Uma Via Sacra sem passos, sem quedas, sem nenhum Simão Cirineu para ajudar a carregar a cruz. Assim a pandemia do coronavírus transformou uma das celebrações mais concorridas da Semana Santa. Realidade que se impôs durante a Quaresma e também no período de Páscoa.
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Por causa dos riscos de contágio outros ritos receberam contornos diferentes. Além disso, um documento elaborado pelo Vaticano alertava que “a data da Páscoa não pode ser transferida”. Padres e bispos deviam fazer as celebrações e diante da proibição de aglomerações, chamar o povo a participar. Ainda que de forma distante.
O próprio Papa Francisco, que produziu uma das imagens da contemporaneidade mais marcantes a rezar sozinho na Praça São Pedro, também precisou se adaptar. A situação exigiu criatividade dos celebrantes e paciência dos fiéis, mas as transmissões ao vivo por rádio, TVs e redes sociais ajudaram a alimentar a fé.
Um dos exemplos de programação on-line veio do Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento. Assim como das 10 dioceses do Estado e também arquidiocese de Florianópolis. A alternativa levou em conta o decreto do governo do Estado, o qual até esta semana não considerava igrejas como atividades essenciais.
A programação do Santuário de Santa Paulina começou no Domingo de Ramos, quando ocorre a bênção que lembra a chegada de Jesus Cristo em Jerusalém. Em 14 anos de existência do santuário, esta é a primeira vez que as portas foram fechadas. Um tempo inédito, como diz a irmã e diretora do templo Anna Tomelin.
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– Nunca aconteceu o que estamos vivendo agora, sem a presença dos peregrinos e peregrinas. Todos nós que trabalhamos no santuário rezamos pedindo para Santa Paulina proteger o mundo frente a este vírus invisível, mas destruidor – diz.
A religiosa dá um conselho para que apesar de diferente a celebração seja feita:
– Esta Páscoa será diferente, pois permite uma experiência familiar dentro de casa e em família. Cuidem da saúde e de sua família – prega Anna.

O lavar as mãos de Pilatos ganha outro significado
Este cuidado a que a irmã Anna se refere tem relação com o isolamento social, medida para impedir a propagação do vírus e levar ao colapso do sistema de saúde. Ainda que possa significar desconforto para todos nós.
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É verdade que desta vez não se viu Jesus carregando a cruz, Verônica a lhe secar o rosto sangrento, tampouco soldados a pregar-lhe os pés. Quem apareceu em charges, especialmente, foi a figura de Pôncio Pilatos, o governador romano que condenou Jesus. Desta vez tendo atrelado o ato de absolvição de culpa que proclamou publicamente à lição importante de combate ao coronavírus: lavando as mãos.
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Tabela: as mudanças
Confira a seguir o que mudou nos rituais religiosos que antecedem a Páscoa por conta da pandemia:
Domingo de Ramos
Como é: O Domingo de Ramos abre a Semana Santa e celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo, em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Esse domingo é chamado assim, porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde o Cristo passaria montado num jumento.
Como foi: Sem procissão, os fiéis foram estimulados a colocar galhos nas portas e sacadas.
Lava-pés
Como é: O celebrante lava os pés de pessoas escolhidas na comunidade e que normalmente está ligada ao tema da Campanha da Fraternidade. Representa o ato de humildade onde Jesus lavou os pés dos discípulos.
Como foi: Seguindo determinações do Vaticano a cerimônia foi proibida.
Via Crucis
Como é: A tarde da Sexta-feira Santa apresenta o drama da morte de Cristo em direção ao Calvário. Em muitas paróquias e cidades há espetáculos cênicos.
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Como foi: não houve procissões e ou representações para evitar as aglomerações.
Sábado Santo
Como é: Sábado Santo é o dia em que o Círio Pascal é aceso, uma grande vela que simboliza a luz de Cristo, que ilumina o mundo.
Como será: algumas igrejas farão transmissão ao vivo pela internet.
Páscoa
Como é: Muitos fiéis lotam as igrejas para celebrar. Depois de morrer crucificado, o corpo de Jesus foi colocado em um sepulcro, onde ali permaneceu até a ressurreição, quando espírito e corpo foram reunificados. Do hebreu “Peseach”, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade.
Como será: sem aglomerações e com transmissão das missas pela internet.