O ano era 1905, quando o descendente de imigrantes alemães, Alfredo Sell, deu início a uma cervejaria às margens do Rio Capivaras, em Rancho Queimado, na Grande Florianópolis. A empresa seguiu na família pelas próximas cinco gerações até se transformar em uma bebida que faz parte da identidade da região: o guaraná Pureza.

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Antes de produzir refrigerantes, o foco da empresa eram as cervejas, frutos também da tradição germânica que faz parte da família. Em 1908 a então Cervejaria Rio Branco passou a funcionar na fábrica onde a Refrigerantes Pureza funciona até hoje.

Mas como uma cervejaria passou a ser conhecida por um guaraná? A resposta está no processo de produção artesanal da própria cerveja, em que sempre sobra um resíduo. Esse resíduo passou a ser filtrado e comercializado como uma “cerveja-doce”.

— Tem um resíduo que sobra da fabricação da cerveja e aquilo ali ele começou a filtrar. Ele foi embalando e se tornou uma cerveja-doce. Ele levava junto, deixava com as cozinheiras das festas e ela foi se popularizando. Quando alguém fazia um pedido pro bisavô, dizia: “ó, senhor Alfredo, não esquece de trazer a cerveja das senhoras da cozinha” — explica Ricardo Sell, bisneto do fundador e um dos atuais sócios da Refrigerantes Pureza.

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Em 1926, a fiscalização pediu que o produto tivesse uma definição específica, foi então o momento em que ele decidiu direcionar o que era a “cerveja-doce” para o então guaraná Pureza, que completa 100 anos em 2025.

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Mudança de rumo da empresa

A fábrica de bebidas produzia os dois produtos até 1959: cervejas e refrigerantes. Nesse ano, foi feita a última “fornada” de cerveja e dali em diante o foco virou o refrigerante. A escolha por deixar as bebidas alcoólicas de lado veio por conta do surgimento das grandes marcas.

— Daí não tinha como competir. Tu trabalhava, produzia uma cerveja para botar no mercado e, como era uma produção limitada, o preço se tornava muito caro. Daí começou a vir a cerveja das grandes empresas Brahma, Antártica e tudo mais — afirma.

A produção dos refrigerantes, e das cervejas, anteriormente, era toda artesanal. Foi a partir da década de 1970 que foram adquiridas as primeiras máquinas semiautomatizadas. Depois, com a chegada das garrafas pets, que esse processo de industrialização se acelerou para uma maior produção.

Produção para toda SC

Atualmente, a Pureza atende todas as redes de supermercado em Santa Catarina, com foco na Grande Florianópolis, que segue sendo o principal mercado da marca. O produto é levado pela rede Angeloni até o Paraná e pela rede Bistek para o Rio Grande do Sul. A marca tem expandido a atuação para o Sul e Norte do Estado.

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O negócio atravessou gerações. Começou com Alfredo Sell, teve continuidade com seu filho, Leonardo Sell, com o neto, Adelmar Sell, e hoje segue com o bisneto Ricardo, de 66 anos, entre os administradores. Ele conta que até a quinta geração da família já atua na empresa, o que é positivo, mas também traz desafios.

— É bom, mas existem dificuldades, né? Ninguém nasceu em uma empresa num pote de ouro. O mercado em si já vai quase que absorvendo toda a estrutura da empresa, que não tem como suportar a concorrência. Nós ainda estamos no mercado graças aos nossos clientes, nossos consumidores que são fiéis — pontua.

As vendas têm crescido ano a ano, conta Ricardo. A empresa, que tem 72 funcionários diretos, produz mais de 1,5 milhão de litros de bebidas por mês. Do total de vendas, 95% são de guaraná Pureza, incluindo a versão baixa calorias, que tem crescido no mercado.

A marca também conta com o Laranjinha Pureza, segunda mais vendida, e o Pureza Morango, em homenagem à própria cidade de Rancho Queimado, capital catarinense do morango, assim como a água mineral com gás. Os produtos são vendidos em diferentes formatos: garrafa pet, de vidro e lata, de diferentes tamanhos.

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— Hoje a gente já tá terceirizando o nosso produto. A gente tem a lata que é terceirizada, a água mineral que é terceirizada também com a nossa marca. E a gente, por causa do verão e a demanda, a gente vai terceirizar também a embalagem de 1 litro ou outros tamanhos — detalha Ricardo Sell.

Além da manutenção das origens, a marca também preza pela qualidade dos ingredientes usados na fabricação dos produtos, que incluem água de boa procedência e polpa natural de guaraná. O nome “Pureza” é uma inspiração na pureza das águas da Serra Catarinense, que passam e nascem na cidade de Rancho Queimado.

Ao longo das décadas, a marca nascida na Grande Florianópolis se tornou parte da identidade do Estado, especialmente da essência manezinha. Segundo Ricardo, o processo de fortalecimento da marca na região aconteceu de forma natural:

— Isso aí aconteceu naturalmente, porque não foi feito nada para que isso acontecesse. Foi a insistência, e um produto bom vai longe, né? — pontua o sócio da empresa.

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Para o futuro, projeta a terceirização de mais setores, considerando que a estrutura atual já quase não dá conta da demanda e não há possibilidade de ampliação do local. E espera ainda que muitos mais anos de trabalho venham.

— Eu quero que ela permaneça mais 120 anos. Temos que trabalhar, o trabalho existe. O que precisa é um pouco de perseverança e um pouco de incentivo para poder seguir em frente — finaliza.

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