No final de 2017 eu encontrei uma versão muito especial de mim mesma. O verão estava chegando, eu estava de bem com minha rotina de saúde, trabalho, amizades — e certamente vivi o momento de maior carinho e autocuidado comigo. Finalmente a prioridade era me sentir bem, e colocar minhas necessidades mais profundas em primeiro lugar.

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Decididíssima a fazer daquele o verão mais eternizado de todos, convoquei três amigas para passarem uma semana da estação aqui em casa. Duas dormiriam no sofá e outra dividiria a cama comigo — como aconteceu. Nosso combinado era praia cedo, cozinhar em casa, fazer supermercado e ir ao shopping, e conhecer gente, despretensiosamente. Namorar eu não ia, com certeza. Fiz esse convite em novembro, agendamos nosso encontro de amigas para início de janeiro e os dias estavam em contagem regressiva.

Meu apartamento, originalmente, tem a planta de dois quartos. Acabei transformando em um studio de um quarto só, com os outros espaços um pouco maiores. Quando investi nessa compra, lá em 2013, imaginava claramente minha vida ao lado de alguém, num apê todo planejado para um casal feliz, coisa e tal.

Nesse meio tempo, entre 2013 e o "Verão 2018 forever", eu acabei namorando, alugando o apê e o deixei com coisas por terminar — especialmente os móveis soltos e detalhes de decoração e enxoval. Quando o namoro acabou, voltei para o apartamento, tão vazio como quanto eu me sentia e fiz comigo uma promessa: absolutamente tudo o que entrasse naquele espaço seria perfeito, 100% ou nada feito.

Digo isso com relação aos móveis, aos evento e as pessoas também. Demorei literais meses até definir até pelos talheres, copos, cadeiras e o sofá, então — esses eu não conseguia definir. Eu estava decidida a viver cada etapa de um processo de luto — especialmente da morte do meu irmão, anos depois, e perceber os aprendizados tão profundos que só a morte ensina.

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Percebi que, antes de escolher com clareza o que a gente quer para o futuro, as escolhas do presente tem que estar em sintonia com a nossa soma de necessidades e a pressa, certamente, é a inimiga — como a gente sabe — da perfeição. Eu também não tinha mais pressa, e me encontrava na melhor companhia "de mim mesma": colocava o som de manhã, ia para academia, dançava Bruno Mars, fazia minha oração, arrumava meu cabelo, trabalhava — não nessa ordem, e eu realmente estava bem feliz.

Eu estava decidida a viver cada etapa de um processo de luto — especialmente da morte do meu irmão, anos depois, e perceber os aprendizados tão profundos que só a morte ensina.

Numa tarde iluminada — entre setembro e outubro — fui até uma dessas lojas de decoração e móveis e encontrei o que eu tanto procurava: o sofá, as cores que eu usaria — rosa claro, cinza e cobre — utensílios e parece que, tudo que eu gostaria de encontrar em meses, como um brinde e um parabéns à minha paciência, estavam lá: 100% perfeitos!Já a caminho do caixa, passei pela área de toalhas, e tive a ideia de comprar um presente para o meu futuro, como uma cápsula do tempo sem data para ser aberta. Tem quem compre o chaveiro para a chave da casa própria, antes de ter o primeiro tijolo e eu sempre curti essa energia.

Estava na promoção, um roupão cinza e um rosa claro! Daí pensei: vou comprar os dois, deixar em uma caixa de presente, e no dia em que o homem da minha vida chegar, eu vou contar a história desse dia, e dizer que é com ele que eu quero ficar, e que o roupão, assim como a minha vida, pertence — mega romanticamente — a ele. Esse era o meu chaveiro.

Naquele verão, em dezembro ainda — e antes das gurias chegarem, eu conheci o Ricardo de um outro jeito — ele que já era parceiro de corrida, cliente da empresa há quase dois anos e alguém que eu sempre considerei uma pessoa boa demais, apareceu dentro de mim, sem que eu notasse, como alguém para ter para sempre. Mas, cercada pela ideia da solteirice convicta, fui me vendo sequestrada pelo sentimento de dar aquela chance para a felicidade — agora em dupla. Quando o perfeito chega, como negar?!

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Saímos juntos no início de dezembro, e decidimos por comemorar o Natal no dia 22, antes de ele ir para a cidade da família. Combinamos um presente simbólico com sentido profundo e, não vinha na minha cabeça nada além do roupão. No dia do nosso Natal, na hora da troca de presentes, fui até o armário, onde descansava intacta a caixa prata com laço cinza e rosa e a levei até a mesa. Empurrando com o dedo indicador a caixa na direção dele, ele não imaginava o que vinha, desfez o laço, abriu a caixa e viu o que tinha dentro. Colocou a mão na boca, emocionado… e cá estamos, eternizados e já pais do João Ricardo.

Mas, cercada pela ideia da solteirice convicta, fui me vendo sequestrada pelo sentimento de dar aquela chance para a felicidade — agora em dupla. Quando o perfeito chega, como negar?!

Eu tive muito medo da felicidade, pensando que viver a esperança e a prática de uma vida harmoniosa era ilusão. Às vezes estamos iludidos no inverso, investindo em escolhas que nos fazem pensar que a vida merece menos do que o 100%, em cada detalhe. Agora, toda vez que posso, ouso a compra de um novo chaveiro, sonhando grande, e com paciência, celebrando já a vida que a gente pode ter. Na hora em que o imperfeito tentar ser a nossa opção, se munidos do sonho, vai ser mais fácil manter a firmeza. Quando a gente acordar, estará do nosso lado quem veste perfeito, no tamanho certo o roupão da nossa caixa, em qualquer área da vida.

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