“Sou Yara Busch, filha de Herbert Busch, irmão mais moço de Leonora Busch Machado, mãe de Juarez Machado,portanto sou prima de Juarez.
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Falar de Juarez Machado,sem ser repetitiva, não é fácil hoje em dia.Foi muito talentoso,sempre tentou ampliar seus limites, e hoje ultrapassou a linha do horizonte.
Mas, falar do seu encanto por sua cidade natal e seu apego à sua família, ainda traz algo que muito me emociona.
Joinville foi o mais modesto e o mais rico ao mesmo tempo, ateliê de sua vida, e seu meio familiar, o seu maior aprendizado. Nasceu em um lar sem as vantagens das grandes somas de dinheiro, mas com todas as oportunidades de crescimento que o pouco dinheiro proporciona, e repleto de sonhos e entusiasmos. Nunca se sobressaiu por sua beleza física, ao contrário, sempre foi baixo e narigudo, mas sempre jogou bem com essa desvantagem. Ninguém soube tirar partido de seu vestir como Juarez.Ele sempre trajava” o não esperado” para aquele momento, o qual como por encanto se transformava no” ideal” aos olhos dos outros.Suspensórios,cartolas,lenços, bengalas sempre fizeram parte de seu guarda-roupa usual.Era charmoso,estiloso ao extremo. Não havia menina bonita e cobiçada que por ele não se apaixonasse. Trazia consigo ainda algumas virtudes:dançava como ninguém e conseguia ser amado por toda família de suas namoradas.
João de Oliveira Machado,caixeiro viajante,pai de Juarez e meu tio,foi um grande contador de histórias. Esperávamos todos, sua volta nos finais de semana para ouvir as novas aventuras com mulheres grandes,bonitas,seios fartos,e nádegas avantajadas, as mesmas que hoje permeiam as obras de Juarez. João tinha o incrível dom de esculpir em madeira peças maravilhosas com seu canivete. Era detalhista ao extremo, os mesmos detalhes que encontro nas obras de Juarez. Da mesma forma era exímio conhecedor de todas as variedades de pimenta, e colocava este gosto ardido também em suas conversas.Hoje encontro esta ironia picante na obra de Juarez. Além disso, João era um grande colecionador de antiguidades.Seu celeiro de achados sempre foi o interior de Santa Catarina por onde viajava.Os lugares por onde achava suas antiguidades eram as mais hilárias possíveis. A cadeira mais bonita da sala dos pais de Juarez tinha vindo do galinheiro de um sítio, onde o galo a fazia de seu trono, todas as manhãs, para anunciar o novo dia. Todas as antiguidades vinham repletas de histórias, reais, pesquisadas que serviram para desbancar os professores de História que não conseguiam competir com o encanto dos relatos do pai de Juarez.E esta maneira envolvente de relatar encontro presente nos escritos de Juarez.
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Leonora Busch Machado,dona de casa,mãe de Juarez e minha tia,sabia como ninguém trabalhar artisticamente com suas mãos, pinturas, bordados, crochês e outras tantas artes. Essas mesmas mãos sempre foram destaque na obra de Juarez, que as pintava grandes, com muitos detalhes e sempre em movimento, num dançar frenético dos
pincéis em seus dedos. Leonora sabia ver o trivial com outro olhar. Seu quintal era repleto de árvores frutíferas, e quando um cacho de bananas amadurecia, era o início de um ‘festival das bananas” com os mais variados doces, e assim se sucederam vários festivais, ” de goiabas”, “de carambolas”, “de abacates”. Ela sempre soube fazer do” pouco” um “tudo”. Um único doce, compunha toda uma mesa nas mãos da mãe de Juarez. E hoje quando observo com mais carinho os quadros do Juarez,vejo que ele consegue fazer magia com uma única cor. Essa cor se transforma em várias nuances,ganha vida e rapidamente vira um imenso colorido.Lembro que Juarez também precisava de pouco para construir uma obra de arte. Tenho um grande quadro onde ele me pintou adolescente na cozinha da casa de meus pais, totalmente com a graxa de sapatos do meu pai..uma
obra belíssima feita com muito pouco mas com tamanha maestria e criatividade. Era Leonora que sempre gostou de receber cartões em seu aniversário. Esses cartões eram lidos, interpretados num verdadeiro sarau, junto ao café de suas amigas. Também Juarez gosta de brincar com as palavras de maneira criativa , e se apaixona com os escritos como sua mãe sempre o fez.
Os Natais eram muito originais na casa de Juarez.O pinheiro sempre dançou ao som de músicas alemães(diversidade cultural que sempre fez parte da formação de Juarez), num pedestal que girava e envolvia o tronco da árvore e embevecia nossos sonhos.Na árvore chamava atenção um grande enfeite pendurado. Era um Papai Noel pilotando um modeno avião prateado,reluzente, dono de todas as faíscas que saíam dos olhos das crianças que o contemplavam.Esse avião era único, vindo das artes dos pais de Juarez.
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A família toda tinha um toque de muita originalidade,tanto que, ao ser batizado, Juarez entrou já moleque na igreja, de mãos dadas com minha mãe,sua madrinha,e foi ao padre pedir o batismo.Não era essa uma atitude comum para uma cidade tradicional como Joinville.
Juarez como toda a família tinha uma proximidade grande com o cinema, pois meu pai, seu tio,era sócio gerente do Cine Colon por muitos anos.Os anos mágicos do cinema foram vividos sob um prisma muito íntimo, pois ele fazia parte de nossa vida.Hoje ,Juarez tem no seu filho João,um estudioso e apaixonado por esta arte.
Sophia Busch,nossa avó,foi uma grande mestra na culinária.Seus doces e salgados fizeram parte das mais cobiçadas mesas de Joinville.Nunca frequentou aulas de culinária,mas suas proezas gastronômicas são todas inesquecíveis.
Juarez como um menino curioso,observador,questionou pintou e escreveu o mundo que o rodeava até encontrar sua linguagem própria. Ele teve um grande privilégio de ter nascido numa cidade como Joinville e num berço como foi sua família. Joinville por sua vez, teve também um grande privilégio de ter Juarez como seu filho ilustre, pelo carinho que ele demonstra até hoje com sua terra natal e com sua gente.Joinville nunca foi uma cidade apenas de fábricas e operários. Sempre teve artistas natos em cada uma de suas famílias.Sempre teve fadas que faziam mágicas com suas mãos em trabalhos meramente intitulados “prendas domésticas”. Uma cidade especial, cujo orgulho não eram altas torres em sua arquitetura, mas sim uma torre modesta que fazia parte dos Bombeiros locais que até hoje fazem um trabalho voluntário que orgulha a cidade.
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Juarez,sensível como todo artista, percebeu esse especial em sua cidade, que fez de sua formação uma colcha de retalhos,mas retalhos muito especiais.
Tenho muito orgulho de ser prima de Juarez Machado. Tive conhecimento de sua luta no início de carreira, sua ida à Curitiba, pois moramos muito tempo em Joinville na mesma rua.Quando partiu ,foi ele com ele mesmo, mas hoje estou consciente que levou uma valiosa bagagem de vida.
Aos 15 anos fui visitá-lo no Rio de Janeiro, num toque de mágica fui maquiada e meu rosto se transformou como eu nunca tinha me visto. E tenho com ele ainda um grande preito de gratidão. Fui uma menina com o nariz coberto de sardas, e eu odiava isto . Juarez foi o único que conseguiu me convencer que eram exatamente essas sardas que eram o meu “it”….e eu acreditei nisso até hoje.
Juarez foi o autor de muitos pontos de exclamação de minha vida!
Parabéns pelos seus 70 anos!”
