O aumento de casos de afogamento de crianças em piscinas no início desta temporada de verão acende um alerta em Santa Catarina. Na semana passada, um bebê de um ano e oito meses morreu após ser resgatado de helicóptero, no Norte de Florianópolis, por se afogar em uma piscina. No mesmo dia, em São Francisco do Sul, um menino de 3 anos foi salvo por policiais pelo mesmo motivo.
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A alta vem sendo acompanhada pelas autoridades. Com base nos atendimentos do Corpo de Bombeiros (CBMSC), desde 2020, ocorre em média uma morte de criança em piscina por ano. Na primeira semana do verão deste ano, entre 16 e 24 de dezembro, já foi registrado um caso do tipo no Estado.
O Hospital Infantil Joana de Gusmão, localizado em Florianópolis, atendeu oito crianças devido a casos de afogamento em piscinas, nos últimos dois meses.
— Temos observado um aumento de casos. Se a criança tiver uma parada respiratória por mais de 7 minutos, ela pode ter sequelas neurológicas graves, ou ir a óbito — alerta Roberto Morais, médico pediatra e coordenador da emergência da instituição.
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Desatenção dos pais
A maioria dos casos de afogamentos de crianças ocorrem após um momento de desatenção dos pais. A Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) recomenda que, se não houver um adulto junto à criança, não deve haver banho de piscina. O ideal é que os responsáveis fiquem a no máximo um braço de distância das crianças.
— Ao contrário do que muitos pensam, crianças se afogando não acenam ou gritam por socorro, e parecem muitas vezes que estão brincando na água — explica Orlando Linhares, enfermeiro da Gerência de Educação em Urgência do Samu e membro da Sobrasa.
Segundo o médico pediatra Roberto Morais, a distração com o celular é frequentemente mencionada por pais de crianças que sofreram acidentes. Além disso, eventos como churrascos e reuniões de família costumam ser perigosos, já que o responsável tem a falsa impressão de que outras pessoas também estão “de olho” na criança.
— Me parece que quanto mais gente, mais difícil é de controlar. Quem tá cuidando da criança não deve se distrair, e nem ser substituído no posto — diz o médico do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
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Prevenção de acidentes
Para evitar os acidentes, a melhor aposta é na prevenção. Antes mesmo que a criança entre na água, é importante que os pais estejam atentos aos seguintes fatores: o ambiente da piscina é cercado com portões autotravantes? Os ralos da piscina têm tampa antisucção de cabelos? As bordas da piscina estão próximas ao local onde o pequeno irá brincar? A criança usa boias corretamente?
Segundo a professora de natação Paula Matos, que atua com bebês a partir dos 6 meses, em Florianópolis, as boias infláveis de braço e de cintura não são recomendadas, pois podem escorregar na pele da criança. O ideal são as tipo “colete”, de isopor, que fecham nas costas.
— Os casos de afogamentos mais comuns são quando as crianças caem na piscina e não conseguem voltar para a borda, pois não sabem o movimento correto. Sempre orientamos as crianças para que, se isso ocorrer, elas devem abrir os olhos, encontrar um lugar seguro e nadar até ele.
Segundo a professora, a ideia de que os bebês nascem sabendo nadar é um mito. Os recém-nascidos têm, sim, a capacidade de bloquear a respiração, mas isso se perde com o tempo. As crianças só têm a capacidade de se autosalvar a partir dos dois anos, quando desenvolvem coordenação motora e músculos.
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— As aulas de natação são muito importantes para evitar esses acidentes, mas é importante que os pais também aprendam a nadar e passem essa segurança aos filhos. (…) Uma forma de estimular a criança desde pequena é, durante o banho, jogar um pouco de água no bebê, para ele aprender a bloquear a respiração. Aos seis meses, pode haver um estímulo de mergulho.
Professora de Florianópolis mostra exercício de autosalvamento para crianças
Primeiros socorros em afogamentos
Em caso de afogamento, os pais devem retirar imediatamente a criança da piscina, primeiro jogando uma boia e depois pulando na água para resgatá-la. Em seguida, deve-se ligar imediatamente para o Samu, pelo telefone 192, ou para o Corpo de Bombeiros, pelo telefone 193.
— A primeira coisa a fazer é verificar se a criança está respirando, se o tórax está se expandindo. Se for um afogamento de grau mais leve, a criança vai estar tossindo, com espuma saindo pela boca. Nesse caso, a gente orienta apenas mantê-la aquecida e deixá-la lateralizada, para o lado direito, para que essa espuma saia.
A Secretaria de Saúde de Santa Catarina elaborou um guia para que os pais possam agir de maneira eficaz seguindo algumas orientações do Samu. Confira:
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- Posicionamento adequado: Coloque a criança com a cabeça e o tronco na mesma linha horizontal. A água que foi aspirada durante o afogamento não deve ser retirada, pois estas tentativas podem prejudicar e retardar o início da ventilação e oxigenação da criança. Além de facilitar a ocorrência de vômitos.
- Checagem de respostas: Verifique se há resposta da criança; se houver, coloque em posição lateral direita e aguarde o socorro.
- Sem resposta: Caso a criança esteja inconsciente, chame o SAMU. A ausência de respostas implica em 2 possibilidades principais: ela está viva e não responde ou está em parada cardiorrespiratória (PCR).
- Cheque a respiração: em seguida abra as vias aéreas, colocando dois dedos de uma mão no queixo e a outra mão na testa e estenda o pescoço.
- Se existir respiração: se há movimento do tórax e depois das manobras de abertura das vias aéreas for constatado que há respiração, coloque a criança em decúbito lateral direito e aguarde o socorro chegar.
- Se não houver respiração: inicie 5 ventilações boca-a-boca. É recomendável a utilização de barreiras de proteção (máscaras), mas sua ausência não é impedimento.
- Criança não responde: Se não houver resposta da criança afogada (movimento ou reação à ventilação), assuma que o coração está parado, coloque a mão no centro do peito, bem na linha dos mamilos, e faça 30 compressões, alternando duas ventilações, ou, na dúvida, mantenha compressões contínuas até o socorro chegar.

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