Era 11 de novembro de 2024 quando Valter Agostinho de Faria Junior, de 62 anos, e Araceli Cristina Zanella, de 46, foram até o Malibu Beer, um imóvel de propriedade deles. O local estava alugado para outro casal, que havia o transformado em uma casa noturna, no Centro de Biguaçu. O objetivo da visita, segundo familiares, era pedir para que os inquilinos devolvessem as chaves do estabelecimento, já que haviam rescindido o contrato. Os proprietários, inclusive, já tinham um novo interessado pelo imóvel. No entanto, o que era para ser uma conversa, terminou em assassinato e em uma busca pelos corpos que já dura um ano.
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As investigações na época apontaram que os locatários da época, ao lado de outras quatro pessoas — sendo três homens e uma mulher, todos com laços familiares ou de amizade entre si — tinham um plano para se apropriar dos bens do casal “a qualquer custo, inclusive da vida das vítimas”. Todos foram condenados no fim de outubro de 2025 por crimes de latrocínio, ocultação de cadáver e furto.
A cronologia do crime
Conforme a investigação, antes do assassinato, um dos condenados fez pesquisas na internet sobre o valor do modelo do veículo utilizado por Valter, da marca Volvo. Já a locatária listou, registrou imagens e pesquisou na web valores de bens que pertenciam às vítimas e que estavam no Malibu Beer, como mesas de som e iluminação, uma máquina de fumaça e luzes de emergência.
Quando Valter e Araceli chegaram ao local no dia 11 de novembro, foram rendidos e amarrados pelos locatários, que começaram a fazer transferências bancárias utilizando os celulares das vítimas.
De acordo com o processo, depois de passarem o dia todo rendidos, as vítimas foram encapuzadas e colocadas em um veículo. Neste meio tempo, na madrugada do dia 12 de novembro, o veículo Volvo, de Valter, foi roubado pelos outros envolvidos, sendo visto pela última vez na cidade de Guairá, no Paraná.
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Depois disso, não se sabe exatamente o que aconteceu com Valter e Araceli. A investigação policial identificou que os envolvidos, em algum momento entre os dias 11 e 21 de novembro, mataram o casal e ocultaram os corpos.
Ainda segundo a polícia, sabe-se que a última movimentação financeira da conta de Valter foi feita no dia 21 de novembro, por uma das mulheres condenadas pelo caso. Além disso, também há a informação de que diversos objetos de valor do casal foram transportados até uma casa onde os locatários moravam, no bairro Pedregal, em São José, a cerca de 14 quilômetros de distância.
Veja fotos do caso
Corpos até hoje não foram encontrados
Até a data em que o crime completa um ano, nesta terça-feira (11), os corpos de Valter e Araceli não foram encontrados. Na época do crime, a comoção foi intensa em toda a Grande Florianópolis, já que, no início, tratava-se de um desaparecimento, com divulgação ampla por amigos e parentes que buscavam informações sobre o paradeiro deles.
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Dois boletins de ocorrência sobre o sumiço do casal foram registrados. O primeiro, no dia 14 de novembro, tratava sobre a ausência de Valter e Araceli. Já o segundo, no dia 15, foi feito pela família para informar sobre o paradeiro do carro do casal, que já havia sido visto fora de Santa Catarina.
Naqueles dias, familiares já haviam deixado claro que o casal enfrentava problemas com os inquilinos, com reclamações sobre o barulho no imóvel, além de atrasos no pagamento do aluguel. A investigação, então, iniciou após a polícia entender que não se tratava apenas de um desaparecimento. Assim, o caso foi parar na Delegacia de Roubos e de Antissequestros da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Suspeitos pesquisaram qual seria a pena no crime
Alguns fatos chamam a atenção na investigação. Antes de serem presos, no dia 30 de novembro de 2024, alguns dos réus chegaram a pesquisar na internet informações sobre o desaparecimento do casal, já amplamente divulgado pela imprensa. Pesquisas como “como peritos conseguem achar dados apagados dentro do celular?” e “casal desaparecido Biguaçu” estavam no histórico dos celulares de uma das condenadas pelo assassinato de Valter e Araceli.
Além disso, eles também pesquisaram sobre os crimes que, mais tarde, seriam condenados. No dia 20 de novembro, por exemplo, um dos inquilinos buscou pelas penas “para duplo sequestro“, “como calcula 1/6 da pena de 5 anos“, e se “tem fiança para homicídio“. Uma das buscas, no entanto, chama mais atenção: “pena para duplo homicídio sem os corpos encontrados”.
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Os envolvidos foram presos em um intervalo entre 21 de novembro de 2024 a 21 de janeiro de 2025. Neste período, as investigações continuavam e, também, a busca pelos corpos de Valter e Araceli. O delegado Anselmo Cruz, que conduziu o inquérito na época, afirma que nenhum dos envolvidos chegou a confessar a morte das vítimas, muito menos o paradeiro dos corpos.
Depois de quatro meses de buscas intensivas em uma área de mata no bairro Pedregal, inclusive com cães farejadores, as buscas foram encerradas pela Polícia Civil.
— São muitas possibilidades de pontos ali onde os corpos poderiam terem sido escondidos. Pode ser um trecho para dentro da mata de 100, 200, 300 metros. Por conta disso, não se conseguiu fazer a localização dos corpos — diz.
Durante as buscas, o corpo de outra pessoa acabou sendo encontrado, depois de uma denúncia anônima sobre a possibilidade de serem os corpos de Valter e Araceli. O cadáver estava enterrado e escondido entre a vegetação e, pelo estado de decomposição, a polícia estimou que a pessoa estivesse morta há cerca de um ano. Ou seja, não havia possibilidade de ser o casal.
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Desde então, a procura pelos corpos foi suspensa. Novas buscas só serão iniciadas novamente caso se tenha novas informações, segundo o delegado.
Contato com a família
O delegado Anselmo Cruz também explica que a família das vítimas não era informada sobre o andamento da investigação para não comprometer o trabalho dos policiais e evitar ansiedade nos familiares.
À época, o filho de Valter chegou a publicar diariamente atualizações sobre as buscas do pai e da madrasta nas redes sociais. O NSC Total tentou contato com os familiares, mas eles preferiram não se manifestar sobre o caso.
Penas somam mais de 360 anos de prisão
A condenação dos seis envolvidos foi confirmada no dia 24 de outubro deste ano pela Vara Criminal da comarca de Biguaçu. Somadas, as penas alcançam 364 anos e 11 meses de reclusão, em regime fechado.
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Três réus receberam penas idênticas, de 62 anos e quatro meses, enquanto outro homem deverá cumprir 63 anos e um mês de reclusão. Cinco dos réus tiveram a manutenção das prisões preventivas já decretadas anteriormente. Uma delas seguirá em domiciliar, com medidas de segurança.
De acordo com o Tribunal de Justiça, nenhum deles terá direito a recorrer das condenações em liberdade.







