasileiros, que temos história recente, o conceito do vinho como alimento pode parecer estranho, no passado o vinho era um dos segredos por trás da capacidade das pessoas suportarem as dificuldades do trabalho físico pesado.

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Embora seu papel como alimento tenha sido minimizado, ainda existe muita discussão sobre seu papel como remédio. Se existe um lado fazendo muita pressão para colocar o álcool como vilão da saúde, não fazendo distinção entre as bebidas fermentadas e destiladas, o que pessoalmente percebo como um grande erro, pois o resultado não só é muito diferente no grau alcoólico, como na sua composição química e biológica. Por outro lado, estudos já consagrados, de profissionais que são referência na saúde, apontam os principais benefícios do consumo moderado de vinho, como propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, cardioprotetoras e neuroprotetoras, como:

  • Proteção das artérias
  • Redução da pressão arterial
  • Redução do colesterol ruim (LDL)
  • Aumento do colesterol bom (HDL)
  • Redução do risco de tromboses e derrames
  • Redução do risco de AVC
  • Proteção cardiovascular contra infarto
  • Longevidade e envelhecimento saudável
  • Saúde mental e cognitiva

Integrado à dieta equilibrada, o vinho pode oferecer nutrientes além do prazer sensorial.

Argumentos esvaziados de alguns poucos profissionais de que quem consome vinho corre o risco de desenvolver transtorno por uso de álcool, não tendo controle sobre a bebida. Posso afirmar, como psicóloga atuante por 25 anos, que pessoas que têm grandes níveis de neuroticismo (uma das dimensões da personalidade) tendem a ser estimuladas emocionalmente com facilidade, sendo mais propensas a desenvolver comportamentos excessivos (vícios). Podendo incluir excessos alimentares, jogos, redes sociais, dependência química, etc. Mas isto é assunto para muitas páginas de conteúdo e não é este o nosso foco. Mas vamos combinar que afirmar que o vinho pode ser uma porta para o alcoolismo é uma tarefa difícil de sustentar. Primeiro porque o vinho é uma bebida de baixo teor alcoólico (entre 11 a 14ºC) quando comparado a outros destilados, como as brasileiras: aguardente de cana, que possui teor alcoólico de 38 a 54ºC, e a cachaça, de 38 a 48ºC. O gin, destilado de cereais, possui de 37 a 50ºC de álcool. Já a vodka, destilado do arroz, costuma variar entre 35 a 50ºC. Porém, há marcas que ultrapassam bastante estes números, como Spirytus 96 (96ºC), a búlgara Balkan (88ºC) e também a Devils Springs 151 (75,5ºC).

Então, o vinho está longe de ser a primeira escolha para quem busca substâncias que permitam mascarar ou esquecer a realidade, ou mesmo buscar alívio para as dores do corpo e da alma. Desde bebidas mais alcoólicas até substâncias naturais ou sintéticas, sejam elas legais ou não, não faltam alternativas “mais eficientes” que o vinho como anestésico existencial. Portanto, desde que o vinho seja consumido moderadamente, pode ser uma fonte de prazer, seja pelos efeitos benéficos em nosso cérebro e corpo; tendo uma posição de destaque para quem aprendeu a conhecê-lo e desfrutá-lo. E não por acaso o vinho é comumente associado a atividades festivas, sociais e familiares. Por isso, momentos marcantes de nossa vida são comemorados com uma taça de vinho; desde a antiguidade sendo um companheiro para o prazer e meditação. Equilíbrio no consumo de vinho, como tudo na vida, é a palavra-chave!

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Saúde!

Néa Silveira
@neasommeliere