Entender o rótulos dos vinhos nem sempre é uma tarefa fácil, porque dependendo do país, região de produção e da vinícola, ele pode conter muitas ou poucas informações, que nem sempre são fáceis de compreender, para termos segurança se este é o vinho que desejo comprar naquele momento, se vale o preço cobrado, se é adequado à harmonização que desejo ter, ou a ocasião que se destina o consumo. Certamente você já ouviu que não devemos julgar o livro pela capa, nem as pessoas por sua aparência física, mas quando o assunto é vinho, a conversa é um pouco diferente!

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O rótulo do vinho pode ser considerado sua cédula de identidade. É ferramenta para informar aos consumidores “quem é” o vinho que está na garrafa. Contendo informações como: denominação de origem, safra, teor alcoólico, país de origem,, produtor, e volume. também encontramos informações que nem sempre estão presentes como: variedade da uva, região e outras características específicas.

O rótulo dos vinhos possui uma história muito mais longa e interessante do que geralmente imaginamos que acompanha o início da produção de vinhos. surgiu da necessidade prática da identificação e foi evoluindo ao longo do tempo, incluindo identidade cultural, controle de qualidade e elementos de marketing desde tempos remotos.

Os primeiros registros do que podemos considerar rótulo, remonta aos antigos egípcios, que no local de fechamento das ânforas gravavam dados relativos ao conteúdo, como ano de produção, procedência, ano da colheita e nome do produtor. As numerosas ânforas encontradas no túmulo de Tutancâmon, que morreu em 1323 a.C, testemunharam este tipo de rotulagem. Na Roma antiga e na Grécia, continuaram a tradição de inscrever informações nas ânforas. Onde eram gravadas o nome do vinho, número de ânforas produzidas com este tipo específico de uva. Os romanos usavam também símbolos para indicar inclusive a qualidade e a origem dos vinhos. Dos anos 476 a 1.492 d.C ( Idade Média), os mosteiros na França passaram a marcar os barris com símbolos, brasões ou inscrições manuscritas. 

Estes métodos de gravação foram usados até por volta de 1600, quando começaram a ser utilizadas as garrafas de vidro que eram hermeticamente fechadas com rolhas de cortiça.  O mais antigo rótulo que se tem notícia foi escrito pelo monge beneditino Dom Pierre Pérignon, que para não confundir as safras e os vinhedos de origem, rotulou as garrafas com um pergaminho amarrado ao gargalo da garrafa com um barbante. Os Séculos XVIII e XIX com o avanço da impressão gráfica e da produção em massa de papel, deram início ao surgimento do que hoje conhecemos como rótulo, já colados nas garrafas. No final do Século XIX, com a crescente exportação de vinhos, os rótulos se tornaram mais sofisticados, incluindo brasões das famílias, medalhas de premiações e detalhes artísticos, se tornando ferramentas importantes de diferenciação e branding, refletindo o estilo do vinho, história da vinícola, público-alvo (luxo, casual, jovem, tradicional etc). No Século XX com regulamentações mais rígidas, especialmente na Europa, os rótulos passaram a incluir informações legais como: Teor alcoólico, volume, Denominação de Origem Controlada (DOC/DOCG/AOC/DOP, etc.), ingredientes e advertências. Nos dias atuais com a digitalização, muitos rótulos de vinhos incluem QR codes, realidade aumentada e até designs personalizados por IA, buscando engajamento do consumidor, pois facilitam o acesso às informações sobre o vinho.

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Mesmo com todas estas facilidades, o mundo do vinho é realmente repleto de nuances que podem dificultar a escolha para quem está começando a explorar este fabuloso e infinito universo. Mas com interesse e prática iremos decifrar os termos e as informações contidas nos rótulos, que é sua cédula de identidade, e deve conter todas as informações do que vamos encontrar na garrafa. Primeiro, é importante perceber que os vinhos do Novo Mundo destacam o nome do vinho e o tipo da uva, enquanto os do Velho Mundo evidenciam o produtor e a região em que as uvas foram cultivadas. O rótulo deve conter obrigatoriamente: Nome do vinho, produtor, região, tipo de uva, teor alcoólico, volume e informações sobre alergênicos. Especificamente no Brasil deve trazer a classe da bebida; Vinho Fino (produzidos com vitis vinifera) ou Vinho de Mesa (produzido com Vitis Americana ou seja, uvas de mesa não viníferas). Lembrando que, quando um vinho é produzido com apenas um tipo de uva, é um Varietal. Quando for uma mescla de castas, é um Blend ou Assemblage. 

Nome do vinho: É o que costuma vir em destaque no rótulo, com fonte maior. É comum que a mesma vinícola produza diversos tipos de vinhos, o nome irá diferenciar um produto do outro.  

Produtor: Pelo nome do produtor, muitas vezes já é possível ter uma boa noção sobre a qualidade do vinho, uma vez que muitos deles já possuem reconhecimento no mercado de vinhos, trazendo segurança, e facilitando a escolha.

País e Região: Pelo país de origem e região é possível saber as características dos vinhos, pois revela detalhes importantes sobre o terroir, que imprimirá características específicas e únicas daquele lugar no vinho ali produzido.

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Tipo: A classificação do vinho como: Branco, Rosé, Tinto, Espumante, Frisante, etc. Deve estar claramente identificado no rótulo.

Teor de açúcar: Seco, Demi-Sec ou Doce. Nos espumantes a classificação é: Nature, Extra-Brut, Brut, Demi-Sec e Moscatel, indicando a quantidade de açúcar (da própria uva) que o vinho contém. 

Método de Elaboração: Informação importante para os espumantes, que podem ser produzidos pelos métodos: Champenoise ou Tradicional, Charmat, Transferência, Asti ou Ancestral. 

Safra: Refere-se ao ano em que as uvas foram colhidas, nos fornecendo a idade do vinho. Esta informação é extremamente importante para vinhos, principalmente os de entrada, pois sendo simples, não possuem potencial de guarda, devendo ser consumidos ainda jovens. Cabe lembrar que alguns vinhos são elaborados com o mesmo tipo de uva, mas de diversas safras.

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Maturação: Alguns rótulos trazem a palavra Reserva ou Gran Reserva, que significa  que o vinho passou por processos de produção, que normalmente inclui estágios em barricas de carvalho, que irão agregar complexidade aromática e gustativa no vinho, e também valor monetário. Obs: o termo Reservado não significa o mesmo que Reserva, é na verdade uma forma de confundir o comprador que não conhece a nomenclatura.  

Variedade da uva: Diz respeito a Casca utilizada na elaboração do vinho. Nem sempre esta informação aparece no rótulo, principalmente nos vinhos do Velho Mundo.

Teor Alcoólico: Expressa a quantidade de álcool em volume(%) que é um fator importante para a experiência sensorial de consumo. É importante frisar que o percentual de álcool não está ligado à qualidade do vinho. No Brasil, um vinho fino (elaborado apenas com uvas Vitis vinífera) deve conter teor alcoólico entre 7% e 14% em volume.

Denominação de Origem: Significa que o vinho foi produzido em uma área geográfica, seguindo regras e padrões rigorosos de produção e de qualidade estabelecidos, e com características daquele terroir, e práticas de vinificação específicas. Esta certificação não apenas valoriza os produtores que devem seguir regras e padroes, mas também protege os consumidores, garantindo a autenticidade e qualidade do vinho.

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Como vemos, saber ler e decifrar os rótulos dos vinhos é essencial para que tenhamos uma experiência de degustação superior e especial. Porém a verdadeira degustação vai além dos rótulos. Sabemos que o mundo do vinho é diverso, profundo, quase infinito e difícil de ser desvendado em sua plenitude. Talvez por não ser óbvio, é necessário conhecer, respeitar e valorizar sua amplitude e profundidade para que ele se deixe desvendar e mostrar-se por inteiro!

Saúde!

Néa Silveira

@neasommelier