Em vida, Ernesto Meyer Filho costumava dar entrevistas relatando sua visita ao planeta Marte. Agora que as sondas tornaram a visita de robôs terrestres um hábito, não será difícil imaginar as reações do Galo Meyer, escrevendo de Marte, depois de testemunhar – por trás de um imaginário bambuzal – a chegada de uma nova sonda enviada da Terra.

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– Parece que os terráqueos estão chegando… Se a brasileirada chegar, isso aqui vai virar uma bagunça! Em seis meses vão fundar aqui um “Hotel-Resort” de luxo, só para os ladrões do erário!

O grande pintor catarinense, mestre do surreal, o maior dos nossos autodidatas, viajava em vida para pintar seus galos cósmicos. Quando pendurou uma “Lua Vermelha” no ambiente dos seus galos siderais, poucos entenderam. Não era uma Lua. Era Marte.

O “Picasso Sul-americano”, como ele mesmo se autodenominava, precisava dar asas à imaginação para se livrar de uma tortura profissional. Imaginem um caixa de banco sentindo o apelo da arte, a vontade de criar em plena hora do expediente. A “saída” era viajar…

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Quem entrasse no Bar Topázio, “baixo” Bocaiúva, às margens do Campo da Liga, ou do nunca assaz lembrado Pasto do Bode, haveria de encontrar um avaiano apaixonado, óculos de grau, jeitão de professor Pardal, voz estridente, mãos marcadas pelo vitiligo e um cacoete oral que consistia em pontuar suas frases com um metálico e exclamativo “nééé, ô!” – como se fosse a interjeição de uma araponga. Livre das agruras da vida terrena, Galo Meyer teme a chegada do homem ao seu planeta de adoção.

– Já imaginaram se a turma de Brasília resolve manter um “Anexo” aqui em Marte, só pra faturar mais um “auxílio-viagem”, uma “bolsa-cósmica”?

Meyer mandou até um avigrama, Via Láctea:

– Não tenho saudades do Planeta Terra. Humanos, só em breve visita. Desde que não sejam políticos, é claro – “nééé, ôôô?”