As imagens são impactantes, assustam e ganharam o mundo nas últimas semanas. Dezenas de caixões de um lado, homens e máquinas pesadas trabalhando em outro para abrir covas em um dos cemitérios de Manaus. Elas surgem como resultado de uma triste equação: infraestrutura insuficiente e falta de conscientização de parte da população.

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Assim, em poucos dias, o sistema de saúde amazonense entrou em colapso e muitas pessoas passaram a perder a luta contra a pandemia do coronavírus. Um caso extremo que pode servir de alerta aos catarinenses.

Esse cenário é confirmado por quem vive na capital manauara. Há seis anos em Manaus, a jornalista catarinense Franciele Cardoso conta que o sistema de saúde da região já vinha passando por problemas há alguns anos, sendo foco de investigações e operações da polícia. Natural de Blumenau, Franciele atuou até pouco tempo como repórter em uma emissora de TV local, e cobriu de perto a situação.

– A estrutura é muito precária e está colapsada. Sinto que os governantes não se prepararam e muitas pessoas não estavam preocupadas com a pandemia. Muita gente está tomando os cuidados e fazendo o isolamento social, mas muita gente não está nem aí – conta Franciele.

De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas no último dia 23, dos 668 leitos disponíveis para atendimento de pacientes com Covid-19 na rede de saúde, 90,5% estavam ocupados. Entre os 222 leitos de UTI, a taxa de ocupação era de 96%, enquanto dos 446 leitos clínicos, 85% deles estavam ocupados, conforme reportagem do portal G1 do Amazonas.

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Mãe de uma bebê com seis meses, Franciele tem cumprido o isolamento social e diz conviver com o medo, pela falta de perspectiva.

O pior sentimento é não ter nenhuma previsão, nenhuma expectativa Franciele Cardoso, jornalista
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(Foto: Michel Dantas, AFP)

Pés em Florianópolis e coração em Manaus

A manauara Daiane Lemos, 31 anos, veio para Florianópolis em busca de melhores condições de vida. Desde janeiro, quando chegou, as expectativas sobre o novo endereço correspondiam e a vida corria com sossego: emprego, creche para o filho de quatro anos e casa boa para morar. Mas a tragédia que o coronavírus provoca em Manaus tirou a paz da consultora comercial.

– Minha família está toda lá e mora na zona leste, a área da cidade mais atingida. Das quatro pessoas conhecidas que soube estarem infectadas, duas já morreram – conta.

Para Daiane, o grande número de pessoas contaminadas na cidade natal (pouco mais de 2,7 mil até o fechamento desta edição) tem a ver com vários fatores, inclusive, de moradia:

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– Lá é bem diferente daqui: uma família não mora sozinha numa casa, moram duas três e isso faz com que às vezes tenham 15 pessoas dentro de espaço muito pequena – explica.

Tem outro ponto que ela considera ter sido responsável:

– Conheço gente de Manaus que faz quarentena, mas nos bairros mais populosos e de baixa renda a situação é bem complicada – diz ela.

Para se manter informada, Daiane fala diariamente pelo WhattsApp com a família. A expectativa é sempre um motivo de tensão. Sente-se com os pés em Florianópolis, mas com o coração em Manaus.

As cenas dos enterros em trincheiras são bem tristes. A gente pede que diante disso as pessoas se conscientizem Daiane Lemos, consultora comercial

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