O conflito entre a Rússia e a Ucrânia superou dois meses e, desde então, causa impactos no mundo inteiro. Um deles é na exportação de fertilizantes agrícolas, já que o país comandado por Vladimir Putin é um dos maiores exportadores do produto, mas tem dificuldade na comercialização por conta das sanções comerciais motivadas pela guerra. Neste cenário, no entanto, o Porto de São Francisco do Sul registrou crescimento de 26% na importação do produto, se comparado a 2021.
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Cleverton Vieira, presidente da instituição, afirma que, historicamente, a Rússia sempre teve baixa participação na movimentação de fertilizantes no porto da cidade e, graças a parcerias com outros países do Oriente Médio e também da América do Norte, a unidade alcançou números expressivos.
Uma medida adotada pela unidade para prevenir possíveis impactos do conflito no Leste Europeu foi uma resolução publicada em março, que deu preferência para a atracação de navios com fertilizantes. A decisão, segundo Vieira, seguiu uma orientação do Ministério da Infraestrutura, para assegurar o abastecimento do produto no país.
São Chico recebe 6% de todo fertilizante enviado ao país
Viera diz que a unidade já vinha aperfeiçoando a capacidade de descarregamento de mercadorias. Para ele, isso cria vantagens perante os outros portos da região, já que o tempo de espera dos navios para atracar na cidade é inferior e o tempo da descarga, consequentemente, se torna mais eficaz.
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– Também existem outros fatores como, por exemplo, que, desde o ano passado, os produtores rurais tinham uma perspectiva de uma boa produção de grãos em 2022 e, por isso, anteciparam a compra de adubo, se somando à perspectiva do início da guerra – aponta o presidente do porto, justificando os bons resultados.
Somente no primeiro trimestre deste ano, foram 632 mil toneladas de fertilizantes que desembarcaram em São Francisco do Sul. O maior volume de carga foi registrado em fevereiro, quando navios descarregaram 301 mil toneladas. Já em janeiro e março, foram 165 mil toneladas em cada mês. Este volume representa cerca de 6% de todo adubo que chega ao Brasil.
– Isso também foi um dos motivos que nos levou a atribuir esta preferência de atracação, porque, no nosso entendimento, isso é importante para garantir o abastecimento do produtor rural catarinense e brasileiro – aponta Vieira.
Cada tonelada do produto custa em torno de 600 dólares e, nesses primeiros meses de 2022, se convertido em reais, foram movimentados quase R$ 2 bilhões. O adubo chega em pó e em outros formatos de países como Omã, Irã e Egito, no Oriente Médio, e Canadá e Estados Unidos, na América do Norte.
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Depois de ser descarregado em São Francisco do Sul, são encaminhados para diferentes estados do Brasil. Em média, 20% do produto fica em Santa Catarina, e o restante é levado para Paraná (20%), Mato Grosso do Sul (20%), Mato Grosso (20%), Goiás (15%) e São Paulo (5%). Vieira explica que os fertilizantes são essenciais para plantações de milho, soja, arroz e trigo. Inclusive, a importação de grãos também registrou aumento.
Situação do Estado e impacto na economia
Rogério Goulart Junior, analista de socioeconomia da Epagri, afirma que o aumento da entrada de fertilizantes pôde ser percebido em todos os portos de Santa Catarina. Em relação ao primeiro trimestre de 2021, houve crescimento de cerca de 27,3% nas importações catarinenses.
No entanto, conforme explica Goulart, o Estado representa apenas 6% do total que é importado ao país. E, no primeiro trimestre de 2022, o Brasil apresentou redução na importação de fertilizantes de 8,8%, em relação ao mesmo período de 2021.
– Já o impacto nas cadeias produtivas agrícolas está na participação dos fertilizantes no custo de produção. Com aumento de 125,5% médio nos preços dos fertilizantes importados, nos dois primeiros meses de 2022 com relação ao mesmo período do ano anterior os efeitos devem ser sentidos, principalmente na próxima safra de verão – prevê.
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Na economia, os produtos que serão mais impactados por apresentarem maior participação dos fertilizantes nos custos de produção são: arroz, com 74% dos custos oriundos da compra de fertilizantes, seguido do trigo (70,2%), milho (64,9%), feijão (61,9%), soja (47,9%); além dos hortifrutis que podem variar a participação de adubos e fertilizantes (N, P, K) entre 4% a 20% dos custos de produção no campo.
Segundo o analista de socioeconomia da Epagri, o conflito entre a Rússia e Ucrânia em impactado o setor com a elevação dos preços das commodities internacionais agrícolas e energéticas devido a redução da oferta dessas categorias no mercado mundial, além da diminuição dos estoques mundiais que seriam contratados para as próximas safras no Brasil e no mundo.
– Como também o reflexo na instabilidade da economia mundial com dificuldades na logística de distribuição, e comércio externo entre os países com aumento no preço do petróleo, fretes, seguros e contratos das grandes empresas de contêineres. E ainda a instabilidade dos mercados que inflaciona os preços na Europa e no resto do mundo – explica.
Aumento na importação
Apesar de a Rússia representar uma potência na exportação dos fertilizantes e estar sofrendo sanções comerciais, Goulart diz que não chegou a faltar o adubo no Estado neste período. De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), ainda há estoques nacionais até junho de 2022, mas para a próxima safra de verão ainda estão sendo renegociados os contratos com valores acima dos últimos anos.
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– Já houveram e ainda estão sendo executadas negociações para garantir a compra de insumos agrícolas para as próximas safras de verão e inverno de 2023, com viagens de negócios de grandes empresas do setor agropecuário, no de carnes e grãos principalmente – diz.
Com o aumento da participação de países do Oriente Médio e perspectiva de aumento do Canadá, EUA e China no fornecimento de fertilizantes, a expectativa é de aumento na importação em SC e no Brasil.
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