A cidade de Canoinhas, no Planalto Norte catarinense, tem um histórico de pelo menos dois tornados que figuram entre os mais letais da história do Brasil. Um dos episódios, ocorrido em 1959, foi citado como o episódio mais letal do país pelo especialista em tornados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ernani Lima, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. Segundo ele, o caso ocorreu junto com tornados que atingiram outras duas cidades paranaenses: União da Vitória e Palmas. Juntas, as ocorrências nestas três cidades teriam somado mais de 90 mortes, segundo ele.

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Procurado, o Inpe informou não possuir dados históricos sobre os tornados. A Defesa Civil de Santa Catarina alegou possuir registros de tornados apenas dos últimos cinco anos. Ainda assim, jornais e registros da época apontam que os episódios somados deixaram ao menos 37 mortos, figurando na lista de eventos extremos mais letais do país.

Veja fotos dos estragos

Os episódios de Canoinhas são conhecidos dos moradores e permanecem vivos na memória da cidade. O registro mais distante é de 1948. Na ocasião, forte ventos destruíram casas, uma igreja, uma escola e uma serraria existente na comunidade de Valinhos, no interior do município. Atualmente, o território pertence à cidade de Irineópolis. O episódio é descrito em uma edição da época do jornal Correio do Norte de Canoinhas, disponível na Hemeroteca Digital de Santa Catarina, como um “violento ciclone” que devastou o povoado de Valinhos.

O episódio deixou 23 mortos e mais de 80 feridos. Os estragos também são descritos no extinto jornal A Noite, do Rio de Janeiro, que à época enviou repórteres à cidade catarinense, disponível no arquivo digital da Biblioteca Nacional.

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Tornado em 1959 deixou ao menos 14 mortos

Onze anos depois, Canoinhas voltou a sofrer com a força dos ventos, no episódio do tornado de 1959, citado na entrevista do especialista do Inpe. Desta vez, a região atingida foi a de Rio dos Pardos, também em Canoinhas. Edição da época do jornal Correio do Norte informou que o tornado deixou 14 mortes e 45 feridos. Sete deles pertenciam a uma mesma família. Outras cidades catarinenses, como Lages, e do Paraná, como União da Vitória e Palmas, também registraram ocorrências na mesma data com estragos e mortes, o que torna o número total de vítimas deste episódio um dos maiores entre os registros históricos.

Na ocasião, casas e uma igreja da localidade do interior de Canoinhas também foram destruídas pela força dos ventos, que causou a morte de moradores e de animais nas propriedades rurais. Árvores foram derrubadas e estradas ficaram bloqueadas. Na ocasião, até mesmo o Vaticano enviou uma mensagem de apoio e auxílio financeiro para a cidade, segundo a publicação da época, também disponível na Hemeroteca Digital de Santa Catarina.

Professor conta sobre estragos

O professor Josmar Kaschuk, de 51 anos, leciona História na rede municipal e estadual em Canoinhas e lembra dos relatos do pai, hoje com 90 anos, sobre a tragédia que ocorreu na localidade de Valinhos, em 1948. Ele conta que os fortes ventos atingiram a região de uma antiga serraria, da família Tomasi, que empregava a maior parte dos moradores no local.

— As casas que existiam o vento foi destruindo tudo, igual ocorreu agora no Paraná. Chegou a levantar animais. Passou bem pelo pátio da serraria, que era muito grande e tinha muita madeira serrada, então aquelas tábuas acabaram atingindo e matando animais — conta.

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Josmar conta que o pai tinha 13 anos na época do tornado e foi chamado pelo pai para ir de carroça até a localidade atingida para resgatar um tio que trabalhava na serraria atingida e estava ferido.

— Quando ele chegou lá, ele conta que via os animais, as casas todas destruídas, madeira jogada a quilômetros de distância. Onde o vento passou, limpou o mato. Ele chegou no armazém onde as pessoas estavam, e tinha muita gente ferida, gente cuidando, fazendo curativos, chás. Remédios, a cidade não tinha tanto acesso. Um médico foi chamado, mas não “vencia” cuidar de todos. Todo mundo procurando algumas pessoas. Era tipo uma guerra, como sempre diz meu pai — afirma.

O professor conta que na cidade há uma lenda de que o tornado teria ocorrido após uma “praga” de um padre após uma discussão com um morador da comunidade na época – história popular narrada em um dos jornais que cobriu os estragos da catástrofe de 1948. Ele afirma que no cemitério da comunidade de Felipe Schmidt, onde ele mora atualmente, existe uma área em que três crianças mortas na ocasião estão sepultadas. Os túmulos sempre são lembrados quando os moradores comentam as mortes no tornado de 1948.

Onze anos depois, os ventos causaram destruição na comunidade de Rio dos Pardos, mas como essa região ficava mais longe do local em que o professor morava, o que soube foi por meio dos relatos de pessoas e jornais da época que foram até área atingida.

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