O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ameaçou demitir o presidente do BNDES, Joaquim Levy, mesmo sem a anuência do ministro da Economia, Paulo Guedes.
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Bolsonaro disse que Levy "está com a cabeça a prêmio há algum tempo". Clima teria piorado, segundo Bolsonaro, depois da intenção de Levy em nomear um executivo que trabalhou na gestão petista.
— Eu já estou por aqui com o [Joaquim] Levy. Falei pra ele demitir esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou eu demito você, sem passar pelo Paulo Guedes — disse Bolsonaro diante do Palácio da Alvorada, no início da tarde deste sábado (15).
Barbosa Pinto foi assessor do BNDES no governo do PT e, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, voltaria ao banco para o cargo de diretor de Mercado de Capitais do BNDES. Levado por Guedes para a presidência do BNDES durante a atual gestão, Levy foi ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT).
O presidente disse que "governo é assim, não pode ter gente suspeita" em cargos importantes. "Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo", disse.
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Questionado se Levy já estaria demitido, Bolsonaro negou.
Na última semana, Bolsonaro afirmou que vai demitir o presidente dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, por ele ter se comportado como "sindicalista".
Desagradou o presidente o fato de o general ter tirado foto com parlamentares de esquerda e de ter dito que não haverá privatização dos Correios, como é planejado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Advogado que pode provocar demissão de Levy ajudou a criar Prouni
Apontado por Jair Bolsonaro como o nome que pode provocar a demissão de Joaquim Levy, o advogado Marcos Barbosa Pinto tem uma trajetória de serviços prestados a governos do PT.
Ele já havia sido assessor da diretoria e chefe do gabinete da presidência do BNDES em 2005 e 2006, durante o mandato de Lula. Depois, foi o mais jovem diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), autarquia responsável pela regulação e fiscalização do mercado de capitais, até 2010.
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Antes disso, foi consultor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) junto ao Ministério do Planejamento de Lula, em 2004. A revista "Capital Aberto", que o entrevistou em 2008, diz que, na época, ele assumiu o papel de assessor informal do governo federal, que havia descoberto um projeto seu de parcerias público-privadas (PPPs) para países africanos elaborado para o Banco Mundial.
Nas horas vagas, disse ele à revista, ajudou, a convite de Fernando Haddad, então ministro da Educação, a elaborar o anteprojeto de lei das PPPs no Brasil e o Prouni, programa que oferece bolsas estudantis a estudantes de baixa renda.
Barbosa Pinto é doutor em direito pela USP (2008), mestre pela Universidade de Yale (2001) e mestre em economia e finanças pela Fundação Getúlio Vargas (2011). Também foi pesquisador visitante da Universidade de Columbia por alguns meses entre 2006 e 2007.
Ainda estava em Nova York quando foi chamado pelo ministro da Fazenda de Lula, Guido Mantega, para o cargo na CVM. Depois do fim de seu mandato na autarquia, ele seguiu a carreira no setor privado.
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Deu aulas de direito por dois anos na Fundação Getúlio Vargas e foi membro do conselho de administração de diversas companhias, como América Latina Logística, Unidas, Multiterminais, Chilli Beans, Energisa, BR Malls, São Francisco Saúde, Simpress e Fibria.
Uma das suas atuações mais duradouras foi na Gávea Investimentos, de 2011 a 2018, ao lado do economista Arminio Fraga, colunista da Folha de S.Paulo e ex-presidente do Banco Central.
Neste sábado, comentando a ameaça de Bolsonaro, Fraga disse que "Levy deveria pedir demissão antes de ser demitido na segunda-feira".
Levado pelo ministro Paulo Guedes para a presidência do BNDES durante a atual gestão, Levy foi ministro da Fazenda no segundo mandado de Dilma Rousseff (PT), por 11 meses.
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