Ainda no final do século 19, Joinville já observava o início do comércio associado ao sepultamento. Isso é o que apontam os itens restaurados por um projeto da cidade, que recolheu cruzes, lápides e gradis ao longo das duas últimas décadas no Cemitério do Imigrante. A iniciativa da Cultura Alemã Joinville reuniu um acervo de itens centenários que poderão ser recolocados em seus lugares originais.
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Durante o processo de conservação e monitoramento, foram encontrados centenas de artefatos ornamentais, gradis, cruzes, lápides de cerâmica, ferro esmaltado e em porcelana, entre outros objetos danificados pela ação do tempo ou vandalismo. O principal objetivo do projeto é trazer reconhecimento ao acervo que se perdeu com o tempo.
Veja fotos dos itens
Segundo Dolores Carolina Tomaselli, historiadora e diretora executiva da entidade e uma das coordenadoras do projeto, a recuperação das peças permitiu observar o “comércio do sepultamento” de Joinville, ainda em séculos passados.
— Da mesma forma que havia a produção dos caixões, também havia cruzes já prontas e, quando necessário, se colocava a inscrição — explica.
Com o passar do tempo, a indústria evoluiu para a produção de lápides de porcelana e, finalmente, as de ferro esmaltado com a foto do falecido estampada.
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Itens são do Cemitério do Imigrante
O Cemitério do Imigrante é um dos raros exemplos de “campo santo” do século 19 ainda preservado no Brasil e que remetem ao período de colonização europeia no país, segundo historiadores do projeto de restauração das peças.
O espaço foi o segundo local escolhido pelos primeiros imigrantes da Colônia Dona Francisca para sepultamentos. O primeiro foi instalado, em 1851, na Rua do Porto, hoje Rua 9 de Março. Mas o local era vulnerável a inundações.
Em 1857, foi construída ao lado a casa do coveiro, hoje a “Casa da Memória do Imigrante”, para abrigar o coveiro e sua família. É uma das mais antigas construções de Joinville.
O antigo cemitério foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1962, como patrimônio histórico e paisagístico brasileiro.
Pesquisas revelaram história dos objetos e, claro, também de Joinville
Conforme explicam estudiosas do projeto, especificamente as cruzes restauradas são de túmulos de famílias recorrentes na história de Joinville, como Trinks, Colin Delitsch e Lepper, por exemplo.
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De acordo com Gessonia Leite de Andrade Carrasco, mestre em arquitetura e urbanismo e especialista em conservação de obras sobre papel, alguns desses artefatos foram importados da Alemanha.
Já em outro período eram fabricados em Joinville. Durante pesquisas, foi possível constatar que algumas das peças foram confeccionadas na Metalúrgica Otto Bennack, empresa instalada em 1893 e que no final da década de 1930 deu origem à Fundição Tupy.
Ainda, os gradis, elementos que cercam os túmulos, são na sua maioria de ferro forjado, um trabalho mais artístico. Para Gessonia, a riqueza desse material está na diversidade de formas, ora retas, ora orgânicas.
Quanto às lápides, a restauradora aponta o emprego comum de pedras como arenito, mármore, granito e basalto; as cerâmicas (terracota) ou, ainda, porcelanas pintadas à mão. Mas são os arenitos que prevalecem, tanto o rosa quanto o cinza. Parte desses elementos era importada e outros fabricados tanto em Joinville quanto no Rio Grande do Sul, quando se estabeleceram imigrantes artesãos.
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Sobre o acervo
O acervo estava provisoriamente armazenado em um espaço na Casa da Memória. Após 20 anos de trabalho, o projeto “Instalação de reserva técnica para o acervo do Cemitério do Imigrante junto à Casa da Memória” viabilizou a limpeza, higienização e catalogação do material, assim como a aquisição de um arquivo deslizante específico, que proporciona o armazenamento dos itens de forma segura.
— Tratam-se de itens de especial valor histórico e cultural, que depois de restaurados poderão ser colocados em seus sítios originais ou compor o acervo histórico do município — explica a historiadora e especialista em acervos Dolores Carolina Tomaselli, diretora executiva da entidade e uma das coordenadoras do projeto.
A proposta é da Cultura Alemã Joinville e foi viabilizada pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura (Simdec – edição 2023), na modalidade de Ações Culturais Voltadas à Memória, Patrimônio Material e Imaterial da Prefeitura de Joinville, executada por intermédio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult).
A instalação da reserva técnica proposta pela Cultura Alemã Joinville caminha em paralelo com outro projeto, o de restauração do Cemitério do Imigrante, assinado pela Associação Observatório do Patrimônio Histórico-Cultural (O.Pah) e viabilizado pela Fundação Catarinense de Cultura por meio do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultural (edição 2024), na categoria Patrimônio e Paisagem Cultural.
*Sob supervisão de Leandro Ferreira




