O pesquisador Alexander Christian Vibrans, professor aposentado da Universidade Regional de Blumenau (Furb), entrou para o seleto ranking de 107 cientistas brasileiros mais influentes em decisões e políticas públicas no mundo. O relatório feito pela Agência Bori e pela Overton, plataforma internacional que trabalha com ciência e políticas públicas, foi divulgado nesta quinta-feira (6) com apenas um nome vinculado a instituições de ensino de SC. O estudo considera menções em documentos estratégicos, relatórios e pareceres de governos e organizações da sociedade civil.

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Alexandre Vibrans tem 66 anos e é formado em Engenharia Florestal. Nasceu em Wetzlar, pequena cidade perto de Frankfurt, na Alemanha, mas migrou com a família para o Brasil há 37 anos e é professor do departamento de Engenharia Florestal da Furb desde 1998. No ranking de cientistas brasileiros mais influentes em políticas públicas, ele aparece na posição 91, com menções em 170 documentos e 19 artigos analisados pelos organizadores.

Veja fotos do projeto nas florestas de SC

O professor é responsável pelo Inventário Florístico e Florestal de Santa Catarina, o Floresta SC, um levantamento que coleta informações da quantidade e da qualidade dsa florestas do Estado. O estudo é uma espécie de Censo das florestas catarinenses, com medições a cada sete anos em mais de 500 pontos de vegetação nativa em SC. No total, mais de 600 árvores já foram monitoradas e novas espécies foram descobertas.

Por meio do estudo, é possível apontar quanto as árvores cresceram, quantas nasceram e quantas morreram nas florestas do Estado. Isso permite avaliar, por exemplo, a capacidade de estoque de madeira e de sequestro de carbono pela vegetação catarinense.

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Carta e elogio de Rei Charles, da Inglaterra

O trabalho com as florestas de SC rendeu uma carta com elogios públicos do então Príncipe Chales, atual Rei Charles III, da Inglaterra. No texto, ele parabeniza o professor de SC pelo levantamento da biodiversidade nas florestas catarinenses feito no inventário. Ele destacou a qualidade e beleza das publicações e a importância dos resultados obtidos.

Na época como Príncipe de Gales, Charles tinha como responsabilidade chefiar as florestas da coroa britânica e conheceu o trabalho nas florestas catarinenses por meio de um engenheiro florestal da sua equipe, que conversou com Alexander Vibrans em um congresso da área nos Estados Unidos.

— Mandamos um material para ele com todas as publicações, os livros. Ele ficou encantado e mandou esse agradecimento — relembra o pesquisador da Furb.

“Censo” das florestas de SC está na terceira medição

Uma das descobertas do estudo foi que as florestas de SC têm um aumento médio de 1,2% ao ano na capacidade de capturar carbono, o que mostra um processo de regeneração e de acumulação de carbono da vegetação catarinense.

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O inventário florestal de SC recebe recursos do governo de SC e é utilizado por órgãos públicos na análise e tomada de decisões sobre meio ambiente. O cientista de SC acredita que o impacto das publicações, que somam mais de 100 artigos em 20 anos e abordam a composição, a dinâmica e a extensão das florestas de SC, tenham motivado a presença do nome dele na lista dos pesquisadores brasileiros mais influentes em pesquisas públicas no mundo.

— O projeto é relevante porque a gente produz muitos dados, informações e conhecimento para os órgãos do Estado. Isso tem certa repercussão entre os órgãos de governo e os tomadores de decisão. Desenvolvemos uma política florestal em SC. Geramos muita informações usando licenciamentos ambientais. Isso é política pública — aponta.

A primeira medição do “censo” nas florestas de SC ocorreu entre 2007 e 2010. A segunda, de 2014 a 2020. Atualmente, está em andamento a terceira medição nas árvores, que começou em 2024 e deve ir até 2027. O trabalho já contou com a participação de até 250 pessoas e atualmente mobiliza cerca de 30 participantes, entre professores, bolsistas e estudantes da Furb.

— Eu sempre comparo nosso projeto Floresta SC com o IBGE. O IBGE faz o Censo de todas as pessoas, nós estamos fazendo o Censo das árvores, por amostragem. Nós “entrevistamos”, falamos com as mesmas árvores pela terceira vez. Então, a gente sabe quem sobreviveu, quem morreu e quem cresceu, o quanto cresceu. Isso é relevante porque só assim a gente tem matéria-prima para o manejo e a proteção das florestas — conta.

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Outros nomes na lista

Além do pesquisador de SC, a lista de cientistas brasileiros mais influentes em políticas públicas ainda tem nomes como Pedro C. Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e reconhecido por pesquisas durante o período da pandemia de Covid-19, a ex-coordenadora da Mercedes Bustamante (Capes), Mercedes Bustamante, e a cardiologista Ludhmila Hajjar, conhecida por ser médica de famosos, referência em tratamento de Covid-19 e por ter recusado convite para ser ministra da Saúde durante o governo de Jair Bolsonaro.

Veja a íntegra da carta de Rei Charles a pesquisador de SC

Documento foi enviado pelo então príncipe Charles ao pesquisador Alexander Vibrans, em 2015:

Embora eu tema que esta mensagem esteja muito atrasada, gostaria de expressar minha imensa gratidão pelos livros que gentilmente me enviou em novembro de 2014, após seu encontro com o Sr. Geraint Richards no Congresso Mundial de Silvicultura em Salt Lake City.

Os livros são maravilhosamente evocativos, belamente produzidos e absolutamente fascinantes, e me permitiram aprender mais sobre sua região. Eles nos lembram da importância vital das causas da conservação das florestas e paisagens tropicais e proporcionam uma ótima visão da notável diversidade de sua região e suas muitas espécies.

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Embora eu não visite o Brasil desde 2009, continuo acompanhando de perto os acontecimentos no país, incluindo o Código Florestal e a política agrícola, a demarcação de reservas indígenas, as taxas nacionais de desmatamento, a biodiversidade no Cerrado, a restauração da Mata Atlântica e a seca em São Paulo. Não posso deixar de sentir, assim como o mundo em geral, que seu belo país se encontra numa encruzilhada em relação às suas escolhas presentes e futuras – uma escolha entre viver em harmonia com o meio ambiente natural do qual dependemos ou em conflito com ele. Só posso esperar e rezar para que o Brasil demonstre liderança e nos conduza na direção certa, para o bem de todos nós, mas principalmente para o bem de nossos filhos e netos…

Agradeço novamente sua gentileza em me enviar os livros e transmito a você e seus colegas meus mais sinceros votos de sucesso por este valioso trabalho.