Agricultores da Serra catarinense afirmam estarem sendo prejudicados por ataques de iraras em apiários, colmeias utilizadas para criação de abelhas. Os animais silvestres entram nas colmeias em busca de mel e crias, e já causaram um prejuízo de mais de R$ 50 mil aos apicultores da região.

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Os da Rainha da Flor, apiários orgânicos localizados em Rio Rufino, Painel, Dois Irmãos, Lages e Otacílio Costa, já registram a perda de mais de 200 colmeias, com danos que ultrapassam R$ 50 mil. A situação é grave e se repete em outras regiões da Serra catarinense e também no Rio Grande do Sul.

Sem medidas de contenção e auxílio técnico, muitos produtores ficaram sem fonte de renda e sem condições de manter seus apiários ativos nos próximos meses.

— Esses ataques estão acontecendo nos nossos apiários orgânicos, lá na Serra, onde tudo é feito dentro das normas e com certificação. Precisamos de ajuda para proteger as abelhas, porque sem elas não há mel, não há renda, não há vida — ressalta Rislaine Corrêa da Silva, presidente da Associação de Meliponicultores do eixosul (AMELSUL) e responsável pela Rainha da Flor.

Os apicultores pedem ajuda de órgãos ambientais para oferecer planos de manejo, orientação técnica, apoio financeiro e compensações por perdas, além da instalação de sistemas de proteção física e sonora contra as iraras.

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Animais buscam alimento

Segundo o biólogo Vitor Bastos, a espécie silvestre é comum nas regiões de clima tropical e os animais estão em busca de alimentos.

— A irara é um animal com olfato muito bom, encontrando o mel com facilidade para se alimentar. É um animal protegido por lei, que está tentando achar alimento, igual outros animais. Não é necessário abater esse animais, é preciso conter e cercar os locais de uma forma que os animais não invadam as produções informa Vitor.

Além disso, para o biólogo Jackson Preuss, uma das razões para essas invasões dos animais é a falta de habitat natural para as espécies.

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Esses animais acabam tendo que sair das florestas, onde eles encontram recursos para se alimentar, devido à perda do habitat. Uma estratégia para evitar isso seria manter os ambientes florestais e recursos disponíveis, assim esses animais não buscariam outras disponibilidades de alimentos afirma Jackson.

Segundo informações da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), há algumas maneiras de combater os danos causados pelas iraras. Entre elas, a Epagri destaca:

  • Instalar o apiário em campo limpo, no mínimo 50 a 100 me longe do mato, pois assim a irara se sentirá desprotegida;
  • Fixar arame farpado no ninho da colmeia com uma distância de 10 centímetros, entre um fio e o outro;
  • Colocar próximo aos apiários mechas de cabelo humano ou pelo de cachorro, dentro de sacos plásticos perfurados. Alguns apicultores costumam também espalhar fezes de cachorro nas proximidades do apiário;
  • Manter as colmeias a uma altura mínima de 85 centímetros do solo, embora este recurso possa dificultar o manejo da colmeia e em alguns casos diminuir sua produtividade pelo aumento da corrente dos ventos;
  • Utilizar cobertura confeccionada com tambor cortado ao meio e amarrado sobre a colmeia.

Além de iraras, diversos outros animais também estão invadindo as produções em busca de alimento e abrigo.

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— Esse ano, até o momento, já perdemos cerca de 126 colmeias. Nós temos 2,3 mil colmeias no total, então isso corresponde a um pouco mais de 5% do plantel. Mas já chegamos a perder quase 400 colmeias em anos anteriores. Iraras, quatis, tamanduás e tatus, todos fazem muito estrago. Nosso prejuízo é de R$ 725 por colmeia — afirmou Deivide Saccon Michels, produtor de São Joaquim.

O NSC Total entrou em contato com a Federação de Apicultores de Santa Catarina (FAASC) para saber atualizações sobre o andamento do contato com os órgãos ambientais responsáveis por realizar a contenção destes animais, mas não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto.

O que dizem os órgãos ambientais

Procurado, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina afirmou que o manejo e contenção destes animais silvestres de vida livre deve ser realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Em nota, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) informou que até o momento não recebeu nenhuma comunicação formal sobre o caso e afirmou que esse tipo de conflito tem se tornado comum nas regiões, por falta de habitat para os animais. Confira a nota completa:

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O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informa que, até o momento, não recebeu comunicação formal sobre os casos de ataques de iraras a apiários na Serra Catarinense. Para que o órgão possa atuar, é necessário que produtores ou associações registrem oficialmente a ocorrência, indicando os locais e as datas dos eventos.

A irara (Eira barbara) é uma espécie silvestre nativa e protegida, e qualquer intervenção direta exige autorização e avaliação técnica. Após o protocolo da demanda, o Ibama pode realizar vistoria nos apiários, orientar medidas preventivas e analisar planos de manejo elaborados por profissionais ou empresas contratadas pelos produtores, sempre priorizando soluções de manejo ambiental.

O Instituto destaca que esse tipo de conflito tem se tornado mais frequente em regiões onde houve redução do habitat, como a substituição dos campos e matas nativas por agricultura e plantios de pinus. Por isso, ações coordenadas com os municípios e com os serviços de assistência técnica são fundamentais

O Ibama permanece à disposição para dialogar e apoiar tecnicamente após o registro formal da demanda.

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Como são as iraras

As iraras são animais onívoros da família dos mustelídeos e podem medir cerca de 55 e 71 centímetros de corpo, mais a cauda, que pode atingir até 46 centímetros. O animal normalmente pesa entre três e sete quilos.

O tempo médio de gestação das fêmeas da espécie é de 65 dias, dando à luz entre um e quatro filhotes, sendo mais comum o nascimento de gêmeos. Esses animais não estão ameaçados de extinção.

Geralmente, as iraras se alimentam de mel, frutas e insetos, mas podem consumir pequenos e médios vertebrados como roedores e lagartos. O animal recebeu o apelido de “papa-mel” devido à dieta ampla.

*Colaborou o repórter Mateus Barreto, da NSC TV