O renomado cientista brasileiro Carlos Nobre é um dos que participa de atividades na Blue Zone, na 30ª Conferência das Partes (COP30), em Belém. Em entrevista exclusiva ao NSC Total, o “guardião planetário” disse estar ansioso para o ano acabar para saber um dado primordial em relação às mudanças climáticas: o nível de emissões dos gases de efeito estufa.

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— A gente teve uma aceleração na transição energética nesses últimos tempos, então pode ser que seja a primeira vez desde o século XVIII que tenhamos uma queda nas emissões — explicou.

Apesar disso, o cenário está longe de ser positivo. Este ano deve superar 2024 e se tornar o mais quente da história. Se a aceleração da redução das emissões não ocorrer, o aquecimento global, que já está no temido 1,5°C, vai ultrapassar os 2°C até 2050, como prevê o pesquisador. E aí, será o que ele chama de “ecocídio”, o suicídio ecológico.

Entre os biomas que sofreriam grandes impactos está a Floresta Amazônica, que atingiria o chamado ponto de não retorno por conta da devastação e das mudanças climáticas. Isso significa que a vegetação não se recuperaria mais, afetando, por exemplo, o clima em Santa Catarina. Isso porque, quase 40% da chuva no Estado depende do transporte de umidade que vem da Amazônia.

Segundo Nobre, a queima de combustíveis fósseis é responsável por 75% das emissões globais. Como o gás carbônico permanece na atmosfera por anos, frear o envio dele à atmosfera é para ontem — a ciência indica uma redução de 43% até 2030, mas pelos acordos dos países, os passos caminham para 3% dentro desse período.

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— Se reduzirmos apenas 3% das emissões até 2030, como está previsto, o risco de ultrapassar os 2°C até 2050 é imenso. Por isso a COP30 é tão importante quanto o Acordo de Paris: é o momento de os países concordarem em acelerar a redução das emissões. O contrário seria um suicídio ecológico — detalhou.

Além da contribuição em peso ao aquecimento do planeta, esses poluentes influenciam na qualidade do ar e, assim, na saúde das pessoas. Na corrida para substituir a energia vinda do petróleo, carvão e gás natural, entram as oriundas do hidrogênio verde, sol e vento. Os biocombustíveis também são citados como boa alternativa.

Ele aponta que o Brasil já tem mais de 80% da eletricidade gerada por fontes renováveis — como hidrelétrica, solar e eólica —, mas ainda precisa intensificar a transição, e não tentar explorar uma nova bacia de petróleo. Nobre também alertou que o país está pouco preparado para os impactos do aquecimento:

— Muita gente não tem ar-condicionado. As cidades tiraram a vegetação e substituíram por cimento, gerando enchentes, alagamentos e enxurradas.

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O especialista citou um problema recorrente em Santa Catarina: as chuvas extremas. Ele defendeu a criação de políticas públicas que tirem as pessoas de moradias em locais de risco, chamando o programa de “minha casa sustentável para salvar minha vida”, em alusão ao “minha casa, minha vida”, do governo federal.

Se em Santa Catarina os deslizamentos de terra que ocorrem durante chuvas intensas são os que mais matam na lista de eventos extremos, no mundo as ondas de calor são os maiores desafios dos extremos climáticos. Nessa balança, o desmatamento tem efeito imediato nas temperaturas locais, elevando de 2°C a 3°C os termômetros da região.

A palavra, então, é mitigação. Proteger florestas, investir em soluções baseadas na natureza e em energia limpa. Isso tudo sem esquecer da adaptação. Cidades brasileiras precisam fortalecer a resiliência. A emergência climática já está dada.

NSC na COP

A NSC estará em Belém na próxima semana para trazer as principais informações da COP30 ao catarinense. Com uma cobertura multimídia, você pode acompanhar as notícias pela TV, rádio, internet e jornais impressos do grupo.

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Bianca Bertoli é a repórter enviada especial da NSC a Belém (PA) para cobertura da COP30