“Mudança, graças a Deus”. Este é o sentimento de Khaled Yasin, de 40 anos, sobre a queda do ditador da Síria, Bashar al-Assad, que estava no poder há 24 anos. No domingo (8), rebeldes começaram a tomar regiões do país em uma ação acelerada, que resultou na tomada de Damasco, capital da Síria, e fez o presidente deixar a nação. Natural do país do Oriente Médio, o comerciante, que mora há 10 anos em Florianópolis, comemorou a situação do fim de semana, mesmo acompanhando de longe.
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— Eu acho que vamos passar um pouco por uma época difícil, de bagunça, mas parece estar acontecendo mais rápido do que eu imaginava. E a gente espera que sempre para melhor — diz ele, aliviado.
Khaled ainda tem família na Síria. Onde nasceu, moram um tio e uma tia, além do avô, com quem o comerciante mantêm contato. Apesar dos conflitos em Damasco, o comerciante diz que tanto ele como a família estão felizes.
— O povo está feliz, mas ainda estão andando para uma coisa que não é conhecida, porque a gente não sabe o que é liberdade. Muita gente nasceu vendo o presidente Bashar al-Assad no governo, e aí todo mundo está esperando, ansioso, “o que que a gente faz?”. Mas está tranquilo, ninguém tocou ninguém, não tem vingança. Estamos rezando e torcendo, sempre para melhor — conta.
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Antes de chegar a Florianópolis, em setembro de 2014, Khaled e a família haviam se mudado dentro da Síria cerca de três ou quatro vezes, em busca de melhores condições de vida.
— A gente saiu de lá porque não conseguíamos mais ficar em nenhum lugar, sem dinheiro. A gente saiu da cidade onde a gente foi criado para a capital. Depois, voltamos da capital para outro lugar — relembra.
Após as mudanças, eles deixaram a Síria de vez quando não tinham dinheiro nem para pagar o aluguel. Na época, se mudaram para o Líbano, onde morava um tio de Khaled que já havia deixado o país por dificuldades. Lá, eles foram hospedados pelo parente e encontraram trabalho.
— Aí conseguimos uma vida um “pouquinho” melhor, mas também estava muito ruim por lá. E aí apertou o racismo e o país encheu muito. Chegou a quase o dobro da população, porque o Líbano é um país muito pequeno — conta.
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A tensão entre a população libanesa e os refugiados sírios, apontada por Khaled, é objeto de estudo há mais de uma década. Em 2013, pesquisas já indicavam que cidadãos da Síria nesta condição estavam sujeitos a racismo e discriminação. Na ocasião, a Agência para Refugiados das Nações Unidas (Acnur) estimou que os refugiados sírios já ultrapassavam os dois milhões, sendo que 97% deles se refugiaram nos países vizinhos e com fronteiras com a Síria, como Jordânia, Turquia, Iraque e Líbano.
Foi nesta época que Khaled deixou o país, com uma passagem só de ida para Florianópolis. Vindo direto do Líbano, ele conta que não tinha nem noção do idioma que era falado no Brasil: “eu acho que eles falam brasileiro”, dizia ele aos amigos.

Ele ficou sozinho na Capital por oito meses. Depois, chegaram a mãe, a irmã, o irmão e os tios. Agora, ele mora em Coqueiros, na Grande Florianópolis, e tem uma loja de produtos naturais no Centro da cidade.
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*Sob supervisão de Luana Amorim
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