Na Antiguidade, os vinhos eram guardados em recipientes chamados anphorae ou ânforas, que eram potes de cerâmica utilizados pelos antigos egípcios, gregos e romanos no armazenamento por períodos curtos e no transporte do vinho de forma não muito segura, pois eram pesadas e frágeis, dificultando o transporte. Havia também os odres, que eram sacos feitos de pele de animais — geralmente de cabras — que funcionavam como sacolas para transporte e armazenamento, mas eram volumosos e difíceis de manusear. Eram também usados tonéis de madeira para essas finalidades. Apesar de funcionais, esses recipientes dificultavam o armazenamento prolongado e o transporte, propiciando o rápido deterioramento do vinho. Todos esses recipientes enfrentavam o mesmo desafio: eram feitos de materiais porosos, que permitiam a entrada de ar, oxidando o vinho e causando sua deterioração.

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A história da garrafa de vidro é fascinante e remonta a milênios, refletindo a evolução da cultura e da tecnologia humanas. A garrafa de vidro, como conhecemos hoje, é um símbolo de arte, tradição e inovação. A invenção do vidro — especialmente o vidro soprado pelos romanos, ainda muito frágeis e rudimentares — permitiu a criação de recipientes mais eficientes para a guarda dos vinhos. Porém, as garrafas como conhecemos hoje surgiram na Idade Média, sendo significativamente aprimoradas na Inglaterra. No entanto, eram acessíveis somente aos nobres e aristocratas, o que representava uma parcela muito pequena da população. Mais tarde, a padronização das garrafas de vidro, no século XVII, permitiu o desenvolvimento de sistemas de produção mais eficientes, revolucionando a forma como o vinho era armazenado. Isso possibilitou o envelhecimento prolongado, um transporte bem mais eficiente e a produção em larga escala, tornando-se um padrão para armazenamento e transporte de vinhos.

A introdução da rolha de cortiça, no século XVII, foi outro marco importante, pois, além de se mostrar um excelente fechamento para as garrafas cilíndricas de vidro — evitando a entrada de ar e possibilitando o armazenamento horizontal, mantendo o vinho em contato com a cortiça —, mostrou-se eficaz e consolidou-se como o fechamento ideal para o armazenamento e envelhecimento prolongado de vinhos. Ao longo do tempo, tornou-se também uma expressão de identidade e origem dos vinhos, através dos diferentes formatos de garrafas utilizadas para diferentes tipos de vinho, identificando sua origem e seu DNA — como a Bordalesa, usada para os vinhos de Bordeaux, ou a Borgonhesa, usada para os vinhos da Borgonha.

Com o surgimento das rolhas de cortiça como vedantes das garrafas, surgiu também a necessidade de um utensílio que “sacasse” esse fechamento, para que o néctar pudesse ser apreciado. A história do saca-rolhas é tão rica e envolvente quanto a dos vinhos que ele abre. Acredita-se que tenha sido inventado no século XVII, junto com o surgimento das garrafas de vidro utilizadas para armazenar os vinhos. O ancestral do saca-rolhas provavelmente foi o vrille à tonneau (broca de barril), um utensílio utilizado para extrair a bala do cano de armas de fogo. É bem provável que os ingleses — grandes amantes de vinhos desde sempre — tenham sido os primeiros a produzir os primeiros modelos de saca-rolhas, pois o primeiro registro oficial de um saca-rolhas de rosca, com um parafuso em forma de “T”, foi patenteado pelo reverendo Samuel Henshall, em 1795, na Inglaterra.

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A forma do saca-rolhas sofreu inúmeras modificações ao longo dos dois séculos seguintes. Esses primeiros modelos eram feitos à mão e, muitas vezes, apresentavam detalhes ornamentais, refletindo a estética da época. A partir da metade do século XIX até o início do século XX, mais de 300 patentes foram emitidas para o saca-rolhas na Inglaterra. Em 1883, o alemão Carl Wienke aprovou um modelo monoalavanca de bolso, que fez enorme sucesso entre sommeliers, maîtres de hotéis e garçons de cafés. Hoje, existem modelos que vão do clássico em forma de “T”, ao elétrico, a vácuo, o de pinça e o usado pelos profissionais do vinho — o sommelier —, que é compacto e multifuncional, incluindo uma lâmina para cortar o lacre da garrafa, uma espiral e uma alavanca que proporciona um ponto de apoio para facilitar a extração da rolha. E há ainda o revolucionário Coravin, que permite servir o vinho sem remover a rolha, usando uma agulha fina para perfurá-la e extrair o vinho, ao mesmo tempo em que injeta gás argônio para preservar o restante do conteúdo da garrafa.

Usar o saca-rolhas adequado é crucial para garantir que a rolha seja removida sem quebrar, o que pode deixar resíduos de cortiça no vinho, comprometendo a experiência da degustação. Mais que uma simples ferramenta, o saca-rolhas é um símbolo de tradição e inovação no mundo do vinho. Desde os primeiros modelos manuais do século XVII até as tecnologias mais avançadas utilizadas no Coravin, ele reflete a busca contínua por melhorar a degustação, garantindo uma experiência sublime em cada taça.

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