Há 20 anos uma tragédia marcou a cidade de Içara, no Sul de Santa Catarina. No dia 10 de agosto de 2005, um prédio dos Correios colapsou e desabou no Centro do município, causando quatro mortes e ao menos 10 feridos. De acordo com levantamentos e investigações, a tragédia foi ocasionada por uma combinação de fatores causados por falhas estruturais e infiltrações causadas pelas chuvas. 

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A tragédia teve início com o desabamento de um pilar da garagem subterrânea. Segundo os bombeiros, essa pilastra cedeu, fazendo com que os três pavimentos superiores desabassem sobre o primeiro andar e o térreo, onde funcionava a agência dos Correios.  

Funcionários que trabalhavam no local relataram às guarnições a presença de rachaduras no prédio, que aliadas a um temporal que atingia a região, resultaram em infiltrações que comprometeram a estrutura. Embora o evento meteorológico não tenha sido a única causa, o tenente-coronel Valter Cimolin e os bombeiros afirmaram que tais infiltrações agravaram o problema, que levou ao colapso e queda da estrutura. 

Aproximadamente 80 bombeiros participaram da operação de resgate. Eles utilizaram macacos hidráulicos para levantar os entulhos. Foram três dias de trabalho até a retirada do último corpo do local.

Veja fotos da queda do prédio em 2005

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As vítimas e os sobreviventes da tragédia

Tudo aconteceu por volta das 9h do dia 10 de agosto de 2005, momento em que 14 pessoas estavam no local. Eram cinco clientes e nove funcionários. As quatro vítimas fatais do ocorrido foram o gerente Mário de Ávila, de 49 anos, as clientes Nádia e Pedra Borges, de 39 e 57 anos, além de Nivaldo Fernandes, de 41 anos. 

Um dos sobreviventes da ocorrência foi Odilon Teixeira, que estava no momento da queda e foi atingido. O irmão Emerson Teixeira contou como foi a tensão de receber a notícia sem saber qual o estado de saúde do familiar, que trabalhava no local. 

— No dia, uma terça-feira chuvosa, a minha cunhada me ligou às 9h30 me informando que havia caído o Correios de Içara e tinha mortes. Mas não sabia quem ou quantas pessoas. Cheguei lá e vi o prédio tombado para o lado direito. Por isso tivemos sobreviventes, porque se houvesse implodido, não teríamos pessoas salvas — relata Emerson. 

Por volta das 10h30 da manhã Emerson estava no local e foi acionado por um bombeiro, que informou que Odilon estava vivo, auxiliando nos trabalhos de salvamento. Ele sofreu ferimentos graves nas mãos, tendo três dedos da mão esquerda amputados. Odilon é carteiro há 40 anos e trabalha em Içara desde 1993, seguindo na ativa até os dias atuais.

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Material de baixa qualidade causou a queda

O prédio de quatro andares localizado na rua Altamiro Guimarães, no Centro da cidade, era ponto de grande rotatividade de funcionários e clientes que buscavam encomendas diariamente. O imóvel foi erguido em setembro de 1999. O local de construção, de acordo com o município, era um terreno propício. 

Conforme relatórios periciais e decisões do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de SC (CREA-SC), o prédio foi construído com material de qualidade inferior. Os relatórios ainda apontaram para possíveis falhas no projeto e na execução da obra. 

Dessa forma, a substância inadequada e a execução irregular teriam sido determinantes para a instabilidade estrutural do edifício. O proprietário do imóvel, o engenheiro responsável e o empreiteiro da obra foram indiciados por homicídio culposo — quando não há intenção de matar — pela Polícia Civil. 

O engenheiro responsável pelo projeto foi condenado a dois anos e oito meses de detenção, com a pena substituída por serviços comunitários, além de pagamento de indenizações às vítimas e seus familiares. O CREA-SC ainda aplicou censura pública ao engenheiro civil responsável, com base em irregularidades identificadas no laudo pericial, apontando falha ética e técnica profissional. 

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Em fevereiro de 2013, foi divulgada uma ação do Ministério Público, absolvendo o empreiteiro da obra e o dono do prédio. Ainda naquele mês, algumas vítimas protestaram pedindo agilidade no processo.

Em 2015, em sentença, foi definido o pagamento de 50 salários mínimos em benefício a duas vítimas que sofreram lesões corporais, uma delas sendo Odilon Teixeira, além de 300 salários mínimos que seriam para os descendentes das quatro pessoas que morreram na ocorrência. No entanto, a Segunda Câmara do Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, reduziu a sentença para o pagamento de apenas um salário mínimo.

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