Passado o primeiro mês desde que começaram as confirmações de casos do novo coronavírus (covid-19), Santa Catarina encara agora com apreensão o avanço da doença para prospectar a retomada das atividades. Desde 12 de março, quando os dois primeiros pacientes foram diagnosticados, o Estado registra 826 casos confirmados e 26 mortes. O NSC Total registra diariamente a evolução dos casos no Brasil e em Santa Catarina no Painel do Coronavírus.
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Os números indicam que a doença tem avançado pelo Litoral rumo ao interior do Estado. Praticamente toda a faixa costeira de Santa Catarina já apresenta pelo menos um caso confirmado de coronavírus. Na última semana março, os casos começaram a se espalhar para cidades menores do interior de SC, principalmente no Oeste, Meio-Oeste e Planalto Norte.
Os municípios menores, com mais casos por 10 mil habitantes, são os que mais preocupam, porque não contam com grande infraestrutura de saúde pública para casos mais graves. A disponibilidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) também merece acompanhamento, porque a cada dia cresce o número de pacientes internados por complicações causadas pelo coronavírus.
Com um mês, já é possível visualizar também o perfil dos pacientes diagnosticados e as mortes. Esses dados são importantes para entender o comportamento da doença diante das características da população de Santa Catarina. Confira nos gráficos a seguir detalhes da situação de Santa Catarina neste primeiro mês de surto (os gráficos se atualizam automaticamente, conforme novos dados são divulgados pelo Estado).
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Avanço da doença pelo Litoral e núcleo isolado no Oeste
As primeiras cidades a registrarem casos da doença foram Florianópolis, Joinville e Braço do Norte, que se localizam na faixa próxima à costa catarinense. Até 19 de março, apenas municípios localizados nessa faixa geográfica tinham confirmado casos de coronavírus.
Assista no vídeo abaixo animação que mostra o avanço dos casos no mapa:
No dia seguinte, Chapecó, e no dia 22 de março, Lages, foram os primeiros municípios localizados mais ao interior de Santa Catarina a registrarem pacientes com o covid-19. Até esta segunda-feira chega a 84 o número de municípios afetados. E todas as regiões do Estado são impactadas.
O Sul de Santa Catarina, a Grande Florianópolis, o Vale do Itajaí e o Planalto continuam a ser as regiões mais afetadas.
Conforme análise do geógrafo Eduardo Augusto Werneck Ribeiro, professor do Instituto Federal Catarinense, que participa de uma rede nacional de estudos da doença no espaço geográfico brasileiro, o contágio no Litoral de Santa Catarina se explica pela concentração urbana e pelo fluxo intenso de pessoas em trânsito pelas cidades.
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Mas reforça que a tendência é o contágio no Oeste se expandir de forma independente da velocidade que apresenta no Litoral.
Cidades mais afetadas por 10 mil habitantes: menores preocupam mais
Mas é natural que as cidades maiores apresentem mais casos no total, pela alta concentração urbana. Ex-coordenador do curso de Medicina da UFSC, o professor do Departamento de Pediatria da universidade e especialista em epidemiologia, Carlos Eduardo Andrade Pinheiro, reforça a importância de prestar a atenção na incidência de casos proporcionais ao tamanho da população de cada município, e não apenas o total por cidade, pois dificulta a observação das políticas públicas para controle da doença.
"É óbvio que, quase sempre, o esperado é um maior número nos lugares de maior população. Apresentar somente o número de casos falseia e cria um viés para analisar qualquer impacto na intervenção", explica o professor.
Aí que entra a necessidade de avaliar o total de doentes para cada 10 mil habitantes, por exemplo. Nessa conta, municípios com menos de 10 pacientes já chamam a atenção, caso o contágio não seja contido. É o caso de Antônio Carlos, na Grande Florianópolis, onde há incidência de 12,92 casos para cada 10 mil habitantes. Logo atrás vêm Santa Rosa de Lima, com 9,34 casos por 10 mil, Gravatal (7,83), Braço do Norte (7,47) e Rancho Queimado (6,95), todos no Sul do Estado.
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A média do Estado é de 1,15 caso para cada 10 mil moradores. São 38 municípios que apresentam índice superior à média do Estado, entre eles municípios populosos, como Balneário Camboriú (4,01 casos por 10 mil moradores), Florianópolis (3,97), Tubarão (2,93), Blumenau (1,9), Itajaí (1,69) e Brusque (1,26).
Mas a concentração geográfica de municípios com maiores índices ainda fica entre a Grande Florianópolis e o Sul do Estado, como mostra o mapa abaixo.
O professor do IFC Eduardo Werneck Ribeiro reforça a preocupação com a expansão dos casos em municípios menores, especialmente os que apresentam população predominantemente rural, porque podem sofrer com a chegada do atendimento de emergância e ficam distantes dos centros de referência em saúde. O especialista reforça a atenção no Oeste, onde começa gradativamente a aparecer casos nos municípios com população abaixo de 20 mil habitantes.
"Com sinais de flexibilização da quarentena, Chapecó terá um papel fundamental para evitar o pior no oeste. Diferentemente das demais áreas de concentração urbana, Chapecó é vizinha da área que mais concentra municípios com as características anteriormente descritas (população predominantemente rural). Tendo em vista que a produção agropecuária é forte na região, acumulando com o perfil etário, deslumbra-se um perigoso cenário" analisa Ribeiro.
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Segundo o especialista, essa dinâmica é parecida com a que já se observa no interior de São Paulo.
Estado ficou boa parte do tempo acima da média nacional em casos proporcionais
Quando comparado a outros Estados, Santa Catarina chegou a ficar à frente da média brasileira em número de casos por milhão de habitantes ainda em 21 de março. Desde 1º de abril, os dados nacionais cresceram e o Estado ficou num patamar abaixo da média brasileira.
Mas no último dia 10, Santa Catarina deu novo salto e permanece à frente do índice nacional. No dado mais recente, desta segunda-feira, 13, o Estado apresentava um índice de 108,45 casos para cada 1 milhão de habitantes, enquanto o Brasil tinha índice de 111,49, passando por pouco novamente o Estado.
É o maior índice entre os Estados da Região Sul e o nono do país atualmente. Em 20 de março, Santa Catarina chegou a ter o quarto maior índice de casos por milhão, atrás somente de Ceará, São Paulo e Distrito Federal.
Já no índice de mortes para cada um milhão de habitantes, Santa Catarina fica em 14º no país, ao contabilizar 26 pessoas que já morreram pelo coronavírus. Com um índice de 3,62 óbitos por milhão de pessoas, está bem abaixo da média nacional, que é de 6,31 mortes por milhão. No entanto, o índice é superior à média da Região Sul.
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Perfil das vítimas
As mortes por coronavírus acometeram principalmente mulheres, na faixa dos 60 a 69 anos. Foram quatro casos nessa faixa etária. Entre os homens, no entanto, o grupo de idade mais afetado é diverso: três casos entre 80 e 89 anos, três entre 70 a 79 e três na faixa dos 30 aos 39 anos.
Dias com mais mortes
Em apenas cinco dias de abril ocorreram 42% das mortes. Foram três óbitos no dia 2, outros três no dia 4, dois no dia 5 e mais três no dia 6. Desde o dia 6 de abril, o Estado tem registrado pelo menos uma morte por dia provocada por complicações causadas pelo coronavírus. Mas o pico foi registrado no último sábado, quando ocorreram quatro mortes no Estado.
Cidades afetadas por mortes
Três cidades são as mais afetadas por mortes: Criciúma, com quatro mortes, Florianópolis e Antônio Carlos, com três óbitos cada uma. Mas se dividir por região, o Sul do Estado apresenta o maior índice de fatalidades. São 11 casos distribuídos entre Criciúma, Tubarão, São Ludgero, Pedras Grandes, Balneário Gaivota, Sombrio e Urussanga.
Perfil dos pacientes com coronavírus
Entre os casos confirmados da doença que estão em tratamento em casa ou internados, a faixa etária entre 30 e 59 anos é a preponderante. Mas o pico dos casos se concentra em adultos com 30 a 39 anos. Tem sido assim desde o final de março. No começo do surto, no entanto, impactava principalmente pessoas com mais de 50 anos.
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As mulheres são a maioria entre os pacientes de Santa Catarina. Em média 55% dos infectados são do sexo feminino.
Internados em UTI: em torno de 10% do total de casos confirmados
O total de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nas redes pública e privada tem crescido à medida que o total de casos confirmados de coronavírus aumenta. Embora o Estado não tenha divulgado esse número diariamente desde o início do surto, sobre os dados disponíveis é possível observar que a taxa média tem oscilado em abril entre 8% e 12% de internados em terapia intensiva sobre o total acumulado de casos confirmados no dia.
Conforme o dado mais recente, divulgado nesta segunda-feira, havia 105 diagnosticados com coronavírus internados em UTIs públicas ou privadas de Santa Catarina. Como aparentemente a fatia de internados tem crescido no mesmo ritmo dos diagnósticos, o desafio é garantir leitos de UTI vagos à medida em que o total de casos cresce no Estado.
A reportagem solicitou ao governo do Estado qual é a taxa geral de ocupação dos leitos de UTI em Santa Catarina na rede pública e privada tanto para pacientes de coronavírus quanto para doentes internados por outras enfermidades, como problemas do coração, acidente vascular cerebral e acidentes.
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Nem todos os dados foram disponibilizados. Mas, segundo o governo, dos hospitais geridos pelos Estado (Tereza Ramos, Nereu Ramos, Instituto de Cardiologia, Waldomiro Colautti, Hans Dietter, Hospital Florianópolis, Regional de São José e Hospital Governador Celso Ramos) havia até sexta-feira, 10, uma taxa de ocupação de 82% dos leitos de UTI para outras doenças. Além disso, havia 118 casos de pacientes suspeitos ou confirmados de coronavírus, dos quais 61 eram os confirmados. O Estado conta com 1045 leitos de UTI adulto, neonatal e pediátrico.

e no Brasil no Painel do Coronavírus