O projeto Cinema e Alzheimer, coordenado pelo pós-doutorando da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), André Carvalho, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), tem levado à comunidade de Florianópolis, desde dezembro de 2024, exibições de filmes com a temática relacionada à demências.

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Toda primeira segunda-feira do mês, às 18h30min, no Auditório Elke Hering da Biblioteca Universitária Central, no Campus da Trindade da UFSC, as projeções de filmes são realizadas para quem tiver interesse, sem custo algum. Os longas são de diversos países, como Estados Unidos, Coréia do Sul e, inclusive, produções brasileiras.

Apesar de ter o nome “Alzheimer”, a intenção do projeto é exibir filmes que falem sobre diferentes demências, síndromes que se caracterizam por um declínio cognitivo que afeta diversos campos da saúde, incluindo memória, raciocínio e linguagem. Dessa forma, o interesse de André é mostrar como a questão é representada na televisão, no cinema e na literatura, com o relato de cuidadores e familiares de pessoas com demência.

— É um projeto justamente para chegar na comunidade, já que a pesquisa geralmente fica no meio acadêmico e às vezes não mostra resultados imediatos, mas o projeto de extensão tem essa função de levar a universidade para as pessoas, ou pelo menos trazer as pessoas da comunidade para a universidade — explica.

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Seleção de filmes

Para André, a melhor maneira de buscar a comunicação com a comunidade foi a seleção de filmes, entre documentários e ficções, tentando abranger aqueles fora do leque de Hollywood.

O estudante conta, ainda, que sempre está aceita recomendações de outras pessoas para criar a agenda de exibições, mas que procura “oferecer qualidade nos filmes”.

— Filmes que não debochem, filmes que não simplifiquem muito a situação, filmes que ofereçam alguma coisa diferente entre cada um, para a gente refletir — explica.

O último exibido foi a produção “Meu Pai”, que narra as atribulações de uma filha, vivida pela atriz Olivia Colman e seu pai, com o ator Anthony Hopkins, durante o progresso de uma síndrome demencial.

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— O filme tenta mostrar o Alzheimer da perspectiva de quem está sofrendo, que é muito diferente de quem está assistindo. Também tem uma questão, até em termos éticos, de pensar que o cinema só quer representar o outro, representar quem está sofrendo, quem tem uma doença ou achamos, também, que outra pessoa tem o direito de se representar, de falar de si — relata.

Conversas pós exibições

Após os filmes, também são realizados debates com o público para que cada pessoa possa compartilhar suas experiências com o assunto. Ele conta que, desde que as primeiras exibições, percebe que as pessoas ficam tocadas após as exibições e elaboram opiniões sobre o tema. Além disso, convidados especiais também participam das conversas.

Para ele, as sessões são uma forma do público perceber uma relação ética com representação das demências, com “reconhecimento e autoanálise”.

— [Os filmes] atraem essas pessoas curiosas e pessoas que gostam de cinema. É uma chance de ver filmes que não estão circulando tanto por aí — diz.

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Caso na família

Apesar das exibições terem começado em dezembro, o projeto iniciou em agosto de 2024 a partir de um interesse de André, que ainda não tinha aparecido durante sua trajetória acadêmica. Uma pessoa da família do pós-doutorando foi diagnosticada com uma demência, que levou tempo até ser esclarecida para o restante dos familiares.

Para ele, esse é um problema no diagnóstico: não saber exatamente o que está acontecendo com o familiar a partir das características que ele apresenta.

— As coisas são muito complicadas, individualizadas e cada história é uma história muito diferente. A partir disso, eu trouxe coisas da minha formação. Estou estudando no campo das Letras ainda, na teoria literária. Então, trouxe disso para estudar literatura e demência — aponta.

André também mantém contato constante com grupos de apoio da Associação Brasileira do Alzheimer, com terapeutas ocupacionais e professores que promovem reuniões e grupos nas redes sociais para familiares e pessoas que possuem demência. O objetivo é trocar informações de saúde e, também, de apoio, com contato humano.

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