
FABIANO DELL AGNOLO
A despeito de todo o modismo e pompa que se criou sobre o termo “4.0”, o tema Indústria 4.0 segue com crescente relevância. Mas alguns ajustes para melhor compreensão precisam ser feitos
Primeiramente, nem tudo dá para ser 4.0 (costumo brincar nas palestras que já temos até “hambúrguer 4.0”). É impressionante como os modismos rapidamente ganham corpo e afloram a criatividade das pessoas. Na intenção de “surfar uma nova onda”, muitas pessoas se apropriam de termos sem a devida compreensão e aplicam em qualquer coisa.
E o resultado disso é uma confusão dos conceitos e muita gente falando superficialidades. Então, calma lá: 4.0 é a nova fase do desenvolvimento industrial que está ocorrendo quase que no mundo todo, ponto. No demais é tudo especulação e a tentativa de se aproveitar do momento.
A revolução industrial 4.0 traz o que há de mais moderno no mundo hoje, em termos tecnológicos e de processos. Ela passa pela implantação de sistemas cyber-físicos, aplicação significativa de “internet das coisas”, processos descentralizados e conectados em cloud, uso massivo de dados e inteligência artificial, e por aí afora. E tudo isso é ainda relativamente novo no mundo. Estamos apenas engatinhando nessa revolução, e sequer conhecemos todo o potencial contido.
Outro aspecto importante é o significativo atraso de desenvolvimento que temos, enquanto país. É lamentável o quanto é fácil de constatar que a grande maioria das empresas brasileiras ainda nem chegaram na revolução industrial 3.0; essa consiste na automação dos processos, no uso de sistemas computadorizados, sensorização e forte aplicação da eletrônica. É uma constatação que não deve servir para desanimar, mas sim para ficar alerta: Não dá para queimar etapa. Simplesmente não existe revolução 4.0 sem o domínio da 3.0.
E por fim, as pessoas não estão preparadas. Assim como na indústria 3.0 se requer uma mentalidade, comportamentos e qualificações já bem evoluídas (soft skills e hard skills), a indústria 4.0 exige muito mais. E o mesmo atraso que temos no desenvolvimento da nossa indústria, acontece também no desenvolvimento das nossas pessoas.
Não é à toa que nossos índices de produtividade industrial não vêm evoluindo na mesma proporção que em países mais desenvolvidos. Não é à toa também, que são necessários quatro brasileiros para gerar a mesma riqueza que um americano (patético isso). Eficiência, produtividade, geração de riqueza e por fim, qualidade de vida, passam obrigatoriamente pelo desenvolvimento tecnológico e principalmente pelo desenvolvimento das pessoas.
A jornada é longa e há muito o que se fazer. Velocidade e profundidade devem ser premissas fundamentais nesse caminho.
Vamos em frente!