A campanha de fim de ano da marca Havaianas deu o que falar depois que políticos da direita fizeram críticas e ameaçaram até um boicote aos produtos da empresa neste domingo (21). O motivo foi uma frase do texto dito pela atriz Fernanda Torres, que protagoniza o comercial. Na peça publicitária, a artista afirma não desejar que o espectador “comece 2026 com o pé direito”, mas sim “com os dois pés”. A fala foi o suficiente para políticos, influenciadores e apoiadores da direita criticarem a marca de chinelos nas redes sociais e ameaçarem deixar de utilizar os produtos da marca.
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Mas o episódio mais recente envolvendo a Havaianas não é o único caso de ameaça de boicote a uma empresa por razões políticas na história recente do país. Com a polarização em alta nos últimos anos, o posicionamento ou mesmo sutilezas de campanhas publicitárias têm levado muitas pessoas a prometerem abandonar o consumo de produtos de determinadas empresas por questões ideológicas. Confira abaixo:
Veja fotos do anúncio polêmico da Havaianas
Bis
Alguns exemplos recentes exemplificam discursos em que apoiadores da direita se revoltaram com marcas e ameaçaram boicotar produtos. Um episódio envolve a marca de chocolate Bis, da empresa Lacta. Após o influenciador Felipe Neto, ativista de esquerda e crítico do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fazer uma propaganda para a empresa, as redes sociais foram tomadas de comentários de apoiadores da direita criticando a escolha e prometendo até “trocar o Bis pelo Kit Kat”, fabricado pela concorrente Nestlé. A situação escalou ainda mais após alguns usuários lembrarem que o Kit Kat já havia feito campanhas de apoio à causa LGBTQIA+. O caso ocorreu em outubro de 2023, mas recentemente não houve mais manifestações contra a marca de chocolates.
Piracanjuba
Poucas semanas depois da polêmica com o Bis, em novembro de 2023, bolsonaristas ameaçaram um boicote à empresa de laticínios Piracanjuba. O motivo teria sido a escolha da cantora Ivete Sangalo como garota-propaganda – a cantora baiana havia declarado voto em Lula nas eleições um ano antes, em 2022, mas já era o rosto das peças publicitárias da marca desde 2019. Alguns usuários chegaram a sugerir troca da marca por outra, o Ninho, mas as empresas à época já possuíam parceria para fabricação de produtos no país.
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Magazine Luiza
Outra rede que foi alvo de promessas de boicote de bolsonaristas foi a Magazine Luiza. Uma das investidas ocorreu em 2020, quando a empresa anunciou um programa de trainee exclusivamente para negros, o que fez grupos de apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro atacarem a marca e defenderem não comprar mais produtos na rede de varejo. Em dezembro de 2023, após a presidente da empresa, Luiza Trajano, aparecer em foto com a primeira-dama Janja da Silva, em um encontro sobre liderança de mulheres que visava atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), novamente grupos bolsonaristas defenderam o boicote à rede de lojas.
SBT
Um dos exemplos mais recentes atingiu o canal SBT. Após a emissora da família de Silvio Santos convidar o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para a cerimônia de inauguração do canal de notícias SBT News, bolsonaristas criticaram a emissora pela presença das duas figuras na cerimônia, que também teve outras autoridades, como o govenador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).
O cantor sertanejo Zezé di Camargo gravou um vídeo afirmando que o canal estaria “mudando de posição” e “se prostituindo”, por convidar as autoridades à cerimônia. Um especial de Natal gravado pelo artista teve a exibição suspensa em razão da polêmica. Nas redes sociais, eleitores de direita também tentaram “cancelar” o canal da família Abravanel em função da polêmica. Apesar disso, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou haver “exagero” no posicionamento de Zezé di Camargo e outras figuras influentes ligadas à direita, como o apresentador Ratinho, também reagiram, afirmando que a fala de Zezé, de transformar o lançamento de um canal de notícias em fanatismo político, “beirava a ignorância”.
Comércios locais em SC
Outro exemplo de tentativas de boicote de empresas por questões políticas ocorreu em SC. Um mês após as eleições de 2022, listas começaram a circular em grupos de WhatsApp sugerindo boicote a estabelecimentos comerciais e empresas que supostamente teriam apoiado o PT nas eleições presidenciais. A campanha difamatória gerou reações e processos na Justiça.
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Boicotes também à esquerda
Não foram apenas os eleitores e políticos da direita que ameaçaram boicotes a empresas por questões políticas. No campo da esquerda, eleitores também se posicionaram nas redes sociais defendendo o fim do consumo de produtos em razão de posicionamentos de empresas ou de empresários conhecidos. Alguns desses exemplos ocorreram durante a pandemia de Covid-19, como o caso da rede de restaurantes Madero, após o fundador da rede, Junior Durski, apoiar publicamente o então presidente Jair Bolsonaro e dar declarações para minimizar o impacto da doença.
Em 2022, quando empresários foram investigados por trocar mensagens apoiando possível tentativa de golpe, marcas como a rede de restaurante Coco Bambu também foram alvo de pedidos de boicote. O então candidato Ciro Gomes chegou a pedir que os eleitores boicotassem as marcas dos empresários investigados no caso.






