Enquanto a temporada de verão é sinônimo de férias e descanso para muitos, tem quem faça durante o período o lucro que garante o sustento do ano inteiro. Em alguns casos, trabalhadores deixam sua rotina em outros estados para trabalhar nas areias de Santa Catarina e fazer um pé de meia na estação mais quente do ano.
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Kennydson Pereira é um desses exemplos. Ele, que é de Rondônia, veio pela segunda temporada para Florianópolis a trabalho. Foram três dias de viagem, parte de carro e outra de ônibus, até chegar no Norte da capital catarinense, onde atua como vendedor em um quiosque em Jurerê Internacional. Esforço que, segundo ele, vale a pena financeiramente e pela experiência vivida na região.
— Compensa bastante. A gente é do interior do Brasil, ajuda a família, parente, todo mundo com o que a gente consegue com um trabalho aqui. Vale a pena, porque é uma experiência. É única, você não vai viver isso de novo, então tem que aproveitar ao máximo — afirma.
O desejo dele agora é que o tempo em Florianópolis se estenda um pouco mais, e que seja possível ficar na cidade também durante o inverno. Depois de uma primeira temporada trabalhando na praia, o convite para repetir o feito veio e foi aceito com animação, mesmo diante do trajeto longo entre o lar e a Capital de Santa Catarina, o qual considera “dolorido e cansativo”.
A expectativa para a temporada também é grande, e Kennydson anseia não só por boas vendas, como por conhecer pessoas novas. O quiosque onde trabalha vende porções, bebidas, água de coco, lanches, gelo e outros itens. Grande parte dos clientes é de fora do país, especialmente da Argentina, Paraguai e Chile.
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— A gente desenrola um pouco do portunhol, vai tentando entender o que é. Eles também compreendem alguma coisa, também ajudam e a gente vai se virar no que pode. A gente estuda o cardápio pra poder falar espanhol pra eles também, então já facilita — explica Kennydson.
Para ele, um dia de praia ideal em Florianópolis tem que ter uma cerveja, caipirinha gelada, água de coco e um bronzeado. Jurerê, onde trabalha, é das praias que conhece a sua preferida. E os planos são de seguir na Ilha, de um jeito ou de outro, para os verões que estão por vir.
Fotos mostram dia de praia em Jurerê
De Sergipe para Jurerê
Salomão da Silva, vendedor de milho na praia de Jurerê, enfrenta uma jornada semelhante a de Kennydson. São três dias de viagem de ônibus desde Sergipe até Florianópolis para passar a temporada trabalhando nas praias da Capital. Desafio que realiza há quatro anos.
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Um convite de um amigo foi o pontapé inicial para o trabalho que realiza durante a temporada de verão até a Páscoa. Segundo Salomão, já fazem três meses que ele está em Florianópolis, e as vendas estão cada vez melhores.
— A expectativa tá boa demais agora, tá começando a temporada, tá melhorando as vendas. Tem bastante turista de fora. Fala tudo misturado, espanhol, português, e dá tudo certo — relata.
Homem-aranha do picolé
Uma cena inusitada já virou frequente nas praias catarinenses: figuras vestidas de homem-aranha vendendo picolé e outras comidas. Um dos “heróis” em Florianópolis é Marcos Dutra, natural do Rio Grande do Sul e morador da Capital há quatro anos.
Ele conta que veio com a família para conhecer a cidade, se apaixonou e decidiu mudar de forma definitiva. A qualidade de vida, oportunidades de emprego e segurança cativaram o gaúcho a escolher Florianópolis como lar.
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— Fazem quatro anos que sou morador aqui de Floripa. Gosto muito daqui, não volto mais pro Rio Grande do Sul, nunca mais — afirma o vendedor.
A “identidade secreta”, contudo, não veio já na primeira temporada vendendo picolé. De início, ele vendia sorvete com roupa normal, mas ficou curioso ao ver outros colegas adotando a estratégia. Resolveu testar e deu tão certo que não parou mais.
— A primeira temporada trabalhei normal. Aí tinha um colega que colocava fantasia. Senti curiosidade, coloquei e começou a dar certo, não parei mais. Até o adulto para a gente só para tirar foto, daí já acaba comprando um picolé. É super bom, porque chama atenção — relata.
A expectativa para a temporada está alta por conta da previsão do número de turistas e da praia alargada, o que faz com que tenha espaço para mais banhistas. Marcos afirma que mais de 70% das vendas são para estrangeiros, especialmente argentinos, paraguaios e uruguaios. Por conta disso, aprendeu um pouco de espanhol.
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Ele relembra que no primeiro ano passou o inverno todo na praia, período sofrido por conta das poucas vendas com o frio, chuva e vento típicos de Florianópolis. Nesse ano, trabalhou no restaurante da esposa nos Ingleses, que tem atendido muitos chilenos que vêm fora da temporada, e, agora, durante o verão, retornou para a areia da praia, de homem-aranha, para vender picolé.
Para ele, o sol e o calor não podem faltar para as vendas irem “de vento em popa”. O trocadilho, no entanto, traz o vilão que pode atrapalhar:
— Verão tem que ter muito sol, pro vento não atrapalhar a gente. As crianças comem sorvete aqui em Jurerê praticamente o dia todo. Então é bom demais. Mas não pode ventar e tendo um dia de sol, vão ser vendas excelentes — afirma.
Como funciona cadastro de ambulantes
A atuação como ambulante durante a temporada de verão em Florianópolis ocorre através da obtenção de licença prévia com a prefeitura. Neste ano, foram lançados dois editais: um para venda de sorvetes e outro para ambulante de praias, voltado para produtos variados.
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Os contemplados nos editais podem atuar com alvará de comércio entre os dias 15 de novembro e 5 de maio. Para os interessados em vender picolés durante o verão, foram abertas 272 vagas em 28 praias da capital. O processo incluía apresentação de documentação por parte de pessoas jurídicas ou representantes de marcas de sorvetes.
Já para os ambulantes de praias, de diversos produtos, são um total de 776 vagas abertas, incluindo oportunidades destinadas para idosos e pessoas com deficiência. Também é preciso se inscrever através do site e as vagas são distribuídas por meio de sorteio eletrônico.
As vagas são para diferentes modalidades de comércio, como artigos de praia como chapéus, mantas e redes, bebidas em caixas térmicas, carrinho de água de coco, carrinhos de açaí, carrinhos de choripan, carrinhos de coquetéis e sucos, carrinhos de milho, carrinhos de chope, carrinhos de vinho e espumante, carrinhos de pastel e instalação de tendas de massagem.






