Com folhas miúdas, galhos flexíveis, raízes profundas e jeito de arbusto, em meio às outras árvores, nas margens do Rio Itajaí-Açu, ela não ganha destaque. A Raulinoa echinata Cowan, como é chamada esta planta, é rara. Em todo o mundo, só é encontrada às margens do rio, no trecho de 60 quilômetros entre Indaial e Lontras. O nome popular é cutia-de-espinhos, mas poderia ser chamada de planta da discórdia. Já foi o centro de ação judicial, discussões ambientais e até pivô de divórcio. Uma unidade de conservação da planta, no trecho onde ela se encontra, está em andamento.
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Projetos de pelo menos três Pequenas Centrais Hidrelétricas (as PCHs Zimlich, Estação Indaial e Encano), todas em Indaial (mapa), aguardam a conclusão dos estudos sobre a planta para obter o licenciamento ambiental. Juntas, as três PCHs têm a capacidade máxima instalada de 48,9 Megawatts (MW). A quantidade de energia é suficiente para acender 489 mil lâmpadas ou abastecer 139 mil casas. As empresas responsáveis pelas unidades não foram localizadas pela reportagem para comentar o assunto.
Uma quarta pequena usina, que seria instalada em Apiúna, teve o licenciamento indeferido por causa da cutia-de-espinhos. Todas são empreendimentos da iniciativa privada. O Gerente de Licenciamento de Empreendimentos em Recursos Hídricos da Fundação do Meio Ambiente de SC (Fatma), Flávio Rene Brea Victoria, explica que nesta região foi encontrada uma comunidade da planta com maior variedade genética. Ela entrará na unidade de conservação. Se as três PCHs forem licenciadas, terão de adotar medidas ambientais compensatórias e destinar recursos para a unidade.
A polêmica envolvendo a planta vem do início dos anos 2000, quando eram feitos os estudos ambientais para a implantação da Usina Hidrelétrica Salto Pilão, em Apiúna. Percebeu-se a necessidade de preservá-la pelo fato de ser rara e ter um desenvolvimento peculiar. A discórdia começou em 2006, quando uma ação civil pública foi protocolada pela Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí (Apremavi), pedindo a paralisação das obras de Salto Pilão. Na época, acreditava-se que a planta entraria em extinção por conta da construção.
Depois de quatro anos tramitando e com o pedido de liminar indeferido, o Tribunal Regional Federal da 4ª região julgou improcedente o pedido de paralisação e a ideia de que a planta seria extinta por conta da usina. Ao processo não cabe mais recurso. Salto Pilão investiu em 24 projetos de preservação ambiental. Três deles específicos para o monitoramento, salvamento e caracterização genética da cutia-de-espinhos. O consórcio detentor da usina também teve de repassar 0,5% (cerca de R$ 2,5 milhões) do valor total investido na obra para a criação da unidade de conservação, que já está em fase de final de estudos pela Fatma.
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A bióloga do Comitê do Itajaí Franciele Stano Torres explica que ainda é cedo para determinar as consequências da instalação de Salto Pilão nas comunidades da planta. No entanto, a bióloga diz que instalação de várias usinas no decorrer do Itajaí-Açu traz temores. Especialmente quanto à conservação das espécies de plantas e animais que dependem da vazão de água do rio _ caso da cutia-de-espinhos. Por outro lado, o interesse econômico pelo recurso hídrico vem possibilitando o estudo aprofundado e proteção da espécie.
Leia a reportagem completa na edição impressa do Jornal de Santa Catarina, desta sexta-feira.