No coração de Sergipe, aninhada a quilômetros de Aracaju, encontra-se Itabaianinha, uma cidade que por décadas ecoou pelo Brasil e pelo mundo como a “Capital dos Anões”.

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Essa alcunha peculiar não surgiu por acaso, mas sim pela concentração singular de moradores com nanismo, onde a maioria se situa abaixo da marca de metro e centímetros de altura.

A história desta comunidade é um fascinante entrelaçar de genética, isolamento geográfico, atenção midiática e, acima de tudo, a resiliência de seus habitantes.

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Por que a cidade tem tantos anões?

A alta incidência de nanismo em Itabaianinha tem suas raízes fincadas no isolamento geográfico do antigo povoado de Carretéis.

Essa localidade, outrora distante e com pouca interação com outras comunidades, viu florescer uma linhagem com uma predisposição genética para o nanismo pituitário, mais precisamente a Deficiência Isolada do Hormônio (DIGH).

Estudos apontam que essa condição se propagou principalmente através de casamentos consanguíneos entre os moradores de Carretéis, uma prática comum devido à falta de contato com indivíduos de outras regiões.

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Essa endogamia aumentou significativamente a probabilidade de os filhos herdarem o gene recessivo responsável pela DIGH, resultando em uma concentração notável de pessoas com essa condição.

Calcula-se que existam aproximadamente oito gerações de anões em Itabaianinha.

DIGH: a marca Genética de Itabaianinha

O tipo de nanismo predominante em Itabaianinha é o pituitário, caracterizado pela Deficiência Isolada do Hormônio (DIGH). Diferentemente de outros tipos de nanismo, a DIGH em Itabaianinha se manifesta com membros superiores e inferiores proporcionais ao corpo.

Os adultos com essa condição geralmente possuem uma estatura entre cento e cinco e cento e trinta e cinco centímetros, conferindo-lhes uma aparência corporal semelhante à de crianças de sete a oito anos.

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A causa dessa deficiência reside em uma mutação genética que impede a liberação do hormônio do crescimento, crucial para o desenvolvimento físico normal.

Pesquisas indicam que a frequência fenotípica da DIGH no povoado de Carretéis chegou a ser de um para cada trinta e duas pessoas, um índice extremamente elevado em comparação com a média mundial.

O declínio da “Cidade dos Anões”: uma mudança demográfica em curso

Nos últimos anos, a população de anões em Itabaianinha tem apresentado um decréscimo significativo. Diversos fatores contribuem para essa mudança demográfica:

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  • Controle de natalidade: A maior informação e acesso a métodos contraceptivos influenciaram o tamanho das famílias.
  • Tratamento hormonal: A introdução e distribuição gratuita do hormônio do crescimento pelo médico Dr. Manuel Hermínio permitiu que muitas crianças e adolescentes com DIGH alcançassem uma estatura maior, deixando de se enquadrar na definição de anão. Valéria Santos da Fonseca, por exemplo, cresceu trinta e seis centímetros após o tratamento hormonal.
  • Envelhecimento da população: Uma parcela considerável da comunidade anã já se encontra em idade avançada, o que naturalmente leva a um aumento no número de óbitos.
  • Migração: A falta de oportunidades de emprego formal na cidade faz com que alguns anões optem por buscar melhores condições de vida em outros municípios. 

Com a diminuição do número de pessoas com nanismo, surge a preocupação de que Itabaianinha deixe de ser reconhecida como a “Cidade dos Anões”. Dessa forma, a cidade irá deixar de ser a ‘cidade dos anões’ e passará a ser uma cidade com anões, não mais se diferenciando das demais.

O Legado Duradouro da “Capital dos Anões”

A história de Itabaianinha permanece intrinsecamente ligada à de seus moradores com nanismo. Eles não apenas levaram o nome da cidade para o cenário nacional e internacional, mas também demonstraram resiliência, talento e uma busca constante por inclusão.

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Mesmo com a transformação demográfica em curso, os esforços para preservar a memória e reconhecer o legado dessa comunidade garantem que a história dos “pequenos grandes cidadãos” de Itabaianinha jamais seja esquecida.

O título de “Capital dos Anões” pode eventualmente se desvanecer, mas a rica história e a contribuição inestimável dessas pessoas para a identidade de Itabaianinha permanecerão como um marco indelével.

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