Imagine acordar e já precisar vestir meias, touca e pantufas. Em Urupema, cidade da Serra Catarinense que ostenta o título de Capital Nacional do Frio desde dezembro de 2021, essa é a realidade durante boa parte do ano. 

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Para o jovem Marcelo Henrique Pagani, de 20 anos, morador da cidade, viver entre geadas e temperaturas negativas é desafiador, mas também especial.

 — Gosto muito do inverno, pra mim é a melhor estação do ano, ainda mais aqui em Urupema. É a Capital Nacional do Frio, mas é um frio gostoso, que eu amo sentir. Vivi a vida inteira aqui, então acho que já criei uma resistência. O frio virou o ponto alto do meu ano. Quando ele chega, eu já fico animado pra sair, pra ver tudo branquinho, congelado, e aproveitar cada momento dessa estação que eu amo — conta Marcelo, que está na terceira fase do curso de Jornalismo.

Frio de rotina e rituais matinais

O frio, que atrai turistas curiosos para ver neve e paisagens congeladas, faz parte da rotina do morador. Para enfrentá-lo, ele criou uma espécie de ritual matinal.

— Sempre deixo tudo preparado: mais um cobertor, roupa separada, pantufa do lado da cama. Se você já levanta passando frio, fica muito mais difícil se aquecer depois — explica.

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Desafios diários e memórias congeladas

Mesmo sendo acostumado com as baixas temperaturas, Marcelo admite que há dias em que o frio é quase insuportável.

— Teve um ano em que a calçada da minha casa congelou completamente. Muita gente veio aqui para Urupema, a cidade ficou movimentada, porque o frio traz muito movimento. Eu sei que aquele dia ficou muito marcado pra mim por conta daquela calçada congelada. E eu fiquei: meu Deus, está tão frio assim que está congelando poça de água. E aquilo, pra mim, foi o dia mais frio que eu já presenciei até hoje — relembrou o jovem.

Para ele, manter o corpo aquecido é o maior desafio do inverno. Roupas em camadas, aquecedores e até truques antigos fazem parte da sobrevivência.

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— Já dormi com garrafa pet cheia de água quente, e quando ela estourava era aquele caos. Também já dormi em roda da lareira, todo coberto. No frio vale tudo pra se esquentar — relembra, rindo.

Loucuras e tradições de inverno

Com o frio extremo, também vêm situações inusitadas. Marcelo se lembra de um episódio envolvendo um turista em um dos invernos mais rigorosos:

— Um rapaz simplesmente tirou a camiseta no meio da praça, ficou só de calça, pulando, gritando. Todo mundo encasacado e ele lá, doido de feliz.

Além das curiosidades, ele destaca as delícias gastronômicas típicas da estação:

— No frio, não tem coisa melhor do que uma boa minestra (aquela sopinha de feijão com macarrão) com queijo e vinagre, ao lado do fogão a lenha. E claro, o pinhão, que é tradição por aqui.

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Turismo na Capital Nacional do Frio

Marcelo vê com bons olhos o movimento turístico que o frio traz à cidade.

— Eu acho legal quando o pessoal de fora vem e fica impressionado com a neve e o frio. Às vezes, pra mim, aquilo é normal, mas eu também me animo ao ver tudo congelado, tudo branquinho. São questões de costume, assim como a gente que vai ver o mar e fica todo empolgado, eles veem a neve e ficam do mesmo jeito. É muito legal ver a alegria e a experiência deles com esse frio todo. 

Mesmo com as temperaturas congelantes, o que faz ele continuar em Urupema é o que a cidade oferece.

— Aqui é um diamante ainda sendo descoberto. A beleza natural, as araucárias, o pôr do sol, as aves… É um lugar seguro e acolhedor.

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