Estava tudo certo para a viagem de Marina Bonifácia e a família, de Rondônia, para o Litoral Norte de Santa Catarina. Passagens para Parque Beto Carrero compradas, pacotes de passeios contratados, a comemoração do aniversário da irmã dela em solo catarinense seria em grande estilo… Até que um acidente na BR-101 virou um enorme contratempo. E mesmo para turistas que não se envolvem em colisões, a experiência de passar pela rodovia não é das melhores.
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— Esse pedacinho é crítico, né? A gente vem de São Paulo e quando chega nessa região aqui para — disse Júlio Petrasse, que costuma vir ao Estado duas vezes por ano.
Os congestionamentos são a porta de entrada para os milhares de turistas que chegam à região com o objetivo de curtir as praias paradisíacas, bares, restaurantes e parques temáticos. Marina viu de perto a situação na segunda semana de janeiro. Durante o “para e arranca” interminável, o carro da irmã dela se envolveu em um engavetamento causado por um caminhão. Ninguém se machucou, mas os danos e a dor de cabeça incomodaram.
— Nós não podemos nos abater — afirmou logo após a ocorrência.
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Veja flagras de espertinhos que complementam “caos” na BR-101
As queixas sobre a situação da BR-101 são a “conversa de elevador” de um hotel que fica à beira da rodovia. Gerente do estabelecimento, Alex Passos comenta que o estresse é tanto que o local — que fica em um trecho bem congestionado, entre Penha e Balneário Camboriú — acaba ganhando mais hóspedes ao virar ponto de parada.
— A gente pega todo esse gargalo de trânsito e o turista realmente cansa, né? Às vezes tem crianças no carro, precisa desse descanso — avalia o funcionário.
Check-in sempre com atrasos são comuns também, já que os clientes ficam presos nos engarrafamentos. Condutor de ônibus de turismo do Paraná, Fabiano Pereira já ficou oito horas parado no trânsito da 101. Uma realidade dura e cansativa tanto para os motoristas quanto para os passageiros.
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Dificuldade para todos
Se é difícil para quem viaja por diversão, imagina para os trabalhadores que dependem do trânsito para ganhar a vida. O caminhoneiro José Duarte já perdeu entregas por conta do trânsito. Luiz Francisco, que tem a mesma profissão, complementa que o tempo perdido traz outros tipos de prejuízos também:
— A gente perde em diesel também, embreagem, manutenção…Perde o tempo com a família…— lamenta.
O trecho do Litoral Norte, da BR-101, dá acesso ao segundo maior complexo portuário de operação de contêineres no Brasil. Junto com os carros e motos, caminhoneiros das empresas e autônomos circulam todos os dias pelo trecho levando e trazendo cargas. Esse vaivém agrava ainda mais o gargalo no trânsito. E, ao mesmo tempo, diminui a produtividade do setor e dos motoristas.
— Isso aqui com certeza vai parar, vai parar. Não se tem hoje condições em Santa Catarina da BR absorver todo o movimento logístico que se tem nos portos do Sul — analisa o dono de uma transportadora de Navegantes, Clemir Alves.
Para quem vive da estrada, os congestionamentos ameaçam o sustento, a segurança e a qualidade de vida. E o impacto vai além: prejudica a economia local, do Estado e compromete toda a cadeia de distribuição do país.
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E a solução?
Uma projeção da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) aponta que, em um bom cenário, a obra para criar outra rodovia na região pode estar pronta em 2031. Só que aí vem outra questão: até lá o volume de veículos já aumentou exponencialmente acompanhando o crescimento e desenvolvimento das cidades às margens da BR-101. O medo é que a via litorânea por si só não seja a completa solução.
Um transporte alternativo, como um trem ou metrô de superfície, para interligar populosas cidades que contornam o trecho Norte da BR-101 seria uma possibilidade, apontou a colunista Dagmara Spautz. É uma alternativa para retirar da rodovia uma parte das cargas e um bom número de carros que circulam diariamente entre os municípios, a trabalho e a lazer.
Para isso, seria necessário uma discussão a sério com o governo federal.
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