É possível dizer que Isabel Marques testemunhou as mudanças da pequena Praia da Bacia da Vovó, em Penha, bem de perto. Aos 45 anos, a paranaense cresceu passando as férias no imóvel de veraneio dos avós. A cada verão foi percebendo o aumento na procura de banhistas pelo local, um comportamento que se repete em outros refúgios longe da badalação das famosas praias do Litoral catarinense.

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No caso da Bacia da Vovó, são cerca de 180 metros de faixa de areia cercada de árvores e pedras que fica ainda menor diante de tanta gente. Com poucos estacionamentos ao redor, a limitação de banhistas parece ser definida por essa falta de espaço. A característica, inclusive, é um dos maiores incômodos para Isabel. A todo momento frequentadores tentam deixar o carro no terreno da casa de praia da família dela:

— Toda hora tem gente pedindo, isso sem contar outros inconvenientes. Eu já cheguei aqui e tinham pessoas assando churrasco no quintal. Já peguei um cara fazendo cocô na minha garagem — revela.

A falta de infraestrutura é realmente o maior desafio para a prefeitura, analisa a secretária de Turismo, Susan Corrêa. Junto com o boom protagonizando por praias que antes eram coadjuvantes vem a necessidade de melhorar a oferta de serviços básicos como banheiros, duchas, lixeiras, sinalização, postos de guarda-vidas e fiscalização. O governo municipal afirmou que está investindo nesses itens através de parcerias público-privadas. No começo de janeiro, por exemplo, foi instalado um chuveiro na Bacia da Vovó.

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— Penha tem três praias certificadas pelo Bandeira Azul, que é uma certificação internacional que confere balneabilidade, segurança, acessibilidade e educação ambiental a essas praias. Entre elas está a Bacia da Vovó, que recebeu desde então muitas ações de melhorias — diz a secretária.

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Lazer e trabalho

Quem conhece a região dá um jeitinho de driblar os contratempos com a infraestrutura. Juliano Santana, a esposa e um casal de amigos chegaram bem cedo em um dia de sol de janeiro e conseguiram uma vaga na rua para deixar o veículo. Com a caixa térmica lotada de comida e bebida, fizeram uma pesquisa na internet para definir qual praia conheceriam naquele dia e acabaram por parar na Bacia da Vovó. Gaúchos moradores de Camboriú, o casal Santana gostou do que viu: uma praia tranquila e lotada de crianças.

Se não tivessem optado por trazer tudo de casa, os amigos poderiam ter matado a sede no carrinho de Elixandra Nunes, que vende água, suco e caipirinha. A chefe de cozinha viu na falta de opções aos turistas uma oportunidade de renda extra. Moradora de Penha há mais de 10 anos, veio com as duas filhas para passar o ano novo com os parentes, gostou e ficou. De outubro até o fim do verão “bate ponto” todos os dias na Bacia da Vovó ao lado da amiga, que oferece espetinhos aos clientes.

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O dinheiro das vendas faz a diferença em momentos importantes. Foi com ele que Elixandra conseguiu mobiliar toda a casa com móveis planejados, orgulha-se. Também testemunha da evolução do ponto turístico há quase uma década, a empreendedora lembra que pouco antes da pandemia a procura começou a se intensificar.

— Isso aqui quando está cheio mesmo não dá para andar na areia. No final do dia fica um monte de lixo acumulado — descreve.

Susan diz que a intenção é instalar novas lixeiras, que são insuficientes em determinados pontos. A secretária complementa que o pós-pandemia tem sido forte para o turismo. Apesar de não ter números concretos, a prefeitura acompanha o crescimento com base na quantidade de viajantes que chegam ao aeroporto de Navegantes e pelo consumo de água tratada. Para ela, esse aumento é explicado “um pouco devido à própria recuperação do mercado e das companhias aéreas” e outro tanto pelo aumento do dólar, que tem trazido mais estrangeiros à cidade, que é berço do Parque Beto Carrero.

Cuidado com as pessoas e o meio ambiente

Alheia à badalação do Litoral, Isabel sempre preferiu um tranquilo contato com a natureza. São poucos metros que separam a faixa de areia da casa dela, que tem um pavimento, é de tijolos à vista e possui muro tão baixo que é preciso se curvar para abrir o portão. Da enorme varanda viu a restinga mudar, os poucos frequentadores se tornarem muitos e a especulação imobiliária valorizar um cantinho que antes ficava escondido.

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Ganhar holofotes tem um preço que pode ser alto. A maior questão é equilibrar a “saída do anonimato” com um desenvolvimento sustentável, acredita — e deseja — Isabel.

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