Durante meio século os políticos no exercício do poder ignoraram o Estado paralelo dependurado nas favelas ou instalado nos cárceres. Nas assembleias de 16 Estados o país descobre, de repente, um “falso banco” em vergonhosa operação: funcionários transferindo salários para os seus empregadores, valendo-se de um prodigioso “laranjal”…

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Ou seja: o crime organizado pelas próprias excelências, operando abertamente, dentro do mais representativo dos poderes do Estado.

Para suprema vergonha do resto do país, transformaram as favelas em “atrações turísticas”, com visitas guiadas aos morros cariocas, “negociando” a devida permissão com os traficantes, os verdadeiros senhores daqueles domínios.

Há anos correu o mundo um videoclipe do popstar Michael Jackson, dançando sob a guarda discreta dos narcotraficantes. Governos e bandidos compartilharam a “pax” criminosa – e todos esperavam viver felizes para sempre.

O resultado foi a ausência do Estado em “territórios ocupados pelo tráfico” em quase todas as cidades brasileiras, aí incluídas as grandes e as de porte médio.

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Hoje, diante do dantesco ataque de bandidos do Ceará a um dos seus Estados falidos, o Brasil reza para não se transformar num México, onde os cartéis da droga administram o “terror”, distribuindo cabeças cortadas pelas ruas e praças públicas.

Presos em penitenciárias de “segurança máxima”, bandidos dirigem seu negócio intramuros e comandam rebeliões por conta da “insatisfação” dos chefões, confinados em celas monitoradas. Onde, apesar de um regime mais rigoroso, desfrutam de audiências invioláveis com advogados e regalam-se com as “visitas-íntimas” de suas mulheres.

Que “segurança-máxima” é esta, que permite a bandidos uma privacidade só merecida por cidadãos ilibados no pleno gozo de seus direitos civis?

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Enquanto não repensar a legislação absurdamente leniente com o crime, as cidades brasileiras estarão a mercê dos banditismos de vários matizes, a começar por aqueles infiltrados nas hostes dos próprios poderes do Estado.

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Massacrados pelos cobradores de impostos, escravizados por poderes perdulários – especialmente o Legislativo e o Judiciário, que gastam o que o país não tem – sapateados por bancos praticantes da agiotagem oficial, o que restará aos indefesos cidadãos deste pesadelo em forma de República aspirante a uma democracia saudável e honesta?