Um grupo formado por 50 pessoas representantes de diferentes organizações catarinenses com atuação na área da educação, direito, infância e antirracismo se reuniu na sexta-feira (25) para buscar saídas frente às diferentes violências, inclusive raciais, contra crianças e adolescentes na escola. O coletivo foi motivado pela mais recente denúncia, o caso de uma mãe que registrou Boletim de Ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia, em Florianópolis, e buscou ajuda do Núcleo de Atendimento às Vítimas (Navit) do Ministério Público de Santa Catarina a partir do ocorrido com a filha de 10 anos.
Continua depois da publicidade
Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp
— Essa criança sofreu racismo institucional, verbal e abuso de poder. Podemos falar em violência mental e intelectual e abuso de vulnerável — defende a professora, pesquisadora e biógrafa de Antonieta de Barros, Jeruse Romão.
Entre os encaminhamentos sugeridos, está o afastamento da professora e do diretor escola.
A menina teria sido chamada de macaca pela professora e sofrido bullying pela própria e colegas, sem que os educadores a defendessem dos maus-tratos físicos e psicológicos.
O que dizem a escola e a Secretaria de Educação
A direção da escola não respondeu à reportagem. Na Secretaria de Estado da Educação, o caso é tratado pelo Núcleo de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às Violências (NEPRE). Em nota oficial, o Núcleo admite ter tido conhecimento da situação, mas diz que de acordo com “os registros da escola não houve evidências de possível situação de racismo”.
Continua depois da publicidade
Questionado sobre o que seriam “as evidências”, o Núcleo respondeu que foram feitas atas da denúncia e todas as testemunhas negaram as acusações. Diz, ainda, estar no aguardo dos pais para conversar, já que teriam faltado a um primeiro encontro.
Policial militar é investigado após denúncia de racismo e agressão contra aluno em escola de SC
O que diz a família
A reportagem conversou com a mãe da menina, que disse que o caso se arrasta há seis meses. A criança nasceu com um problema físico (diferença no tamanho das pernas), o que gerou piadas dos alunos como pela professora, que a imitam mancando.
A mãe afirma que machucados nos joelhos da criança são consequência das quedas devido aos empurrões dos colegas.
— Nossa filha é carinhosa e quis dar um abraço nela (professora), mas ela a empurrou e disse: “Sai para lá, macaca”. Outra vez, chamou a menina de burra — conta a mãe.
Foi diante do comportamento arredio da filha que os pais perceberam que havia algo errado: ela chorava para ir ao colégio e o rendimento caiu. Os pais foram até a escola, onde estuda outro filho, e dizem não terem sido acolhidos pelo diretor.
— Minha filha ainda foi chamada de mentirosa pela professora, na frente dos colegas. O diretor nos deu um corridão, como se a gente tivesse feito algo errado. Como ninguém nos ouvia, decidimos procurar a polícia — diz a mãe.
Continua depois da publicidade
Desde 1º de outubro, quando ocorreu a discussão entre pais e educadores e feito o registro do BO, as duas crianças estão sem frequentar a escola. A família vive em situação de vulnerabilidade, e a mãe tem epilepsia e dificuldades para andar sozinha na rua, pois sofre com convulsões. Ainda assim, explica, foi buscar ajuda no Conselho Tutelar da comunidade, mas até às 16h de sexta-feira (25) não havia sido procurada pelo conselho, conforme prometido.
Neste ano, pelo menos sete casos de racismo chegaram ao conhecimento da Associação dos Educadores Negros de Santa Catarina, em Florianópolis.
Leia também
Universitário acusa professora de racismo em Joinville: “Chamou de ladrão”