Estou estudando faz algum tempo o conceito da aprendizagem ao longo da vida e amei um vídeo do professor Huntington D. Lambert – ex-reitor da divisão de educação continuada de Harvard. O vídeo é uma provocação sobre como será o nosso currículo quando completarmos 60 anos. A gente pode se formar em tudo, desenvolver diversas habilidades comportamentais, mas o principal quesito serão sempre as credenciais e a nossa história em nossas relações, conforme o professor. Concordo tanto.
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O Ricardo sempre tem frases que me marcam e vive ele dizendo que não há nada de maior valor na vida do que poder colocar a cabeça no travesseiro a noite e saber que a nossa vida manifestou o bem, procurou aprender e fazer a coisa certa. Minha missão é expandir minha consciência e procurar garantir que minhas ações sejam, cada vez mais, munidas de um senso bem apurado de cosmoética.
Eu estava no segundo ano da empresa quando uma participante do curso compartilhou com o grupo uma meta que eu considerei bem desonesta. Ela tinha o plano de "usar" a empresa onde trabalhava para sustentar ideias que ela tinha para o futuro, dela. Lembro de ter ficado mexida por conhecer o plano, mas de não ter certeza se deveria manifestar meu sentimento: se eu falar o que penso, será que ela vai embora?! Naquela hora eu estava de frente para uma expansão expressiva da minha forma de construir minhas credenciais, e de escolher com que pessoas e metas desejo manter meu vínculo. Eventualmente, se oferecemos reflexão e o outro rejeita, talvez seja melhor que não fique.
Minha missão é expandir minha consciência e procurar garantir que minhas ações sejam, cada vez mais, munidas de um senso bem apurado de cosmoética.
Tenho um macacão muito lindo já faz quase 10 anos. Lembro bem quando comprei e das milhares de vezes que ele foi útil. Ele sempre foi bem certinho na cintura, com barbatanas construindo um corpete bem elegante até o colo. Eu tenho boas e poucas coisas e costumo ter, por anos, as mesmas coisas – até que um novo ciclo se faz necessário. Meu macacão, mesmo fazendo idade, não iria para o cesto de desapegos desta vez. É preto e estava desbotado, mas vale muito para mim. Levei até uma lavanderia e lá eu soube que, se eu colocasse para a tinturaria, ele poderia encolher. Achei interessante a proposição e o risco – ficaria mais justinho, gostei! E, contratei o serviço.
Duas semanas mais tarde recebo em casa um saco plástico bem amassado, com uma peça de roupa completamente enrolada, e sem nenhuma chance de uso. As barbatanas estavam "derretidas", e o macacão ficou sem forma, e sem chance. Encolher foi a nova palavra para inutilizar. Liguei para a lavanderia querendo compreender e a atendente disse que avisou, que o serviço de tinturaria é terceirizado e que danos são comuns – "é sempre assim" , e que a culpa era minha por ter aceitado fazer o serviço. Não ofereceu solução, nem costureira, não disse que sentia muito, não sugeriu devolver o dinheiro – não era como se ela tivesse perdido um macacão que ela gostava. E para mim, esse sempre será a questão que aponta para nosso nível de consciência.
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Não é porque o outro quer comprar que tenho que vender. Se percebo que não é um caminho não devo ofertá-lo. Saber dizer não, respeitando determinados princípios universais é uma rara e poderosa credencial, que mantém abertas portas de relacionamentos e noites de sono tranquilo, além de construir um currículo admirável, em qualquer idade.
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