É manipulada a capa da edição desta semana da revista Veja que classifica de “farsa” o julgamento da tentativa de golpe de Estado que começa nesta terça-feira, 2, no Supremo Tribunal Federal (STF), e tem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos réus.

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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, postou uma imagem adulterada da capa da revista, na qual a palavra “julgamento” aparece riscada. Sobre ela, há, em vermelho, a expressão “a farsa”.

A edição da Veja foi publicada na última sexta-feira, 29, e traz a imagem de Bolsonaro diante dos ministros da Primeira Turma do STF. Na capa original, disponível no site da revista, é possível ver a imagem sem alterações.

| Comparação entre a imagem manipulada (à esquerda) postada e a capa da revista Veja (à direita)

Na rede social X, Flávio Bolsonaro compartilhou a capa adulterada sob a legenda: “Numa banca perto da sua casa”. Já no Instagram, o senador escreveu a legenda: “A História mostrará quem acabou com a democracia no Brasil. Deixe aqui seu comentário”.

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Tanto no X quanto no Instagram, Flávio Bolsonaro não deixa claro que a imagem é uma montagem. Nas interações, é possível perceber que algumas pessoas acreditaram que a capa manipulada era real. “Finalmente alguém da velha mídia falando o óbvio”, escreve um internauta. Outro diz: “Rapaz, se nem a revista Veja acredita neste julgamento, quem vai acreditar?” Há ainda pessoas em dúvida, que marcaram a ferramenta de inteligência artificial do X (Grok) para checar a veracidade da imagem.

No X, é possível ver uma captura de tela com algumas das interações na postagem. No Instagram, o comportamento dos internautas foi semelhante. “Até a veja kkkkk vixi tá feio STF casa caiu ditadores corruptos”, “ninguém acredita nessa ‘imprensa’ vendida” e “Essa capa da veja é original mesmo?” foram alguns dos comentários.

Somadas, as postagens no X e no Instagram contabilizam mais de 119 mil curtidas, cerca de 9 mil comentários e ao menos 7 mil compartilhamentos.

Na avaliação de Flávio Bolsonaro, o julgamento de seu pai por tentativa de golpe de Estado configura “perseguição” e “covardia”. Com a manipulação da capa da Veja, procura passar a ideia de que o julgamento é injustificado e de que não há isenção por parte dos ministros do STF.

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A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 tem base em investigação da Polícia Federal (PF). Ela foi dividida em cinco núcleos de atuação. Jair Bolsonaro integra o principal grupo dos réus, o “núcleo 1″, também chamado de “núcleo crucial”, composto por pessoas que estariam em posição de comando. O “núcleo 1” será julgado a partir desta terça-feira, 2, pela Primeira Turma do STF.

A assessoria de imprensa de Flávio Bolsonaro foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem mais antiga com a capa adulterada foi postada por Flávio Bolsonaro. A mesma imagem foi usada por outro usuário no X, também sem identificação de que se tratava de uma montagem. O Comprova encontrou, também no X, outra versão editada da mesma capa da revista Veja, que também atacava o julgamento e que também não trazia identificação de manipulação por parte do responsável.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A legenda “Numa banca perto da sua casa” associada à capa da Veja adulterada, sem qualquer indicação de que a imagem foi manipulada, pode levar internautas a acreditar que a imagem é verdadeira, o que, de fato, aconteceu, como se percebe nos comentários destacados neste texto. Outros demonstraram dúvida, e chegaram a perguntar à IA do X se a capa era verdadeira.

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Fontes que consultamos: O site oficial da revista Veja, postagens nas redes sociais e a assessoria de imprensa de Flávio Bolsonaro.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova mostrou recentemente que homem com hanseníase foi condenado por associação criminosa no 8 de janeiro e não por “vender balas” e que vídeo com idoso com tornozeleira não tem relação confirmada com os atos de depredação em Brasília.

Notas da comunidade: Não havia “notas da comunidade” na postagem no X até o fechamento deste texto.

A checagem acima foi produzida pelo Projeto Comprova, iniciativa que reúne a NSC e outros 41 veículos de mídia do país em defesa da integridade da informação.

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