Há um dia a experiente radioamadora Alda Schlemm Niemeyer está no ar. Mesmo com a casa própria atingida pela cheia, atendeu ao pedido de técnicos da Embratel. Com o jardim da moradia ainda submerso, eles recolheram as antenas e levaram de canoa até o prédio da empresa. Lá, Alda, com o equipamento instalado – e a cozinha e o banheiro ajeitados por ela – assumiu o microfone. Esse será o companheiro até o fim da cheia. Sem outra forma de comunicação, os radioamadores são fundamentais para envio e recepção de informações, além dos pedidos de socorro.

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Os contatos que faz por meio do radioamadorismo se mostram essenciais para externar ao país e ao mundo que Blumenau precisa de ajuda para emergir das águas. Enfermeira da Cruz Vermelha durante a Segunda Guerra Mundial, Alda está habituada às tragédias que uma população pode ser submetida. Mas o que presencia em Blumenau a surpreende. Mesmo assim, mantém a calma, apesar da dificuldade em assimilar o que escuta.

Em um dos dias em que está no ar, ouve o colega de radioamadorismo Alfredo Flatau pedir socorro. Ele está com o equipamento montado no posto de saúde improvisado na Associação da Cremer. Apesar de ter uma equipe médica voluntária no local, a criança de quatro meses com insuficiência respiratória precisa de estrutura hospitalar para atendimento. Só é possível chegar a um hospital pelo ar.

Quinze minutos se passam e Flatau emite novo pedido. Outros 15, e mais um pedido. Alda escuta de Flatau o que ficará cravado na memória como uma lembrança amarga: “O helicóptero chegou, mas não houve tempo. O bebê acabou de fechar seus lindos olhos verdes”. A notícia é seguida de um estrondo e silêncio. O colega radioamador não aguenta. A esposa avisa que o marido desmaiou de fome, de desespero, de tristeza, de cansaço. Flatau reflete o que vive a cidade inteira.

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