A identificação do pianista brasileiro Francisco Tenório Júnior, quase 50 anos após o desaparecimento, trouxe um desfecho para uma história cheia de mistérios. O músico sumiu em Buenos Aires em 18 de março de 1976, durante uma viagem de trabalho.

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Tenório estava na capital argentina para uma série de apresentações ao lado de Toquinho e Vinícius de Moraes. O teatro Gran Rex estava lotado na noite em que ele subiu ao palco, elogiado como um dos maiores nomes da música instrumental brasileira e conhecido como mãos de ouro.

Horas depois, deixou um bilhete no hotel avisando que sairia para comer um sanduíche e comprar um remédio. Ele desapareceu na madrugada, a poucos dias do golpe militar que começaria no país.

A busca começou imediatamente. Vinícius de Moraes percorreu hospitais, necrotérios e delegacias para tentar encontrar o amigo.

O baterista Mutinho, que esteve com ele naquela noite, lembra que o pianista era totalmente dedicado à música e não se envolvia em política. Rumores na época apontaram que a aparência, marcada por barba e óculos grossos, poderia ter levado a uma confusão com um militante.

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Pianista brasileiro foi identificado 49 anos após sumiço

Por anos, a família e os amigos não tiverem respostas. A reviravolta veio com o trabalho da Equipe Argentina de Antropologia Forense, responsável por identificar vítimas da ditadura desde a redemocratização.

O grupo encontrou o registro de um homem morto dois dias após o sumiço do pianista e encaminhou o caso para verificação. A análise das digitais solicitada a um procurador brasileiro trouxe a confirmação de que o corpo era de Tenório Júnior.

Os peritos concluíram o músico foi sequestrado e teve o corpo deixado em um terreno baldio com cinco tiros, método usado para simular confronto durante o período de repressão militar.

Para a filha, Elisa Cerqueira, o caso poderia ter sido solucionado na época. Ela afirma que o rosto estava “intacto” quando encontrado e acredita que informações foram ocultadas.

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A viúva, Carmem Cerqueira, que estava grávida do quinto filho quando o marido desapareceu, morreu há seis anos sem saber o que aconteceu.

O caso faz parte do contexto da Operação Condor, aliança entre ditaduras do Cone Sul que deixou ao menos outros 20 brasileiros desaparecidos na Argentina, ainda sem identificação.

*As informações são do g1.