Com a chegada do inverno, que iniciou no fim de junho, os nevoeiros tendem a ficar mais frequentes em todas as regiões de Santa Catarina e, pelo risco que trazem à aviação, deixam os aeroportos em alerta para não deixarem de funcionar mesmo com formação do fenômeno. Apesar de ter cancelado as operações em quatro ocasiões distintas em 2024 devido a nevoeiros, o Aeroporto de Florianópolis, o Floripa Airport, conta com tecnologia e infraestrutura que contribuem para que feche com menos frequência do que outros da região Sul.
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De acordo com o meteorologista Piter Scheurer, os nevoeiros se formam por causa do ar frio e úmido presente nas primeiras camadas da atmosfera. Isso faz com que o ar fique resfriado e forme nuvens do tipo stratus e os nevoeiros. Mais frequentes no inverno, os nevoeiros se formam principalmente em dias de transição de massas de ar frio, dias úmidos, frios e chuvosos.
Segundo o meteorologista, a formação de nevoeiros é muito comum em todo o litoral de Santa Catarina, incluindo Florianópolis, principalmente quando se tratam de eventos formados no mar que se deslocam para a costa — os chamados nevoeiros marítimos. De acordo com o instrutor e examinador de pilotos, Eduardo Falcão, os nevoeiros, muitas vezes, podem atingir apenas uma região específica.
— Esses nevoeiros, às vezes, não transpassam os morros da região. Isso nós verificamos muito aqui em Florianópolis. Por exemplo, acontece de o aeroporto estar aberto e o restante da ilha é tomado pela condição do nevoeiro. Às vezes, ele se desloca e faz com que o aeroporto entre em uma zona de fechamento — aponta.
Restrição em voos
Falcão explica que são necessárias restrições quanto ao voos durante nevoeiros, principalmente por causa da baixa visibilidade. Para que um avião possa pousar com uma condição de nevoeiro, é necessário que o aeroporto tenha um equipamento chamado Instrument Landing System (ILS), um sistema de navegação que fornece informações de pouso e permite que o piloto siga em segurança na pista.
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Esse tipo de equipamento tem três categorias, que se diferenciam principalmente pela precisão das informações que ele fornece ao piloto: a primeira, permite que o piloto aviste até 60 metros de altura da pista com visibilidade. Já a segunda, permite aproximações e pousos precisos em 30 metros, enquanto a terceira categoria facilita pousos com visibilidade muito baixa.
O instrutor Falcão explica que quanto menos o piloto enxerga, mais dificuldade de enxergar detalhes como pássaros que estão em volta do avião ou animais na pista, por exemplo.
— No pouso, o piloto precisa ter uma maior visibilidade do toque na pista. Por mais que os equipamentos a bordo indiquem a posição precisa da pista, com certeza um cuidado visual que ele possa ver o ambiente onde está pousando traz muito mais segurança — explica.
Aeroporto de Florianópolis é pouco afetado
Segundo o aeroporto de Florianópolis, eles possuem o equipamento ILS de categoria I — o que permite que o piloto aviste até 60 metros de altura da pista com visibilidade. Segundo eles, mesmo em dias claros, o aparelho também é utilizado para aumentar a segurança do voo.
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— Ao respeitar a visibilidade mínima necessária para a categoria do ILS, voar em condições de neblina pode ser tão seguro quanto em dias sem nuvens. Por isso que os voos podem ser cancelados ou atrasados, justamente para garantir que esses limites sejam respeitados — diz.
Apesar dos quatro fechamentos e cancelamentos de voos no último ano, Falcão explica que o aeroporto de Florianópolis é um dos que menos fecha no Brasil e consegue operar mesmo em condições de difícil visualização. A continuidade das operações é possível graças a treinamentos das equipes, com inspeções da pista para garantir segurança.
— As tripulações têm que ser treinadas rotineiramente, o que também carece custos operacionais de todas as companhias, bem como encarece a questão de homologações que o avião precisa ter, com manutenções mais rotineiras sobre esses equipamentos — afirma o instrutor.
A maioria dos aviões comerciais já possuem equipamentos necessários para a operação nessas condições. Segundo a administração do Floripa Airport, a categoria do ILS é determinada de acordo com as condições do aeroporto, levando em consideração relevo e meteorologia.
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O monitoramento e reporte das condições meteorológicas são feitos pela torre de controle do aeroporto através da publicação do Meteorological Aerodrome Report (METAR), onde as informações meteorológicas são atualizadas de hora em hora, conforme explica o aeroporto.
Segundo o instrutor Falcão, quando o nevoeiro acontece, ele segue até por volta das 9h. Neste período ocorre um acompanhamento e, se não for seguro, o aeroporto pode permanecer fechado.
— Se houver uma cobertura de nuvens que não permita que o sol aqueça mais rapidamente a superfície, aí sim esse nevoeiro deve perdurar por mais tempo — diz.
Nevoeiros x tempestades
O profissional conta que o risco de uma tempestade, comparado com o de um nevoeiro, é maior. O nevoeiro restringe visibilidade, mas com equipamentos adequados, o piloto consegue manter a aeronave completamente guiada até o pouso. Já no caso da tempestade, pode haver instabilidade do avião no ar, o que pode ser, por vezes, uma situação crítica.
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— O nevoeiro acontece sempre em ar calmo, em atmosfera estável, o que deixa o voo um pouco mais fácil de gerenciar — explica.
E se o voo for cancelado?
Caso o voo seja cancelado pelas condições climáticas, é necessário que o cliente procure a companhia aérea imediatamente para remarcação ou reembolso, como explica o advogado Orlando Celso da Silva Neto, especialista em direito dos consumidores.
Se o cliente não estiver na cidade em que reside, a companhia aérea deve propiciar, em casos de cancelamento ou atrasos superiores a uma hora, suporte de comunicação, como internet e telefone.
Depois de duas horas, é necessário fornecer alimentação. Quando o atraso passa de quatro horas, a companhia precisa fornecer hospedagem — em caso de pernoite no aeroporto — transporte ao alojamento e alimentação. Caso o consumidor esteja no próprio domicílio, é necessário que a empresa forneça apenas transporte do aeroporto até a casa, e da casa até o aeroporto para o próximo voo.
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A compensação também pode ser em dinheiro, mas cabe ao cliente decidir se aceita ou não. Nesses casos, não cabe indenização em função apenas do atraso ou cancelamento.
— Mas caberá indenização se a companhia não cumprir suas obrigações e, em virtude disso, o consumidor for exposto a situações vexatórias, muito desagradáveis, de sofrimento psíquico — aponta.
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