Antes de abençoar o sétimo dia como santificado, o Arquiteto fez uma horinha extra e criou duas sucursais do Paraíso: o Rio de Janeiro e a Ilha de Santa Catarina.

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Como onipotente e onisciente, certamente podia prever que a primeira das duas maravilhas sucumbiria aos apelos de Lúcifer e acabaria transformada numa filial do Inferno. Para salvar a segunda, o Senhor gostaria de assistir pelo menos a um mínimo de boa vontade por parte dos fiéis que sobre ela têm responsabilidade pública. Será que os ilhéus não estão percebendo que, aos poucos, os morros da Ilha vão se tornando impérios do crime dito “organizado”, territórios inexpugnáveis, onde não chega a lei, a saúde ou a educação?

Segue, pela inércia das administrações, o processo de caotização da Ilha, a ação predatória do homem aviltando o que Deus bordou com tanto capricho. O sul da Ilha passa por irremediável desordem na ocupação do solo, desdita que os teocratas do verde pretendiam evitar. E o norte da Ilha não tem melhor sorte, com suas favelas horizontais e o tráfico de drogas. Onde a lei não chega e não disciplina sequer a ocupação do solo – controlará mais o quê?

No seu período de governo, assinalado pela inovação de um “Plano de Metas”, o governador Celso Ramos cunhou a frase que cada novo mandatário encontra nos umbrais da administração:

– A Ilha, que hospeda o governo é credora de um “aluguel”, em obras que melhorem a sua vida e beneficiem a sua gente.

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O governador Colombo Salles, por exemplo, calafetou esse passivo com a devoção de quem sabia retribuir a hospitalidade. Ergueu pontes e estradas. Os seus sucessores ficaram com o débito aberto nas veias da Ilha – e por esse torpor sangrou o caos urbano para o qual ela caminha, em matéria de ocupação do solo e, principalmente, segurança pública.

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O novo governador tem crédito e um mandato novinho para pagar o “aluguel” de ser “sede do governo”. Os últimos pouco ou nada fizeram pela Ilha-Capital, em benefício da Saúde, da Educação ou da Segurança. Muito menos pela mobilidade urbana: não concluíram a restauração da ponte Hercílio Luz e deixaram apenas uma maquete, da quarta ponte. Verdade que o novo mandatário herda um delicado desafio fiscal: manter o equilíbrio entre receita e despesa. Neste começo de administração, conseguirá, no máximo, manter em dia o pagamento da folha.