O Brasil está prestes a alcançar um marco histórico na trajetória espacial. No dia 22 de novembro de 2025, vai acontecer o primeiro lançamento comercial de um veículo espacial a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. O protagonista dessa missão, batizada de Operação Spaceward 2025, é o foguete HANBIT-Nano, da startup sul-coreana Innospace.

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A escolha do CLA pela Innospace não é casual, mas sim uma decisão estratégica impulsionada pela geografia, já que Alcântara possui uma das posições mais privilegiadas do mundo para lançamentos de foguetes. A proximidade com o Equador permite que os veículos espaciais aproveitem ao máximo a velocidade de rotação da Terra.

Tecnologia híbrida e segurança

O veículo lançador, HANBIT-Nano, é um foguete de pequeno porte desenvolvido pela Innospace, uma empresa que aposta em soluções inovadoras para o mercado de microssatélites. O grande diferencial tecnológico do HANBIT-Nano reside no motor de propulsão híbrida, que utiliza uma combinação de propelente sólido (parafina) e oxidante líquido (oxigênio líquido ou LOx).

Essa tecnologia híbrida proporciona segurança, ja que os motores são mais seguros de manusear e armazenar do que motores de propelente totalmente líquido ou sólido. A arquitetura também permite um maior controle e até mesmo o desligamento do foguete em pleno voo, caso necessário.

Outra vantagem é a financeira. A Innospace conseguiu otimizar os custos de produção, tornando o HANBIT-Nano competitivo para o transporte de cargas leves. Além disso, a posição privilegiada do LCA faz com que os lançamentos consumam até 30% menos combustível do que em outros lugares do mundo utilizados para disparar foguetes espaciais.

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Embora o lançamento do dia 22 seja de natureza suborbital (um teste para qualificar a tecnologia em voo), o sucesso da missão vai abrir caminho para as futuras versões orbitais da família HANBIT (como o HANBIT-Micro e o HANBIT-Mini), que terão capacidade para colocar cargas de até 1,3 toneladas em órbita.

Educação a bordo do foguete

A missão Spaceward 2025 carrega cinco satélites e três experimentos de diversas entidades do Brasil, Coreia do Sul e Índia. A participação nacional nas cargas úteis é um destaque que reforça o avanço da indústria espacial brasileira:

  • PION-BR2 | Cientistas de Alcântara (UFMA): Um satélite educacional desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que, simbolicamente, levará mensagens de estudantes da rede pública local para o espaço. Além do caráter simbólico, o projeto testará módulos e sistemas nacionais de comunicação e energia.
  • Jussara-K (UFMA): Outro satélite da UFMA focado em coleta e transmissão de dados ambientais em regiões de difícil acesso, contribuindo para o monitoramento de ecossistemas e mudanças climáticas no Maranhão.
  • Sistema de Navegação Inercial (SNI): Um módulo de tecnologia 100% brasileira, desenvolvido por startupsnacionais com apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB). O SNI é um tipo de “GPS” interno que não depende de sinais externos, sendo crucial para orientar o foguete em voo.

Um novo ciclo

A parceria com a Innospace é resultado de um edital de chamamento público lançado pela AEB em 2020, que buscou abrir o CLA para a iniciativa privada. O contrato assinado com o Comando da Aeronáutica (COMAER) em 2022 simboliza a consolidação do modelo de parcerias público-privadas (PPP) no setor.

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Para a Força Aérea Brasileira (FAB) e a AEB, o sucesso da Operação Spaceward 2025 não se limita à geração de receita. O lançamento inaugura um ciclo virtuoso de desenvolvimento. A atração de empresas globais exige a manutenção de padrões de segurança e tecnologia de ponta, o que, por sua vez, fortalece a infraestrutura do CLA e a qualificação dos profissionais brasileiros.

A soberania nacional, historicamente ligada ao controle do espaço aéreo, se estende agora à capacidade de controlar o acesso ao espaço. Ao sediar lançamentos internacionais, o Brasil reduz sua dependência externa para colocar seus próprios satélites (de defesa, comunicação e monitoramento) em órbita, solidificando sua posição como um player tecnológico e geopolítico no século XXI.

Com todas as revisões técnicas e de segurança concluídas, a expectativa é alta. O lançamento do HANBIT-Nano é mais que um evento técnico; é um passaporte que o Brasil carimba para a nova economia espacial, uma indústria global que movimenta bilhões de dólares.

Ao unir a vantagem geográfica inigualável de Alcântara com a inovação de parceiros estrangeiros e o talento de startups brasileiras, o país se posiciona para explorar ao máximo este trunfo estratégico, prometendo impulsionar a inovação, a geração de renda e o fortalecimento do Programa Espacial Brasileiro para as próximas décadas.

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