Conhecida pelas praias paradisíacas e paisagens de tirar o fôlego, Florianópolis também é lembrada por cultivar tradições herdadas pela cultura açoriana. Do Norte ao Sul da Ilha, é possível encontrar costumes presentes na vida dos “manezinhos”, como são chamadas as pessoas que nascem na cidade, desde o século 18, quando chegaram os primeiros portugueses. Apesar disso, o crescimento da população, o turismo e a globalização trouxeram novas influências e algumas práticas tradicionais deixaram de ser valorizadas. 

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Para Francisco do Vale Pereira, historiador e coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as influências da cultura herdada dos casais açorianos, que migraram para Santa Catarina em meados do século 18, estão em todos os lugares e momentos da vida da cidade. Neste domingo (23), Florianópolis celebra 352 anos.

— As construções em estilo colonial português ainda resistem na paisagem da nossa cidade: Palácio Cruz e Souza, onde está instalado o Museu Histórico de Santa Catarina; Casa de Câmara e Cadeia, antiga sede do Legislativo Municipal, onde está instalado o Museu de Florianópolis (administrado pelo Sesi); o Largo da Alfândega/Prédio da Alfândega, onde está sediado o IPHAN / Superintendência de Santa Catarina; os casarios do Ribeirão da Ilha, de Santo Antônio de Lisboa, da Lagoa da Conceição… tudo isso é herança cultural dos casais açorianos — explica o historiador. 

Muitas das heranças culturais deixadas pelos açorianos ainda se mantêm vivas na cultura dos moradores da ilha, acredita Francisco. Entre elas: a Festa do Divino, o Boi de Mamão, a dança do pau de fitas, as lendas de bruxas e os falares e expressões populares. 

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— Essas heranças culturais ainda resistem! Basta ver e sentir, e participar das Farinhadas (período de colheita das ramas da mandioca, e produção de farinha de mandioca) que isso se justifica: resistência cultural […] As Festas ao Divino Espírito Santo são uma prova de que as resistências das tradições sobrevivem pelos nossos tempos. A devoção, a fé, o culto, a forma de fazer a Festa, tudo isso é tradição que está presente entre nós, e que vai continuar. 

Tradições que se mantém 

  • Boi de Mamão: Ainda presente em escolas e comunidades, mantendo vivas as histórias e personagens da cultura ilhéu.
  • Festa da Tainha e festas comunitárias: Algumas localidades, como a Barra da Lagoa e a Costa da Lagoa, ainda preservam suas festas tradicionais.
  • Festa do Divino: Embora tenha perdido parte da grandiosidade de outros tempos, ainda é celebrada em várias paróquias e comunidades.
  • Culinária típica: Pratos como o pirão com peixe, a sequência de camarão e a ostra continuam parte da identidade cultural da ilha.

As tradições de Florianópolis que estão sendo esquecidas 

Para além dos costumes culturais que ainda se mantêm vivos, Florianópolis convive com o “esquecimento” de tradições deixadas pelos antigos moradores. De acordo com Nana Martinelli, presidente da Fundação Franklin Cascaes, a perda dessas práticas reflete as mudanças sociais e econômicas do município. 

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— O crescimento da população, o turismo e a globalização trouxeram novas influências, enquanto algumas práticas tradicionais deixaram de ser valorizadas. Essa transformação cultural é inevitável, mas, sem ações de preservação, Florianópolis pode perder parte da sua identidade. Essas tradições são parte da identidade da cidade e ajudam a contar sua história — fala Nana. 

O Terno de Reis, a pesca artesanal e o “enterro dos ossos” são alguns dos exemplos de tradições que estão se tornando menos comuns em Florianópolis. Para evitar que os costumes deixados pela cultura açoriana desapareçam totalmente da cidade, é importante promover eventos culturais, oficinas e festivais que celebrem essas práticas, como também equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação ambiental. 

— A educação nas escolas sobre a história e a cultura local também é fundamental. Para manter as tradições que ainda existem, o apoio da comunidade e do poder público em iniciativas culturais é crucial. A cultura é o que dá identidade a um povo. Mantê-la viva é essencial para preservar a identidade e a história da nossa cidade. O desafio é envolver a população, educar as novas gerações e criar políticas públicas eficazes para valorizar a cultura local.

As tradições de Florianópolis que estão sendo esquecidas

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  • Terno de Reis: Antigamente, grupos percorriam as comunidades cantando em celebração ao Natal e ao Dia de Reis (6 de janeiro). 
  • Pesca artesanal: em algumas comunidades também estão se tornando menos frequentes devido à modernização e à mudança nas atividades econômicas.
  • Tradição de “matar o boi” para a festa comunitária: nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, era comum uma família doar um boi para ser abatido e a carne ser usada no preparo do churrasco comunitário. Hoje, isso quase não acontece mais.
  • Enterro dos ossos: Após grandes festas e churrascos comunitários, os moradores organizavam o “enterro dos ossos”, que era um cortejo bem-humorado carregando um osso simbolizando o fim da comemoração.

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