O Paradigma Cine Arte, em Florianópolis, anunciou na manhã desta terça-feira (1º) o cancelamento de um debate sobre o documentário “Sem Chão”, previsto para esta quarta-feira (2), afirmando ter recebido “inúmeras manifestações de ódio”. A decisão, conforme a administração, foi tomada para garantir a segurança do público.
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“A decisão foi tomada visando a segurança do nosso público, frente às inúmeras manifestações de ódio recebidas. O Paradigma Cine Arte é um espaço plural, democrático e que apoia a diversidade e a livre expressão. Nosso compromisso maior é com arte cinematográfica. Não podemos aceitar nenhuma forma de intolerância e preconceito”, afirma o comunicado publicado nas redes sociais do cinema.
A exibição do documentário foi mantida para as 19h. “Sem Chão” (“No Other Land”, nome original) mostra a destruição da região conhecida como Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada, por soldados israelenses. A produção venceu o Oscar de Melhor Documentário neste ano.
Os convidados do debate seriam Muhamad Subhi Mahmud Hasan Husein, doutor em Ciências da Linguagem, um dos fundadores da Frente Palestina Livre de Santa Catarina e coordenador regional da Rede Universitária em Solidariedade ao Povo Palestino; e Vanessa Salum, doutoranda em Literatura (UFSC) e coordenadora da Frente Palestina Livre de Santa Catarina.
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Veja a postagem do Paradigma Cine Arte
Paradigma nega violência física
Procurado pelo NSC Total, o Paradigma negou que tenha recebido ameaças de violência física, mas disse que o cancelamento visa garantir um ambiente seguro e saudável aos clientes e debatedores. O cinema não quis se manifestar oficialmente sobre o cancelamento.
Documentário aborda conflitos entre israelenses e palestinos
“Sem Chão” documenta a destruição e uma série de tentativas de deslocamento forçado em Masafer Yatta, entre 2019 e 2023, contadas a partir da perspectiva dos palestinos. A obra também mostra a aliança que se desenvolve entre o ativista palestino Basel Adra e o jornalista israelense Yuval Abraham, dois dos quatro cineastas por trás do filme.
Além do Oscar, a produção ganhou prêmio de melhor documentário no Festival de Cinema de Berlim em fevereiro passado e o mesmo prêmio no Gotham Awards.
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O filme, porém, enfrentou várias dificuldades para conseguir distribuição nos Estados Unidos, devido a “claras razões políticas”, conforme o diretor Yuval Abraham. A equipe optou pela autodistribuição, organizando exibições em várias cidades americanas.
Na segunda-feira passada (24), um dos diretores do filme, Hamdan Ballal, foi sequestrado e espancado por colonos israelenses, de acordo com uma denúncia feita por Abraham. Ele teria sido agredido, vendado e em seguida levado a uma base do exército israelense.
Na quarta-feira (26), dia seguinte à libertação de Ballal, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, divulgou uma nota condenando ações que “prejudicam artistas”, sem citar nomes. Devido à repercussão negativa, dois dias depois, a Academia voltou atrás e enviou uma carta com um pedido de desculpas pelo seu posicionamento anterior.
“A Academia condena a violência desse tipo em qualquer lugar do mundo. Abominamos a supressão da liberdade de expressão em quaisquer circunstâncias”, diz um trecho.
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