Atendentes comerciais das lojas da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) relatam pressão e agressões por parte dos clientes após a substituição do sistema eletrônico de gestão, em maio do ano passado. O Ministério Público do Trabalho (MPT) recomendou que a instituição tome providências para proteger a saúde dos atendentes de lojas e minimizar os impactos negativos do novo sistema.
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Os atendentes vêm enfrentando problemas operacionais com o sistema, que resultam em filas extensas, insatisfação dos consumidores e aumento da carga emocional e psicológica para exercer suas atividades, conforme aponta o MPT.
Cerca de 4% das unidades consumidoras de energia elétrica no Estado são diretamente afetadas pelo sistema, que apresenta problemas, principalmente, na emissão de faturas. Assim, das cerca de 3,5 milhões de unidades, aproximadamente 140 mil consumidores não estão recebendo o valor mensal a ser pago.
O não recebimento da fatura tem acarretado em problemas como o recebimento posterior de fatura com valores acumulados e encargos decorrentes de atrasos, o que causa reflexo imediato aos atendentes, segundo o MPT.
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As agressões verbais sofridas pelos consumidores são o motivo do adoecimento, relatam funcionários ao Ministério Público.
— Eu saía de casa e voltava do trabalho chorando, de medo. E o mais triste de tudo é que antes mesmo do sistema ser implantado nós já falávamos da dificuldade de lidar com o SAP HANNA porque fizemos curso em plataformas digitais, sem as explicações detalhadas e o domínio necessário — contou uma funcionária na denúncia.
A preocupação com a troca de sistema vem desde antes de sua implementação, e inclui também o pouco treinamento recebido pelos profissionais, aponta o sindicato.
— Em 18 de abril de 2024, antes mesmo da substituição do sistema, os sindicatos conversaram com a Diretoria Comercial, demonstrando preocupação com o atendimento nas lojas, uma vez que os empregados estavam inseguros devido ao pouco treinamento. Depois foram mais duas reuniões e, sem resposta para os problemas que alertávamos que iriam acontecer, procuramos o MPT — afirma Mário Jorge Maia, Diretor de Saúde e Segurança do Trabalhador do Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região (Sinergia).
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MPT dá prazo para empresa fazer adequações
A denúncia foi protocolada no Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT-SC) por todos os sindicatos representativos dos trabalhadores da indústria de energia elétrica de Santa Catarina (SINERGIA, SINTEVI, SAESC, STIEEL, SINTRESC e SINDINORTE).
Em agosto de 2024, o procurador do Trabalho Sandro Eduardo Sardá, responsável pelo Inquérito Civil expediu, a partir da denúncia, uma recomendação para que a Celesc adotasse providências. Segundo o MPT, as mudanças devem proteger a saúde dos atendentes de lojas e minimizar os impactos negativos do novo sistema, que tem gerado “graves inadequações das condições de trabalho”.
A terceira audiência do MPT-SC entre diretores da CELESC e dirigentes dos sindicatos da categoria foi feita em 11 de fevereiro. Na ocasião, o procurador Sandro destacou “falta de compromisso da empresa com o descumprimento da Recomendação editada em agosto/2024”. Foram solicitadas diversas medidas como a criação de um grupo de trabalho com participação sindical, a contratação imediata de 40 novos atendentes e a concessão de pausas.
Por conta da falta de implementação das medidas, o procurador editou uma segunda recomendação, que incluiu o presidente da Celesc no Inquérito Civil, como investigado. A empresa deverá apresentar uma lista com as rescisões de atendentes e o número de atendentes afastados por motivo de saúde.
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— Com estes dados em mãos e após expedir a nova Recomendação o Ministério Público do Trabalho aguarda uma postura mais assertiva da CELESC na adequação das condições de trabalho, caso contrário não restará outra solução, senão o ajuizamento de Ação Civil Pública visando a adequação do meio ambiente de trabalho e a reparação dos graves danos gerados aos empregados da CELESC — destacou o procurador.
Essa nova recomendação foi expedida nesta segunda-feira (24), com prazo de 10 dias para que a empresa adote medidas de adequação do meio ambiente de trabalho.
O que diz a Celesc
A Celesc se pronunciou por meio de nota, na qual declarou que irá cumprir o prazo e reforçou a digitalização dos serviços disponibilizados aos consumidores. Confira na íntegra:
“A Celesc recebeu a notificação do Ministério Público do Trabalho (MPT) e responderá dentro do prazo estabelecido. Seguimos adotando medidas para minimizar os impactos da transição para o novo sistema.
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Destacamos que diversas ações já podem ser realizadas por meio dos canais online, refletindo o avanço na digitalização dos serviços.
Nosso principal objetivo está sendo alcançado: em breve, praticamente todos os serviços estarão disponíveis de forma digital, eliminando a necessidade de deslocamento dos clientes até as lojas de atendimento.”
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