Aos 14 anos, Rosa Maria Miranda já acumulava um feito marcante. Através de um projeto em parceria com a International Astronomical Search Collaboration (IASC), da Nasa, ela descobriu sete possíveis asteroides. Agora, aos 18, dá palestras, já escreveu um livro, passou no vestibular duas vezes antes de terminar o Ensino Médio e acumula conquistas brilhantes.

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O interesse pela ciência e, em especial, pelo espaço, vem desde sempre. Muito incentivada pela mãe, a jovem natural de Florianópolis conta que foi na pandemia, durante a leitura de um livro de Física, que ela se interessou mais pelo tema. A partir disso descobriu que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) possui cursos de diferentes níveis em temas como astrofísica, astronomia e astronáutica, nos quais marcou presença nos anos seguintes.

Aos 13 anos, ela participou da Olimpíada Brasileira de Satélites (OBSAT), projeto que conheceu através de uma transmissão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A estudante conta que procurou colegas para integrar o grupo que faria parte da equipe, e juntos desenvolveram um nanosatélite programado para a preservação dos manguezais.

— A nossa ideia era lançar esse satélite com balão estratosférico para poder quantificar os níveis de gás carbônico e assim produzir um artigo científico — explica Rosa Maria.

Foram duas edições participando da OBSAT, além de participações em outras olimpíadas científicas. Nessa época, Rosa Maria conheceu o colega Kevin Xilai, que a convidou para participar do programa Caça Asteroides. A iniciativa da Nasa em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação possibilita a participação da sociedade na promoção da ciência.

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Foi através dele que a estudante do Colégio de Aplicação da UFSC identificou sete possíveis asteroides, dados como “provisórios” pela Nasa, que atua para confirmar a identificação dos corpos celestes. O primeiro deles foi identificado em julho de 2020.

Estudante identificou sete possíveis asteroides

No projeto de caça aos asteroides, os participantes recebem semanalmente imagens de um telescópio localizado no Havaí. A partir disso, é feita a análise dessas imagens com o uso de um software, também disponibilizado pela Nasa. Com a verificação de alguns dados, são catalogados os possíveis asteroides e um relatório é enviado, para depois ser analisado e a equipe receber a confirmação. 

—  Eu realmente me joguei nisso, era uma coisa que eu gostava muito, mesmo sem às vezes ver algum retorno — detalha.

Foram alguns meses de trabalho até a identificação do primeiro possível asteroide e, depois, outros meses sem nenhuma “descoberta”. Nada que tenha desmotivado a jovem apaixonada pelo espaço.

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Caso as descobertas de Rosa Maria sejam de fato identificadas como asteroides, ela poderá futuramente sugerir um nome para eles à União Astronômica.

Sonho de fazer um intercâmbio

A motivação para se envolver com tantos projetos vem do sonho de fazer um intercâmbio em Córdoba, na Argentina, onde fica localizado o Observatório Astronômico de Córdoba. Esse sonho ainda não foi realizado, mas a vontade de estudar fora do país e conhecer outras culturas foi o propulsor para o currículo de peso que Rosa Maria tem acumulado desde cedo.

Atualmente no terceiro ano do Ensino Médio, ela já passou duas vezes no vestibular da UFSC — uma em Física e outra em Engenharia de Materiais. Ainda, foi monitora ambiental na Ilha do Campeche, processo que disputou com pessoas de diversas idades e formações acadêmicas.

No início deste ano, ela participou de um curso de astronauta análoga promovido pela Agência Espacial Wogel. Depois disso, soube de um projeto da Agência Espacial do Japão, onde catalogou diversas galáxias. Ainda, foi reconhecida como jovem prodígio pela premiação International Star Kids Awards (ISKA).

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Livros contam histórias de mulheres cientistas

Já no Ensino Médico, Rosa Maria começou um projeto através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) ao lado da professora Gabriela Kaiana, do Departamento de Física da UFSC. Junto com a docente e de outras duas alunas do projeto Mulheres e Meninas na Ciência ela escreveu o livro “Meninas brilhantes: a história de Estrela”.

A proposta é desenvolver três livros, sendo este o primeiro deles, inspirados em mulheres cientistas. A primeira publicação se inspira em Jocelyn Bell, cientista que descobriu os primeiros pulsares — estrelas de nêutrons que emitem pulsos de radiação —  em 1967.

— A nossa ideia principal, além de visibilizar a história dessas trajetórias que muitas vezes são esquecidas, é incentivar novas meninas a ingressarem na ciência — explica.

Com foco no público infantojuvenil, a história conta como uma personagem chamada Estrela passa por um fenômeno muito comum na história de mulheres: o efeito Matilda. Esse processo, pelo qual Jocelyn Bell também passou, invisibiliza as conquistas obtidas por mulheres, e muitas vezes a atribuem a colegas homens.

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— Ali acontece algo que é surpreendentemente comum na trajetória de mulheres na ciência, que se chama Efeito Matilda. É o ato de um homem receber o reconhecimento de algo descoberto ou feito por uma mulher. Isso aconteceu com a Jocelyn. A descoberta dela deveria ter nomeado um Nobel a ela, mas foi nomeado um Nobel ao seu orientador, tendo a sua história invisibilizada — detalha Rosa Maria.

A primeira edição do livro já esgotou e a segunda foi lançada. Já o segundo livro está em fase de produção, e irá se inspirar na história de Cecília Payne, astrofísica que foi a primeira pessoa a identificar a composição do sol, descoberta que revolucionou a ciência. 

— No segundo livro, a gente trabalha o labirinto de cristal. São basicamente obstáculos invisíveis que estão na carreira de mulheres e que eles aparentemente não estão ali, mas fazem demorar muito mais para uma mulher chegar no ponto final do que um homem — conta.

O objetivo é lançar a segunda obra ainda neste ano, voltada para um público mais adulto, com a apresentação da história da personagem Cecília. O terceiro livro, que ainda será produzido, será inspirado na Vera Rubin, astrônoma que comprovou a existência da matéria escura.

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Jornada de desafios

Os desafios retratados nos livros também fazem parte da jornada de Rosa Maria. Ela conta que sente essas barreiras principalmente pela possibilidade de reconhecer esses espaços e essas situações. Além de ser mulher, diz que por geralmente ser a mais nova nos ambientes em que está inserida, também enfrenta a questão de ser subestimada pela idade.

— Eu sofri muito com etarismo também. Por incrível que pareça, e por mais irônico que pareça, porque eu sempre fui a mais novinha de todos os ambientes. E isso é uma coisa também muito natural de pessoas superdotadas, de se darem bem com pessoas muito mais velhas — afirma.

Em 2022, ela foi diagnosticada com altas habilidades e superdotação, diagnóstico que considera já “tardio”.  Por já ter vindo em um momento em que havia desenvolvido diversas potencialidades, já na adolescência, ela avalia que o laudo não teve um impacto tão grande. Porém, trouxe um alívio.

— Vou confessar que foi um abraço no meu coração, no sentido de “calma, tá tudo bem, você só é diferente”. Eu sempre fui a pessoa diferente que faz muita coisa, acho que a frase que eu mais ouvi durante o meu ensino fundamental e médio era: “você tem que parar de fazer tanta coisa”. E aí eu descobri isso com esse laudo, sabe? Que é uma coisa natural minha e realmente eu sou uma pessoa muito curiosa e muito ambiciosa — explica a estudante.

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Ela também explica que concilia todos esses projetos e atividades com a rotina “comum” de uma adolescente, que já demanda tempo, e também precisa de momentos de lazer e descanso. A estudante afirma que aprendeu sobre prioridades, mas também sobre a importância do chamado “ócio criativo”.

— Para eu estar escrevendo um livro, eu estou deixando de estar com os meus amigos, com a minha família, estudando para alguma outra coisa. Então são sobre prioridades. Agora, é muito importante saber dosar tudo isso — diz.

Planos futuros

Para o futuro, os sonhos continuam grandes. A ideia é seguir na área de comunicação científica e, para isso, fazer duas formações de graduação. Uma delas na área de Astrofísica ou algo relacionado à tecnologia, e também um curso na área de Comunicação. No momento, ela também busca formas de custear esses planos.

— Eu sempre batalhei muito para poder fazer tudo isso que eu fiz. E agora tá cada vez ficando um pouco mais avançado todo esse processo — detalha Rosa Maria.

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Ela afirma que teve a vida transformada pela ciência e pela comunicação. Com as palestras, viu crianças que também ficaram fascinadas pelo assunto, o que a deixou ainda mais empolgada para desenvolver as habilidades nesse campo.

O grande objetivo é que esse movimento seja levado a um nível global, motivado pela democratização do acesso à educação e à ciência. Para isso, pretende ampliar os estudos, mergulhar cada vez mais no espaço e, assim, mudar o mundo.

— Eu tenho muita vontade de mudar o mundo, de conhecer o mundo inteiro e de realmente impactar a vida das pessoas. E eu acho que a educação é o meio para tudo isso — finaliza.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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